BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (9) ver um cenário internacional mais desafiador, citando os novos impactos provocados pelo conflito entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas.
Para Galípolo, contudo, a piora no ambiente externo é compensada por uma conjuntura doméstica mais favorável. Segundo ele, o BC deve manter o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic) nas próximas reuniões. Mais tarde, ponderou que a decisão será tomada com base nos dados.
“Mesmo com um cenário internacional mais desafiador, a gente entende que o passo de cortes de 0,5 ponto na taxa de juros brasileira permite simultaneamente ajustar o nível de contração política monetária se encontra […] e ir observando esses fenômenos domésticos e internacionais para a gente ter tempo de depurar e entender o que está acontecendo na economia”, afirmou.
Galípolo participou, por videoconferência, de uma reunião do Conselho Empresarial de Economia da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
“A gente tem um cenário agora mais desafiador do ponto de vista internacional nesse segundo semestre, com desafios novos que vão surgindo, inclusive como conflitos que surgiram ao longo desse final de semana e com uma série de impactos para questões de preços internacionais”, disse.
Os preços do petróleo subiram 4% nesta segunda, enquanto a Bolsa brasileira abriu em queda, com o conflito entre Hamas e Israel no Oriente Médio aumentando a aversão ao risco em todo o mundo.
O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda destacou o debate em torno de um eventual envolvimento do Irã no conflito no Oriente Médio e como isso pode afetar os preços do petróleo.
Ele ressaltou que, nas últimas semanas, o BC tem olhado com mais atenção para a elevação do preço do petróleo e para a depreciação cambial como fatores de risco de novas pressões inflacionárias.
Às 11h37, o Ibovespa caía 0,35%, aos 113.769 pontos, enquanto o dólar subia 0,02%, cotado a R$ 5,162. Na última sexta (6), o dólar chegou a R$ 5,22 após a divulgação de dados fortes de emprego nos Estados Unidos.
“Temos um cenário mais desafiador do ponto de vista internacional. Mas que é compensado, se a gente quiser olhar o lado positivo, por um cenário mais benigno do ponto de vista doméstico”, acrescentou Galípolo.
O diretor do BC ressaltou que o Brasil teve surpresas positivas tanto no crescimento econômico quanto na inflação, destacando o comportamento mais benigno da variação de preços nos últimos meses.
Para este ano, o BC revisou para cima sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) e agora espera um avanço de 2,9%. A última estimativa, divulgada em junho, era de alta de 2%.
Em 12 meses, a inflação acumulada atingiu 4,61% até agosto, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na prévia de setembro, houve aceleração puxada pela alta da gasolina, apesar da queda nos preços dos alimentos. Na quarta-feira (11), será divulgado o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mais recente.
No mês passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC reduziu a Selic de 13,25% para 12,75% ao ano foi o segundo corte consecutivo na mesma intensidade, que levou os juros ao menor nível desde maio de 2022. O colegiado volta a se reunir nos dias 31 de outubro e 1º de novembro.
Na tarde desta segunda, durante a live semanal do BC, Galípolo disse que os membros do Copom vão acompanhar os desdobramentos do conflito sobre os preços dos ativos e analisar a conjuntura econômica no momento de recalibrar a Selic.
“Quando foi dito por vários diretores que a barra é alta para mudar o ritmo, vale para todos os lados, para cima e para baixo”, disse.
“A todo momento estamos dizendo que estamos absolutamente ‘data dependent’ [dependente dos dados], estamos analisando os dados reunião a reunião para ver como a economia reage para poder ajustar a nossa política em função dos dados que vão chegando”, continuou.
O ex-número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda reiterou mais cedo o “esforço da última milha” para levar a inflação em direção às metas. O alvo a ser perseguido pelo BC é de 3,25% para 2023 e de 3% para os próximos anos, com o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
As estimativas do mercado financeiro para 2025 e 2026 atingiram 4% no primeiro semestre deste ano depois de ganhar força uma possível elevação da meta de inflação. Quando o CMN (Conselho Monetário Nacional) manteve o percentual em 3% como alvo, as projeções caíram para 3,5%.
O BC vem falando em “reancoragem parcial” das expectativas de inflação depois que as projeções do mercado financeiro ficaram estacionadas acima do centro em meio à desconfiança dos economistas.
Na live, Galípolo afirmou que reancoragem parcial já estava posta antes da recente deterioração do cenário internacional.
Uma das razões, segundo ele, é o ceticismo com o cumprimento das metas fiscais estabelecidas pelo governo, que pretende zerar o déficit primário já no próximo ano.
Outro fator colocado pelo diretor do BC é o temor de possível interferência política na autoridade monetária com a chegada de novos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na visão dele, com o passar do tempo, essa desconfiança vai se dissipar na medida em que ficar mais visível que a qualidade técnica dos funcionários do BC garante a estabilidade da gestão da política monetária.
NATHALIA GARCIA / Folhapress