BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um levantamento do NetLab, o Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais, vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apontou que Marcius Melhem, réu por assédio sexual contra três mulheres, lucra com publicações nas redes sociais contra suas acusadoras.
O estudo foi produzido a partir da coleta e da análise de 77.898 publicações de redes sociais e de reportagens, publicadas entre dezembro de 2020 e junho de 2023, que mencionam palavras-chaves referentes ao caso, como o nome do humorista e o de Dani Calabresa, de acordo com a pesquisadora Marie Santini.
O levantamento apurou que, dos 75 vídeos no canal do YouTube do humorista, 65 são monetizados. O humorista relata que em abril, um mês após a publicação de seu primeiro vídeo no YouTube, recebeu uma proposta para inserção de peças publicitárias em seu canal. Segundo ele, o total arrecadado soma US$ 1.930 em seis meses, o equivalente a cerca de R$ 1.600 por mês, o que ele considera uma “migalha”.
O estudo –intitulado “Orquestração Multiplataforma da Misoginia: O Caso Marcius Melhem”– foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo, onde o ator é investigado por suposta prática de violência psicológica e perseguição contra suas acusadoras, entre elas Dani.
A pesquisa, de 66 páginas, sustenta que a versão de Melhem é dominante na internet. Após ser antecipado pelo site Metrópoles, o levantamento foi publicado nesta segunda-feira na página do NetLab.
Procurado, Melhem contestou a conclusão do estudo e afirmou que ele não tem base científica nem apresenta provas que o sustentem. Ele ainda critica a ausência da descrição dos critérios usados para a classificação das publicações dos internautas.
Melhem refuta a conclusão principal, sobre ele supostamente lucrar com suas publicações, dizendo que decidiu abrir um canal no YouTube em busca de um espaço para sua defesa. Ele diz que só leva sua versão às redes sociais quando é atacado pelas acusadoras.
Para rebater a tese, ele lembra que Dani tem mais seguidores nas redes sociais. No Instagram, por exemplo, ela tem 3 milhões, enquanto ele tem 29,3 mil. “Estou desempregado há quatro anos. Como é que alguém vai acreditar que as narrativas são a meu favor? Esse estudo não é uma análise de narrativa. É opinião. Onde estão esses dados? Quais são os critérios para a seleção dessas postagens?”, questiona Melhem.
Metade dos R$ 1.600 arrecadados por mês, diz ele, é destinado ao pagamento da terapia da filha, que sofre com as consequências do caso, enquanto a outra parte vai para reforçar sua defesa. “Isso é uma migalha em comparação ao que sou obrigado a gastar com minha defesa e assessoria”, diz Melhem, afirmando que os canais de Dani também são monetizados.
A pesquisadora Marie Santini afirma, por sua vez, que as denunciantes não tiram proveito financeiro em torno do caso. “Elas não têm canais próprios e só se manifestam publicamente na grande mídia.”
Melhem critica o fato de o estudo não apresentar provas de ele que tenha articulado a formação de comunidades de ataques às denunciantes. Cita ainda a repercussão negativa para sua imagem provocada por uma reportagem da revista Piauí sobre o caso e por publicações de Dani nas redes.
Já a pesquisadora afirma que os dados falam por si. “Esse estudo busca analisar um ecossistema de mídia online que se alimenta da misoginia e também trata de uma questão séria e econômica sobre as plataformas digitais, no qual este caso é apenas um exemplo.”
Melhem foi denunciado sob acusação de assédio sexual contra três mulheres no dia 2 de agosto. Os casos de outras oito mulheres, incluindo o de Dani, foram arquivados pelo Ministério Público, porque o suposto assédio contra elas já teria prescrito.
Recebida pela Justiça no dia 3 de agosto, a denúncia afirma que o diretor realizava “abordagem sexual em meio a conversas acerca do roteiro, do elenco e do papel a ser atribuído à personagem das vítimas”.
CATIA SEABRA / Folhapress