SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central monitora os efeitos da guerra entre Israel e Hamas na cotação do dólar e nos preços do petróleo, disse o diretor de Política Monetária da instituição, Gabriel Galípolo, nesta terça-feira (17).
Em evento da agência de classificação de risco Moody’s, em São Paulo, Galípolo afirmou que a autoridade aguarda os desdobramentos do conflito, que podem impactar a inflação brasileira e atrapalhar o ritmo de corte da taxa básica de juros, a Selic.
“[A guerra] acentua os dois pontos de atenção que mencionamos no último comunicado oficial do Copom [Comitê de Política Monetária], o preço do petróleo e o dólar”, disse o economista. A disparada da moeda americana e da commodity é uma preocupação do BC.
O Copom é o colegiado formado por diretores do BC responsáveis por estabelecer os juros básicos. Na última reunião, em 20 de setembro, houve corte de 0,5 ponto na Selic, a 12,75% ao ano.
Segundo Galípolo, o BC tem acompanhado o desenrolar do conflito para estimar seus impactos.
“O sentimento que existe hoje no mercado é de espera para entender o quanto esse é um conflito que vai permanecer local ou se vai ocorrer o engajamento de outros atores e ele vai se tornar mais global”, disse, mencionando a expectativa de um envolvimento do Irã e dos Estados Unidos, dois dos maiores produtores de petróleo do mundo.
“Apesar de tudo o que aconteceu, o preço do Brent [referência no preço do óleo] se comportou melhor [do que o esperado]”, disse Galípolo.
Ele disse que, hoje, a tarefa do BC é acompanhar os efeitos da guerra nos preços do dólar e do barril de petróleo, o que pode afetar a inflação brasileira, e os impactos do conflito no financiamento dos EUA, o que pode impactar o mercado de treasuries (títulos do Tesouro americano).
O economista lembrou a declaração da secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, sobre a capacidade dos EUA de continuar emitindo dívida para financiar conflitos em entrevista à rede britânica de televisão Sky News, nesta segunda-feira (16).
Para angariar recursos para o Estado, os EUA podem emitir mais treasuries, o que aumentaria o juro desses investimentos, drenando recursos de ativos mais arriscados, como os mercados emergentes.
Nos últimos meses, a maior rentabilidade da renda fixa americana levou o dólar de volta para o patamar de R$ 5.
A expectativa do mercado é que o juro caia a 9% até o fim de 2024. Uma inflação mais alta do que o esperado pode mudar essa perspectiva.
JÚLIA MOURA / Folhapress