Em 12 de outubro é celebrado o Dia das Crianças no Brasil.
Na música popular brasileira, muitos artistas consagrados já fizeram o que Gonzaguinha sugeriu em sua canção O Que É o Que É, de 1982, e ficaram com “a pureza da resposta das crianças”, produzindo discos especialmente para o público infantil ou que conversam com o universo das crianças.
Esses projetos acabaram fazendo também imenso sucesso com os adultos, afinal, cada um de nós traz consigo a pureza da resposta da criança que existe dentro da gente: dos nossos corações e das nossas almas. Caso contrário, não sobreviveríamos a este mundo doido de gente grande.
Vamos lembrar de alguns desses discos e projetos, além de conferir uma playlist especial?
MPB especialmente feito para crianças
Chico Buarque – Os Saltimbancos (1977) e Os Saltimbancos Trapalhões (1981)
Em 1977, Chico Buarque compôs e adaptou a trilha sonora para a peça infantil Os Saltimbancos, de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, inspirada no conto Os Músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm – uma das mais expressivas obras de teatro musical dedicada ao público infantil até hoje.
As canções da peça narram, como uma alegoria política, as aventuras de quatro bichos que, sentindo-se explorados por seus donos, resolvem fugir para a cidade e tentar a sorte como músicos. No caso, a Galinha representaria a classe operária; o Jumento, os trabalhadores do campo; o Cachorro, os militares e a Gata, os artistas.
Entre as principais canções da peça – que virou disco, com a participação de Miúcha e Nara Leão – estão:
- Bicharia;
- História de Uma Gata;
- A Cidade Ideal;
- Todos Juntos.
No coro infantil deste trabalho, estavam, entre outras crianças:
- Bebel Gilberto (filha de João Gilberto e Miúcha);
- Isabel Diegues (filha de Nara Leão e Cacá Diegues);
- e Silvia Buarque (filha de Chico e Marieta Severo).
Já em 1981, Chico participou do roteiro e das adaptações das canções do filme infantil Os Saltimbancos Trapalhões, baseado na peça de 1977.
Entre as canções do longa – que também virou disco, com a participação de Lucinha Lins, Bebel Gilberto e Elba Ramalho – estão também as clássicas Piruetas e Alô Liberdade.
Toquinho e Vinicius de Moraes – Arca de Noé 1 (1980) e Arca de Noé 2 (1981)
Em 1980 (ano da morte do poeta) e 1981, são lançados dois discos com a obra infantil completa de Toquinho e Vinicius: Arca de Noé 1 e Arca de Noé 2.
Os álbuns contam com a participação de vários artistas de peso como:
- Tom Jobim;
- Moraes Moreira;
- Milton Nascimento;
- As Frenéticas;
- MPB4;
- Elis Regina;
- Alceu Valença;
- Grande Otelo;
- Ney Matogrosso;
- e Chico Buarque.
Os discos traziam poemas do livro homônimo, de Vinicius, musicados por Toquinho. As canções têm os nomes dos bichos da arca e cada artista convidado interpreta um animal ou um elemento do livro. Entre as canções mais famosas estão:
- O Pato;
- A Casa;
- A Galinha D’Angola;
- e O Filho Que Eu Quero Ter.
Toquinho – Casa de Brinquedos (1983) e Canção de Todas as Crianças (1987)
A partir desses dois discos com Vinicius de Moraes, nota-se uma expressiva sensibilidade de Toquinho com relação ao mundo da criança.
Hoje, adultos com mais de trinta anos cantam com seus filhos as canções que cantavam – ainda crianças – durante a década de 1980, quando surgiram mais dois trabalhos originais de Toquinho para o público infantil.
O primeiro deles é Casa de Brinquedos, de 1983, em que quase todas as músicas são em parceria com o baterista Mutinho, e que também traz grandes artistas convidados, interpretando as canções que contam histórias de elementos que fazem parte de uma casa de brinquedos. Entre elas:
- O Caderno, interpretada por Chico Buarque;
- A Bicicleta, interpretada por Simone;
- A Bailarina, por Lucinha Lins;
- e O Avião, pelo próprio Toquinho.
Em 1987, surge o mais importante entre todos os seus trabalhos musicais voltados para a infância. Como fonte de inspiração na Declaração Universal dos Direitos da Criança, com 10 princípios aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas e tratando de verdadeiras receitas de humanismo, Toquinho lançou, em parceria com Elifas Andreato, o disco Canção de Todas as Crianças.
Cada direito universal virou uma canção, que traz assuntos seríssimos, com a visão das crianças, que – brincando – mostram a importância dos seus direitos. Algumas das canções do disco são:
- Bê-a-bá;
- É bom ser Criança;
- Errar é Humano;
- Herdeiros do Futuro;
- e Natureza Distraída.
Esse disco representa, sem dúvida, o mais importante trabalho que já se fez no Brasil com relação à criança, tendo recebido da ONU uma carta como reconhecimento por essa contribuição à humanidade. Depois desses quatro trabalhos, Toquinho penetrou no âmbito escolar e social, tendo forte relevância até os dias atuais.
Sua obra é utilizada nos mais amplos contextos da infância, em projetos educativos e sociais, muitos deles visando, tanto a alfabetização dos pequeninos quanto despertar, por meio da música, o interesse da criança pela arte e pela cultura brasileira.
Vale a pena lembrar que Toquinho e Vinicius de Moraes também são autores de um dos maiores clássicos da MPB entre as crianças: Aquarela, lançada em 1983.
Adriana Calcanhotto – Adriana Partimpim (2004), Partimpim Dois (2009) e Partimpim Tlês (2012).
Com o heterônimo de Adriana Partimpim – apelido pelo qual o pai a chamava na infância – Adriana Calcanhotto lançou três discos idealizados para crianças:
- Adriana Partimpim (2004);
- Partimpim Dois (2009);
- e Partimpim Tlês (2012).
O primeiro deles ganhou disco de ouro e venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Infantil.
Entre as canções dos álbuns estão:
- Fico Assim Sem Você (Abdullah e Cacá Moraes);
- Oito Anos (Paula Toller e Dunga);
- Ciranda da Bailarina (Chico Buarque e Edu Lobo);
- Gatinha Manhosa (Roberto e Erasmo Carlos);
- e Acalanto (Dorival Caymmi).
Pato Fu – Música de Brinquedo (2010 e 2017)
Em 2010, a banda Pato Fu lançou um dos álbuns mais ousados e de maior sucesso de sua carreira: Música de Brinquedo, que ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Infantil.
Todas as faixas do disco são releituras de grandes clássicos da música nacional e internacional, gravados com miniaturas de instrumentos e instrumentos de brinquedo como cornetas de plástico, xilofones, cavaquinhos, flauta doce, kazoo e glockenspiel.
A ideia foi dar uma sonoridade infantil e criar versões super originais de músicas já muito conhecidas do grande público como:
- Primavera (de Cassiano e Silvio Rochael);
- Sonífera Ilha (dos Titãs);
- Frevo Mulher (de Zé Ramalho);
- Ovelha Negra (de Rita Lee);
- e Todos Estão Surdos (de Roberto Carlos).
O resultado do álbum – que ganhou disco de ouro (primeira banda independente a conquistar tal feito) e foi sucesso de público e crítica – impressiona pela qualidade técnica, originalidade e fofura.
Em 2017, a banda lançou o disco Música de Brinquedo 2, na mesma pegada do primeiro, mas com a releitura de outros clássicos da MPB, como:
- Palco (Gilberto Gil);
- Kid Cavaquinho (João Bosco e Aldir Blanc);
- Severina Xique-Xique (Genival Lacerda e João Gonçalves);
- e Mamãe Natureza (Rita Lee).
Arnaldo Antunes – Pequeno Cidadão (2009)
Em 2009, Arnaldo Antunes formou, ao lado de Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto – e junto também com os filhos de cada um dos artistas – o projeto para crianças Pequeno Cidadão, e lançou um disco homônimo, que conta com canções como:
- Tchau Chupeta (de Arnaldo e Tacian;
- e Leitinho, Larga a Lagartixa (Arnaldo e Betão Aguiar);
- e a faixa-título (Arnaldo e Antônio Pinto).
Zeca Baleiro – Zoró (2014) e Zureta (2018)
Desde que se tornou pai, em 1998, Zeca Baleiro passou a compor com frequência para os filhos, acumulando um repertório de mais de 60 canções.
Em 2014, aventurou-se no mundo infantil ao lançar o disco Zoró, Bichos Esquisitos – Vol.1 e, logo em seguida, o DVD de animação A Viagem da Família Zoró.
O disco conta com 28 composições suas e com a participação de grandes nomes como MPB4, Tom Zé, Walter Franco e Fernanda Abreu.
Quatro anos depois, em 2018, Zeca lançou Zureta – Vol.2, com mais 18 composições suas, recheadas de “malucagens e molequices”. No mesmo ano, o artista apresentou o show Zoró Zureta – um sucesso entre as crianças – que voltou a apresentar neste ano de 2021, no formato de live.
Entre as canções dos discos, estão:
- Onça Pintada;
- O Ornitorrinco;
- Minhoca Dorminhoca;
- Matemática;
- e Papai e Mamãe.
Tom Zé – Sem Você Não A (2017)
Em 2017, Tom Zé musicou as letras do artista plástico Elifas Andreato, no disco Sem Você Não A, voltado para o público infantil. As letras seguem a ideia de uma fábula criada por Elifas: uma história que “não tem reis, rainhas, princesas, sapos, nem fadas”, e conta com as letras do alfabeto como protagonistas.
As letras entendem que são “guardiãs do passado, intérpretes do presente e construtoras do futuro” e que letra nenhuma escreve nada de fundamental sozinha. Ao longo das canções do disco, surgem outros personagens: o “Silêncio” lança um enigma à “Curiosidade” – qual é a maior palavra do mundo?
Entre as músicas:
- Palavras do Ar;
- A Maior Palavra do Mundo;
- Como É O Nome Dela?;
- e Estrelas Sabem Voar.
Como tudo o que Tom Zé faz, é genial!
Playlist Dia das Crianças: 19 clássicos que falam sobre ser criança
Existem playlists de todos esses projetos no Spotify, caso você queira conferir!
Além disso, nós montamos uma outra playlist, com clássicos da música popular brasileira que falam sobre crianças e sobre esse momento importante da vida, que é a nossa infância: