SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vencedor do Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente da Finlândia Martti Ahtisaari morreu na manhã desta segunda-feira (16), aos 86 anos, em Helsinque, capital de seu país.
“Ahtisaari acreditava na humanidade, na civilização e na bondade e viveu uma vida grandiosa e significativa. Ele foi presidente em tempos de mudança e conduziu a Finlândia para a era global da União Europeia”, afirmou o atual líder do país, Sauli Niinistö, cujo gabinete informou sobre a morte de Ahtisaari.
Celebrado em todo o mundo por mediar a paz em zonas de conflito em Kosovo, Indonésia e Irlanda do Norte, o finlandês foi reconhecido por recusar que guerras eram inevitáveis. “A paz é uma questão de vontade. Todos os conflitos podem ser resolvidos e não há desculpas para permitir que eles se tornem eternos”, disse ao aceitar o prêmio Nobel, em 2008.
Ahtisaari nasceu no dia 23 de junho de 1937 em Viipuri, na época uma cidade na província finlandesa de Carélia e atualmente chamada de Viborg, parte do território russo. Sua família deixou a cidade quando ele tinha dois anos, época em que a região era anexada pela União Soviética após a Segunda Guerra Mundial.
Ele dizia que esses primeiros anos o tornaram “uma pessoa eternamente deslocada” e sensível à situação dos refugiados. Mais tarde, outras experiências influenciariam sua vida política. Após o serviço militar, por exemplo, Ahtisaari se tornou professor e participou de um projeto educacional no Paquistão experiência que, segundo ele, abriu seus olhos para o mundo.
Sua carreira diplomática só começaria, porém, em 1965, quando ele ingressou no Ministério das Relações Exteriores da Finlândia. Oito anos depois, em 1973, ele seria nomeado embaixador na Tanzânia.
Uma de suas primeiras grandes conquistas diplomáticas foi ajudar a Namíbia, onde atuou como comissário da ONU entre 1977 a 1981, a conquistar a independência após anos de um sangrento conflito com a África do Sul. Ele ocupou vários cargos na região até o início dos anos 1990.
Naquele final do século 20, sua notoriedade impulsionava a imagem da Finlândia à medida que o país emergia da sombra da antiga União Soviética. Em casa, porém, Ahtisaari sempre foi um outsider político o que seria um trunfo para vencer a primeira eleição presidencial direta da Finlândia, em 1994, à frente dos opositores do Partido Social-Democrata.
Como presidente, ele abraçou a entrada da Finlândia na União Europeia e incentivou os eleitores a aprovarem o referendo de adesão de 1994, que obteve 57% de apoio. Em 1999, ainda na liderança do país, Ahtisaari atuou como intermediário para o bloco e persuadiu o presidente iugoslavo Slobodan Milosevic a aceitar os termos da Otan, a aliança militar ocidental, para encerrar a campanha aérea em Kosovo.
Outro de seus feitos foi monitorar, ao lado do atual presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, os esforços de desarmamento das organizações paramilitares na Irlanda do Norte e da República da Irlanda, um dos pontos-chave do Acordo de Belfast, ou Acordo da Sexta-feira Santa, após anos de conflito na região.
Seus oponentes costumavam criticar suas viagens frequentes e, por isso, o apelidaram de “Mara Viajante”, um diminutivo comum para Martti. Com a Finlândia em recessão devido ao colapso da União Soviética, principal parceiro comercial do país, os opositores acreditavam que ele deveria se concentrar mais nas questões domésticas.
Após deixar a Presidência, em 2000, Ahtisaari recusou diversos cargos, inclusive no Acnur (alto comissariado da ONU para refugiados), mas continuou a se dedicar à resolução de conflitos.
Em 2000, ele fundou a CMI (Iniciativa de Gerenciamento de Crises), organização que facilitou um processo de paz entre o governo indonésio e o Movimento Achém Livre, em 2005. Ao longo de sete meses, seus esforços de mediação levaram a um acordo que encerrou um conflito de três décadas em Achém.
Mais tarde naquele ano, ele retornou aos Bálcãs como enviado especial da ONU. O finlandês é amplamente creditado por ajudar a pavimentar o caminho para a independência do Kosovo com o apoio de países ocidentais. Meses depois do feito, em 2008, o comitê do Nobel concedeu-lhe o prêmio da paz, citando seu trabalho em múltiplos continentes ao longo de mais de três décadas.
Ahtisaari se retirou da vida pública em 2021 devido ao Alzheimer. Ele deixa sua esposa, Eeva, e seu filho, Marko, um empresário de tecnologia e ex-chefe de design da Nokia.
Redação / Folhapress