Kerry diz que guerras não são motivo para esquecer crise do clima

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O emissário climático dos Estados Unidos, John Kerry, disse nesta quarta-feira (18) que os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio não justificam colocar de lado as medidas necessárias para conter a crise do clima.

“Enquanto as crises na Ucrânia e no Oriente Médio estão acontecendo agora, com pessoas morrendo e o potencial de grandes conflitos, a realidade continua sendo que o clima está tirando vidas no mundo todo, todos os dias”, afirmou.

Como exemplo, citou que 7 milhões de pessoas morrem todos os anos pela má qualidade do ar. “Isso vem da poluição causada por gases de efeito estufa, o que é a causa desta crise”, acrescentou.

As declarações ocorreram durante o Congresso Sustentável 2023, promovido pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) no Masp, em São Paulo. Kerry participou do evento virtualmente.

O emissário disse ainda que a dificuldade de governos e algumas corporações de compreender -ou a atitude deliberada de evitar compreender- a importância da pauta climática é algo trágico para todos.

O americano também mencionou sua frustração com a falta de avanços significativos nas políticas para conter as mudanças climáticas ao longo das últimas décadas.

“Eu estive em muitas, muitas, muitas reuniões, inclusive na Rio-92, e em muitas COPs. Então, é um pouco chocante para mim estar falando da COP30 mesmo antes da COP28. Eu acho que todos estamos nos perguntando: haverá quantas COPs? Quantas COPs a ‘mãe natureza’ nos dará antes de ultrapassarmos fronteiras planetárias das quais não poderemos voltar?”, questionou, ressaltando que há extrema urgência em levar este assunto a sério.

Ele apontou que o Brasil pode servir como exemplo de desenvolvimento sustentável para o mundo e que a melhora nos números de desmatamento da Amazônia está se convertendo em mais investimentos.

“O Brasil pode continuar demonstrando o progresso que tem feito [na Amazônia] e expandi-lo para outros biomas, como o cerrado”, disse. “A proteção da floresta tem que andar de mãos dadas com o desenvolvimento econômico”.

Participando do painel ao lado do CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, Kerry chamou alertou para a importância do agronegócio brasileiro aumentar sua produção sem expandir terras de colheita ou pastagem.

“Algo que aprendemos nos últimos anos é que podemos explorar muito menos terra e produzir muito mais -e isso acontece também com a pecuária. Não estamos em uma situação em que precisamos dizer às pessoas para largar uma oportunidade ou se sacrificarem. É possível ter critérios mais altos e viver com sustentabilidade”, afirmou.

Segundo dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima), em 2022 o desmatamento respondeu por 49% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, seguido pela agropecuária (principalmente pela emissão de metano do rebanho bovino), com 25%, e energia, com 18%. Porém, como quase todo o desmate no país está associado à produção agropecuária, é possível dizer que este setor é o principal responsável pelas emissões nacionais.

“O agronegócio brasileiro tem a oportunidade de servir de exemplo de como uma alta produtividade pode ser associada a práticas que têm emissões baixas”, ressaltou.

JÉSSICA MAES E PEDRO LOVISI / Folhapress

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