SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O conflito entre Israel e Hamas chega a seu nono dia neste domingo (15) sob a expectativa de uma invasão terrestre de Tel Aviv na Faixa de Gaza, território palestino regido pelo grupo terrorista onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas agora sob cerco total.
“Soldados e batalhões das IDF (Forças de Defesa de Israel) estão implantados em todo o país e estão aumentando a prontidão operacional para as próximas etapas da guerra, com ênfase em operações por terra significativas”, disse o exército em um comunicado, acrescentando que isso incluiria não só os ataques terrestres como também os aéreos e marítimos e cobriria um “campo de combate expandido”.
Enquanto o novo prazo que o Exército israelense havia dado para palestinos deixarem o norte de Gaza se esgotava, a região sul de Israel terminava de ser esvaziada em uma operação apoiada pelo governo.
A cidade israelense de Sderot, por exemplo, a menos de 4 km de Gaza, está retirando seus últimos moradores. Cerca de dois terços dos 30 mil habitantes já foram deslocados, e a maioria dos cidadãos restantes devem deixar a região neste domingo, de acordo com afirmações do vice-prefeito, Elad Kalimi, ao jornal Times of Israel.
No começo da tarde, alertas de foguetes soaram em diversas dessas cidades na fronteira e foram seguidos de explosões. Um foguete atingiu uma casa na cidade de Ashkelon, mas não deixou vítimas. A expectativa é de que algumas pessoas permaneçam nessas cidades por opção ou por dificuldades para fazer o deslocamento. Quem deixa a região está ficando em hotéis em Tel Aviv, Jerusalém e Eilat com apoio estatal.
Já em Gaza, ataques aéreos atingiram várias casas durante a noite, segundo os moradores, que acordaram com trabalhadores de resgate procurando desesperadamente por sobreviventes.
“Vivemos uma noite de horror. Israel nos puniu por não querer sair de nossa casa. Existe brutalidade pior do que essa?” disse à agência de notícias Reuters, por telefone, um pai de três filhos que se recusou a dar seu nome por medo de represálias. “Prefiro morrer a sair, mas não posso ver minha esposa e filhos morrerem diante dos meus olhos.” Ele se abrigou em um hospital.
Na sexta-feira, Israel deu 24 horas para quem estivesse no norte de Gaza, onde vivem cerca de 1,1 milhão de pessoas, se deslocasse para o sul operação impossível de ser realizada com segurança, de acordo com as Nações Unidas, e que seria uma sentença de morte a pacientes vulneráveis nos hospitais, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No mesmo dia do ultimato, um bombardeio na via Salah-al-Din, usada para a locomoção de civis, matou 70 pessoas, incluindo crianças e mulheres.
O Hamas, por sua vez, pede para que a população não saia sob a justificativa de que Israel tem o objetivo de “semear confusão entre os cidadãos e prejudicar a coesão interna”. Tel Aviv acusa o grupo terrorista de impedir que os civis se locomovam.
A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino disse ter recebido uma ordem de Israel para esvaziar um centro de saúde até as 16h locais deste domingo, mas se recusou a fazê-lo por ter o dever humanitário de continuar prestando serviços aos doentes e feridos.
Manter o funcionamento dos hospitais, porém, é um desafio cada vez maior com o bloqueio de Israel, que impede a chegada de água, alimentos e combustível à empobrecida região
A operação é parte do conflito que explodiu no sábado passado (7), quando o Hamas promoveu o mais grave ataque da história de Israel. Naquele dia, cerca de mil combatentes palestinos invadiram, por ar e terra, ao menos 14 localidades no sul do país, mataram centenas de civis e soldados e sequestraram pelo menos 126 pessoas. Até agora, cerca de 1.400 foram mortos em Israel.
Avichai Brodetz, um agricultor do kibutz Kfar Aza, onde houve um massacre, montou um acampamento do lado de fora do quartel-general do Exército israelense para chamar a atenção para a situação dos reféns dentre eles, sua esposa e seus três filhos. “A primeira coisa que precisa acontecer é a libertação de mulheres e crianças”, disse ele a repórteres.
Como resposta à ofensiva do Hamas, Tel Aviv empreendeu o bombardeio mais intenso em décadas em Gaza, um dos territórios mais densos do mundo. A Força Aérea de Israel disse ter lançado 6.000 bombas no território palestino na primeira semana de guerra. Em média, 1 explosão a cada 2 minutos.
A ofensiva israelense matou até a manhã deste domingo pelo menos 2.450 pessoas, de acordo com autoridades de Gaza estima-se que um quarto das vítimas sejam crianças.
Bombardeios israelenses atingiram alvos civis, como hospitais, campos de refugiados, prédios residenciais, veículos de imprensa e universidades. Ao menos sete jornalistas morreram. Israel, porém, diz que seus alvos são bases do Hamas e que se esforça para evitar danos a civis.
Segundo o grupo, os ataques aéreos da noite de sábado (14) mataram nove reféns, incluindo quatro estrangeiros. O Hamas havia dito que mataria um sequestrado para cada prédio que Israel atingisse sem aviso prévio, ameaça que parece não ter se concretizado.
A mais de 180 km dali, outro conflito se desenrola e aumenta os temores de que a guerra se espalhe. A fronteira norte de Israel com o Líbano tem sido palco dos mais graves confrontos na região desde 2006. Neste domingo, um ataque do Hizbullah matou uma pessoa e feriu três na cidade israelense de Shtula, fazendo Tel Aviv isolar a sua fronteira com o país vizinho e iniciar um bombardeio a posições da milícia.
A troca de fogo já havia ocorrido nesta semana como forma de os dois lados mostrarem prontidão em tempos de guerra. O Hizbullah é um dos aliados regionais do Hamas, e ambos os grupos são bancados pelo regime teocrático do Irã.
O conselheiro de segurança do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, Tzachi Hanegbi, disse que Israel está tentando não ser arrastado para uma guerra de duas frentes. “Esperamos que o Hizbullah não seja responsável pela destruição do Líbano” disse ele.
Washington também está determinado a garantir que o Irã e grupos aliados do regime. A Casa Branca disse que o presidente americano, Joe Biden, reiterou seu aviso no sábado contra qualquer um que busque expandir o conflito.
Redação / Folhapress