Ataque é diferente de tudo o que já vi, diz brasileiro no sul de Israel

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O brasileiro Mark Levy, 75, que vive no sul de Israel, passou por momentos de tensão neste sábado (7) em meio ao ataque do grupo extremista palestino Hamas.

Natural de Porto Alegre, Levy migrou para Israel em 1971 e mora no kibutz de Zikim, a poucos quilômetros da Faixa de Gaza. Segundo ele, o ataque foi “totalmente diferente” de conflitos ocorridos nos últimos anos, uma vez que houve incursão de combatentes armadas, para além das já corriqueiras saraivadas de foguetes disparadas do enclave palestino.

Ele estava em sua casa junto da esposa e dos dois netos quando soou o primeiro alarme, por volta das 6h30 no horário local (0h30 no Brasil). Sua casa, assim como outras no kibutz, foi construída com um quarto de segurança, para onde a família se dirigiu.

“Nas primeiras horas, nos fechamos dentro desse quarto de segurança, até receber a confirmação de que não havia palestinos dentro do kibutz. Só então pudemos sair do quarto para fazer comida, enfim, pudemos circular um pouco”, afirmou.

Cerca de mil combatentes romperam o bloqueio israelense contra a faixa de Gaza na manhã deste sábado, em uma ofensiva que pegou os serviços de inteligência de Israel. A cerca que fica na fronteira entre Israel e o enclave palestino foi violada, e também houve infiltração usando parapentes e barcos.

Em outras áreas no sul de Israel, os combatentes fizeram massacres e mantiveram reféns. Há ao menos 200 mortos e 1.100 feridos do lado israelense até agora.

Também foram disparados milhares de foguetes da faixa de Gaza em direção a Israel. “Durante todo o dia, tem mísseis que caem na nossa região. E isso nos obriga, logicamente, quando há alarme para mísseis, também ir para o quarto de segurança até ouvir o barulho de explosão. Faz um ‘boom’ muito forte”, relata Levy.

Segundo o brasileiro, a rotina foi “totalmente diferente” da verificada em rodadas de ataques anteriores. “Até hoje, todos os momentos de tensão eram mísseis, não havia infiltração [de combatentes armados]. A última vez que tivemos que enfrentar [algo parecido] foi na guerra de independência em 1948. Desde então, todas as guerras se deram fora do estado de Israel, entre exércitos. Ou seja, nesse sentido, esta vez é uma mudança radical.”

Ele diz que, diferentemente de alguns vizinhos seus, pretende permanecer no kibutz mesmo com a escalada de violência na região esperada para os próximos dias. “Nesse momento, o grande problema vão ser os mísseis, e isso já estamos acostumados, não é a primeira vez”, afirma.

Levy é cético quanto à efetividade de uma resposta militar de Israel contra o Hamas em Gaza. “Eu acho que no final a solução do problema não é militar, ela é política. E eu acho que esse é um problema que nós temos com o atual governo, o atual governo infelizmente não se preocupou em dar lugar a um tipo de solução política”, diz.

“Os palestinos têm direito a autodeterminação, da mesma maneira como nós tivemos há 75 anos, e por isso que não devemos esquecer de que há cerca de 5 milhões de palestinos que vivem tanto em Gaza como na Cisjordânia. Eles querem ter um Estado e não vão aceitar ser parte de Israel e viver um tipo de apartheid.”



Cronologia da Faixa de Gaza

1948: Milhares de refugiados palestinos se estabelecem na Faixa de Gaza em meio à guerra que se seguiu à declaração de independência de Israel. Território passa a ser controlado pelo Egito

1967: Israel ocupa a Faixa de Gaza e outros territórios árabes na Guerra dos Seis Dias

1973: Países árabes lançam ataque contra Israel na Guerra do Yom Kippur. Faixa de Gaza segue sob ocupação israelense

1993: Acordos de Oslo estabelecem compromisso em criar um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, mas o plano nunca chega a ser cumprido

2005: Israel anuncia a retirada de colonos judeus e de soldados da Faixa de Gaza

2007: Grupo extremista islâmico Hamas expulsa rivais do Fatah e passa a governar a Faixa de Gaza. Israel impõe bloqueio por terra, ar e água contra o território

2008, 2012 e 2014: Guerras recorrentes na Faixa de Gaza envolvendo bombardeios israelenses e disparos de foguetes pelo Hamas deixam milhares de mortos

2018: Residentes da Faixa de Gaza fazem série de protestos perto da fronteira com Israel, na chamada Marcha do Retorno. Atiradores israelenses matam centenas de manifestantes

2021: Nova guerra entre Israel e o Hamas deixa centenas de mortos na Faixa de Gaza

2023: Hamas rompe bloqueio e lança ataque surpresa por terra, água e ar contra Israel, que reage com bombardeios e declaração de guerra

DANI AVELAR / Folhapress

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