PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS) – Você é atacante do vice-líder do campeonato nacional e se prepara para uma partida decisiva que poderá colocar sua equipe no topo da Liga. Mas ao acordar e olhar o celular, você percebe avisos de que todos os jogos e treinos foram cancelados porque o país está sendo atacado. Mais tarde, a ligação de um diretor e do CEO do clube perguntando como você está, tornam o ambiente ainda mais tenso. Não se trata de um conflito: o país onde você vive está em guerra.
Foi assim que o brasileiro Felipe Santos, de 26 anos, do Hapoel Haifa, de Israel, recebeu a notícia de que o guerra com o Grupo Hamas havia começado. E o termo foi o que mais assustou.
“No sábado, quando começou esse conflito, nós teríamos um jogo pelo campeonato de Israel, nós estamos em segundo lugar. Era um jogo muito importante e seria em Tel Aviv, onde também estão tendo ataques e lançamento de bombas. O jogo ia ser lá, mas assim que acordei, recebi no grupo do WhatsApp mensagens dizendo que todos os jogos e treinos, estão cancelados, porque Israel estava sendo atacado. Eu achei estanho, pois como todos sabem Israel é uma potência em segurança, inteligência… Mas pesquisei na internet e vi que isso era verdade, era algo que estava acontecendo mesmo, tanto que o diretor e o CEO do clube me ligaram perguntando como eu estava. Me falaram que o que estava acontecendo não era um conflito, algo que eles já tinham visto, mas sim uma guerra. Quando eles disseram guerra, foi ali que vi que a situação era realmente muito complicada”, disse Felipe Santos, em entrevista ao UOL
Uma rápida pesquisa na internet deu a dimensão do fato ao jogador, cuja carreira tem passagens por Palmeiras e Vasco no Brasil. Por sorte, Haifa cidade onde Felipe está fica um pouco distante da zona de conflito, mas ainda assim ele revela uma sensação de desespero pelo que acontece no país.
“Haifa, a cidade onde estou, foi uma das poucas que não foi atacada, apesar de estarmos a 30 minutos da fronteira com o Líbano, onde outro grupo terrorista está atacando Israel. Estamos sendo atacados na parte sul e na parte norte. Aqui, quando você olha para fora de casa, vê crianças e velhos andando na rua, os carros andando normalmente, só que você vê um ar de desespero, de medo. Apesar das pessoas viverem isso e aprenderem a passar por isso, só que dessa forma, desse jeito, é algo totalmente anormal o que eles estão enfrentando”, afirma Felipe.
FALTA DE ÁGUA E APOIO A SOLDADOS
Felipe relatou à reportagem que já se nota desabastecimento de produtos básicos nos mercados da cidade. Por isso, ele e outras pessoas estão fazendo doações aos soldados, além de abastecer os bancos de sangue do país.
“Ontem, fui ao mercado comprar algumas coisas, água, alimento para doar para os soldados que estão na guerra. Hoje, também fui comprar água, suco, algumas coisas para enviar para os soldados, porque meu clube está fazendo essa doação. Já não tinha mais água, mais suco, coisas básicas que os soldados estão precisando”, afirma o jogador.
“É um momento delicado, o país inteiro está se voltando para ajudar essas pessoas que estão indo, porque não são só soldados, são pessoas. Tem jogadores do meu clube que foram convocados de última hora para a guerra [dois analistas e três jogadores], para ir à Faixa de Gaza. É um momento muito delicado, quando você vai nos postos de saúde, tem que esperar 5h porque a população inteira de Israel está indo doar sangue e alimento”, disse.
Felipe não é o único atleta brasileiro no país. No elenco do Ashdod, time cuja cidade fica exatamente na zona de conflito, está Lucas Salinas que já tinha conseguido uma passagem para ir até Portugal e posteriormente regressar ao Brasil.
O atacante ainda não planeja voltar, mas condiciona a possibilidade ao cenário de insegurança. Hoje ele está acompanhado da esposa, do filho de três anos e da avó, que é quem ele gostaria de enviar de volta ao Brasil.
“Estou tentando entrar em contato com a embaixada brasileira, mas não estão respondendo, pedem para escrever um e-mail para ter contato depois disso. Hoje não pensamos em voltar para o Brasil porque nos sentimos seguros e estamos bem na cidade em que estamos. Queria enviar minha avó, pois é a primeira vez que ela sai do Brasil pra ver uma nova vida e está passando por isso”, completou.
UM MINUTO E MEIO PARA FUGIR
Ainda que se sintam seguros, a família de Felipe tem indicações de como proceder em caso de ataque. A casa onde vivem possui um bunker para o qual todos partirão em um minuto a partir do soar de alarmes que indicam ataque.
“Nós estamos bem, em segurança, debaixo da minha casa tem um bunker e se soar o alerta temos um minuto e meio para entrar e fechar a porta. Tem até uma forma de se posicionar caso sejamos atingidos. A cada esquina de casa tem um bunker também. Eu só peço que coloquem a minha família em oração, Israel em oração. É um momento muito difícil. Não é só futebol. O futebol é deixado de lado neste momento., O mais importante é a saúde, é as pessoas voltarem em segurança, é a paz reinar, seja do lado da Palestina ou do lado de Israel, o mais importante é que a paz reine e Israel volte a viver a história maravilhosa que vivem”, diz Felipe.
MARINHO SALDANHA / Folhapress