Moraes ironiza notícias falsas sobre comunismo e diz que é tratado como vilão

SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes ironizou a “ameaça comunista” no país -comumente usada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores- e disse que o assunto “dá muito ibope”.

A declaração ocorreu durante um evento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo nesta sexta-feira (6).

O ministro citou ainda uma notícia falsa de que a Venezuela teria invadido o Acre e afirmou que “99% das pessoas que falam nem sabem o que é comunismo”.

“O 1% que sabe, sabe que não existe mais comunismo. A China é comunista, mas é mais capitalista do que nós. O [Vladimir] Putin é o rei do comunismo? [Quando] você fala em comunismo, principalmente pessoas mais velhas, é um negócio… [Quando perguntadas] por que são contra tal coisa, [respondem]: ‘Porque vão instalar o comunismo no Brasil’.”

O magistrado afirmou no evento que, no mundo todo, atacar a democracia não dá mais ibope.

“Não vamos falar: ‘vamos fechar o Congresso’, ‘vamos dar um golpe’. Não. Vamos ser os ‘grandes defensores da democracia’, da liberdade. Não por outra coisa, passou a ser definida a liberdade sem limites. A liberdade de se fazer o que quiser. E vamos atacar um instrumento que garante a democracia, é o segundo pilar e grande pilar das democracias ocidentais: as eleições.”

Moraes continuou afirmando que hoje “pega mal” falar contra as eleições e se passou a apontar fraudes. “Lá [nos EUA] se atacou o quê? O voto por carta. ‘São fraudados’ e ‘houve fraude’. No Brasil se atacou a urna eletrônica. Se o voto aqui fosse no papel, ia atacar o papel. ‘Tem que ser urna eletrônica’. Se o voto fosse por sinal de fumaça, iriam atacar o sinal de fumaça”, disse.

O ministro afirmou que somente foi possível descredibilizar as eleições porque, com ajuda das redes sociais, foi possível confundir notícias falsas com notícias veiculadas na mídia profissional. Em meio à declaração, Moraes também brincou afirmando que, se tirassem os celulares do Brasil, a produtividade aumentaria. Os presentes riram.

No evento, o magistrado citou ainda os ataques aos membros do Judiciário, incluindo ele próprio, e seus familiares.

“Atacar o Judiciário só, falar de uma instituição fica um pouco etéreo. Você tem que personificar e achar dentro da instituição um inimigo de carne e osso porque aí você personifica. No caso no Brasil foi carne, osso e sem cabelo. Um preconceito. Você personifica e você vai batendo, vai batendo porque dá ibope. É uma novela. Não existe novela que o vilão é uma instituição. Tem que ser uma pessoa.”

Para Moraes, a Constituição deu todos os instrumentos para que as instituições, especialmente o Poder Judiciário, tivessem “independência e autonomia para reagir a esses ataques” à democracia.

Ainda no evento, o ministro disse que desde a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil vive “o maior período de estabilidade democrática de sua história republicana”. Moraes apontou que, em 35 anos, talvez o Brasil, entre as maiores democracias, é o que mais sofreu ataques e teve problemas, mas eles foram superados em razão do “fortalecimento que a Constituição deu às suas instituições”.

Moraes citou que o país sofreu ataques à democracia recentemente e afirmou que as instituições brasileiras conseguiram responder. “Tivemos eleição, tivemos posse, tivemos o dia 8 de janeiro e estamos aqui no dia 6 de outubro na democracia e no Estado de Direito, graças ao fortalecimento institucional de órgãos de Estado”, declarou.

Em razão desse fortalecimento institucional, disse o ministro, surgiu uma nova forma de ação: os ataques em conjunto com o uso das redes sociais.

O ministro declarou que os algoritmos das redes sociais também foram modificados para “ganhar o eleitor, transformar o eleitor em massa de manobra e, lamentavelmente, em um fanático político”, criando bolhas que reproduzem discursos de ódio.

“É uma verdadeira lavagem cerebral. O algoritmo percebe o viés de interesse seu e, a partir disso, ele induz informações, no ataque à democracia.”

Redação / Folhapress

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