SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais de metade das mulheres que procuraram o SUS (Sistema Único de Saúde) para tratar câncer de mama nos últimos três anos buscou cuidados de forma tardia. Ao receberem o diagnóstico, elas já estavam com a doença em estágios avançados ou metastáticos, segundo dados do Ministério da Saúde, disponíveis na plataforma Radar do Câncer.
Quanto mais rápido o câncer é detectado, porém, maiores as chances de tratamento e cura. Em 2015, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) estabeleceu diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama. Entre elas, está a indicação do rastreamento (exame em mulher que não tem sintomas) feito com mamografia procedimento de rastreio por imagem no tecido mamário que pode detectar nódulos ainda não palpáveis.
É comum encontrar mutirões de mamografia no mês de outubro, escolhido para a campanha de prevenção ao câncer de mama. Na Bahia, o governo estadual disponibiliza unidades móveis que ofertam o exame; em São Paulo, elas são chamadas de “carretas da mamografia” pela gestão; e no Rio de Janeiro, de “mamógrafos móveis”.
Ainda existem, porém, dúvidas sobre a realização do exame. Em alguns locais, por exemplo, a mamografia é ofertada para mulheres entre 40 e 69 anos, enquanto em outros, a partir de 50. Algumas das unidades móveis também não atendem mulheres que já fizeram cirurgias nas mamas.
Por isso, a Folha de S.Paulo procurou ginecologistas, mastologistas e oncologistas para responder as principais dúvidas sobre o procedimento.
IDADE RECOMENDADA PARA A MAMOGRAFIA
O rastreamento com mamografia é recomendado para mulheres entre 40 e 69 anos, que têm maior risco de câncer de mama, segundo o médico Felipe Zerwes, presidente da Comissão de Mastologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). Exceções à regra, segundo ele, são pacientes com risco aumentado para câncer devido a histórico familiar.
“O que se recomenda são hábitos de vida saudáveis, o autoexame mensal e o exame físico com um profissional de saúde periodicamente”, afirma. No SUS, porém, os exames são autorizados para mulheres entre 50 e 69 anos, explica ele.
DIFERENÇA DE IDADE ENTRE SUS E REDE PARTICULAR PARA MAMOGRAFIA
O SUS segue as diretrizes do Inca, nas quais a mamografia de rastreamento é indicada para pacientes de 50 anos com periodicidade bienal, ou seja, uma vez a cada dois anos.
“Quando a gente faz mamografia em pacientes abaixo de 50 anos, existe a possibilidade, devido às mamas mais densas, de achar o que a gente chama de falsos negativos, nos quais o exame não detecta a lesão, e também de falsos positivos, que sugere uma lesão que pode não ser nada. A avaliação do Inca é a que seria mais custo efetivo”, diz Zerwes.
Por outro lado, essa não é a recomendação das sociedades científicas, como a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Colégio Brasileiro de Radiologia, Sociedade Brasileira de Mastologia e Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, que sugerem 40 anos como idade ideal para começar a fazer o exame de rastreamento, além de periodicidade anual.
“Assim podemos fazer o diagnóstico do câncer de mama em mulheres jovens e num intervalo de tempo menor, com maiores chances de cura”, diz Vanessa Donatelli, mastologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
A RADIAÇÃO DA MAMOGRAFIA É PREJUDICIAL?
O exame, que trata-se de um raio-x, tem radiação baixa. Portanto, não há razões para preocupação, segundo especialistas. “A radiação emitida na mamografia não causa nenhum dano à mulher. Muito pelo contrário, dá a chance de fazer o diagnóstico precoce do câncer de mama e se curar”, diz Donatelli.
Existem técnicas e equipamentos que podem ser utilizados para proteger a paciente da radiação, caso ela esteja muito preocupada, afirma a oncologista Juliana Martins Pimenta, da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Mas, segundo ela, o benefício de se realizar a mamografia é muito maior do que qualquer risco atrelado ao exame.
“A gente não associa a realização da mamografia a um risco maior de desenvolvimento de câncer e isso não contraindica a realização do exame de forma alguma. A mamografia permitiu a detecção precoce do câncer de mama e, dessa forma, já faz alguns anos que a gente tem reduzido a mortalidade”.
QUEM TEM SILICONE PODE FAZER MAMOGRAFIA?
Quem tem prótese de silicone também pode fazer o exame.
“Eventualmente são necessárias algumas imagens adicionais, mas isso não impede a realização do exame e permite também, com as técnicas atuais de mamografia, uma avaliação bem adequada do tecido mamário. O ultrassom pode ser utilizado para complementação. É comum a gente fazer essa combinação, para ajudar na detecção de eventuais nódulos suspeitos e pode ser solicitado também uma ressonância se restar alguma dúvida”, afirma Pimenta.
Durante o exame, o responsável também pode fazer uma manobra, um “afastamento posterior” do implante de silicone na mama da paciente antes de ser colocada no mamógrafo, diz Donatelli.
QUEM TEM SEIOS DENSOS DEVE SE PREOCUPAR?
Nas mulheres com seios densos, as mamas possuem pouca gordura (tecido adiposo) e muitas glândulas (tecido glandular). Elas precisam ficar mais atentas a nódulos, segundo Zerwes.
“Elas têm um discreto aumento de risco de câncer de mama e normalmente a mamografia tem que ser complementada pela ultrassonografia mamária. Em casos especiais, se houver alguma dúvida, [deve ser complementada] por ressonância magnética mamária”, afirma o médico.
GESTANTES PODEM FAZER MAMOGRAFIA?
Especialistas não recomendam a realização do exame em gestantes por causa da radiação, que pode ser prejudicial para a formação do feto. O Inca, porém, afirma que a mamografia pode ser feita com avental de chumbo para proteger o abdômen, embora os cálculos de exposição de radiação ao útero, segundo a instituição, sugiram que não existe virtualmente nenhuma radiação que alcance o feto se utilizado o equipamento adequado.
Lactantes, por outro lado, podem realizar o exame, diz Donatelli. Segundo recomendação do Inca, o rastreamento costuma ser evitado durante a amamentação porque a densidade mamária fica significativamente aumentada nesse período, diminuindo a sensibilidade do método para a detecção do câncer.
HOMEM TAMBÉM FAZ MAMOGRAFIA?
Homens também podem ter câncer de mama, apesar dos casos serem raros. Eles devem prestar atenção ao câncer de mama quando tem uma histórico familiar de doença, segundo Zerwes, mas não há uma recomendação formal para a realização do exame em homens mesmo em pacientes com mutação que aumenta o risco da doença.
“O homem deve, às vezes, poupar a sua mama, mas se ele não tem uma história familiar, a probabilidade de ter câncer é muitíssimo baixa. Qualquer alteração, sinal ou sintoma, como nódulo, dor ou secreção, por sua vez, ele tem que procurar um serviço de saúde, porque pode sim ter câncer de mama”, afirma o médico.
Já para homens trans não submetidos a mastectomia, existe a opção de rastreamento no SUS desde 2022 e as recomendações são as mesmas feitas às mulheres.
Em 2022, foram realizadas 4.239.253 mamografias em mulheres no SUS. Em homens, foram realizadas 8.719 mamografias, incluindo para fins diagnósticos e de rastreamento.
GEOVANA OLIVEIRA / Folhapress