SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou à reportagem que as polícias trabalham com três hipóteses -engano, vingança e crime político- para o assassinato de três médicos na madrugada desta quinta-feira (5) em quiosque de praia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Questionado sobre a hipótese de engano, o ministro confirmou que esta é uma das linhas da apuração: “É uma linha. Eu estou aqui [na Bahia] a tarde toda, não estou atualizado, mas de manhã foram estabelecidas três linhas de investigação. Uma delas era esta”, afirmou o ministro no início da noite desta quinta.
Ele afirmou ainda que a segunda linha de investigação é de crime político, já que uma das vítimas do crime, o médico Diego Bomfim, era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL), que é casada com o também deputado federal Glauber Braga, do mesmo partido.
A terceira linha de investigação, disse o ministro, seria relacionada a vingança: “Seria alguma coisa que ninguém sabe relacionada com milícia, com tráfico, alguma coisa assim porque claramente é uma execução”, disse o ministro, destacando que a hipótese de crime patrimonial foi afastada,
“Aí poderia ser alguma coisa tipo vingança, por algum motivo que você investiga; a questão política, que no Rio sempre é muito acesa; e essa questão de que tinha sido uma infelicidade porque um deles supostamente perece com um [miliciano].”
Mais cedo, em entrevista à imprensa, o ministro afirmou que o fato de uma das vítimas ter relação com dois deputados federais justifica a presença na Polícia Federal na apuração.
Ele disse ter conversado com as equipes que estão atuando na investigação no Rio de Janeiro e que “há indicações que já podem conduzir para a configuração da materialidade da autoria do delito”.
A Polícia Federal está colaborando na investigação do caso com ações de inteligência e que vai atuar em parceria com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, responsável pelo inquérito.
EXECUÇÃO
Investigadores ouvidos pela reportagem afirmam que a Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga se os três médicos mortos a tiros teriam sido executados. Um quarto médico ficou ferido.
Os policiais dizem que a hipótese de execução ganhou força pois é possível ver nas imagens de câmeras de segurança que os criminosos que desceram de um veículo atirando voltam até o quiosque para realizar mais disparos.
Segundo a polícia, foram recolhidos 33 estojos de pistola 9 mm no local do crime, um quiosque em frente ao Windsor Hotel, na avenida Lúcio Costa.
Marcos de Andrade Corsato, 62, Diego Ralf de Souza Bomfim, 35, e Perseu Ribeiro Almeida, 33, morreram no local. Dois deles são de São Paulo e um da Bahia, e o grupo estava na cidade para um congresso de ortopedia.
Uma testemunha que estava no quiosque e prestou depoimento afirmou que não houve anúncio de assalto antes dos disparos e nenhum pertence das vítimas foi levado.
Mais testemunhas estão sendo ouvidas e imagens de câmeras de segurança são analisadas para identificar o veículo que transportou os suspeitos. A polícia também apreendeu os celulares das vítimas.
O ministro Flávio Dino participou em Salvador de um ato com o governador da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT) para anunciar investimentos e acordos de cooperação entre os governos federal e estadual.
O ministro inaugurou as obras de modernização da sede da Superintendência da Polícia Federal na Bahia, fez a entrega simbólica da Delegacia da PF de Vitória da Conquista e assinou o termo de cooperação para implantação da Delegacia da PF em Feira de Santana.
Governador e ministro assinaram um acordo de cooperação técnica para criação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Ilhéus e um acordo de transferência de recursos federais do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) para a Bahia.
O estado enfrenta um de seus momentos mais graves na gestão da segurança, com o acirramento da guerra entre facções, chacinas e escalada da letalidade policial, com epicentro nas periferias das cidades, cujas famílias vivenciam a morte diária de uma legião de jovens negros e pobres.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress