Blink-182 lança disco anacrônico e feito para lembrar passado da banda

FOLHAPRESS – O pop rock não morreu, mas está fora do mainstream faz tempo. Enquanto artistas mais jovens como Maneskin e Olivia Rodrigo tentam se agarrar aos últimos coletes salva-vidas do gênero, tínhamos, apenas algumas décadas atrás, toda uma frota a serviço de quem gostava de tocar instrumentos e fazer um som pesado e ao mesmo tempo palatável.

O Blink-182 era um dos principais. Ouvir a sequência de álbuns que vai de “Dude Ranch”, de 1997, a “Take Off Your Pants And Jacket”, de 2000, passando por “Enema of the State”, de 1999, é abrir um portal diretamente para a juventude da geração X, aquela nascida entre o final dos anos 1960 e o começo dos 1980.

Nelas, vemos toda a angústia dos “filhos do meio da história”, para citar Palahniuk, traduzida em guitarras distorcidas, melodias divertidas e um niilismo adorável, menos agressivo e mais pessoal do que o de seus predecessores punks.

São letras confessionais, que traduzem toda a inadequação de um homem crescendo em meio a definições transitórias de masculinidade, relacionamentos e até do que é ser um rockstar, o que gerou uma legião de fãs que, junto com a banda, cresceram.

Com 17 faixas, incluindo três interlúdios, o álbum “One More Time” resgata os tempos áureos de Blink-182, mas, em sua maior parte, permanece no passado de forma pouco original.

A primeira faixa, “Anthem Part 3”, é cheia de positividade. Trata-se de um hino que vislumbra um futuro com mais esperança, sem ser, segundo a própria letra, complacente com o status quo. É uma música com uma atmosfera muito diferente das duas primeiras partes de “Anthem”, que estão em “Enema of the State” e “Take Off Your Pants And Jacket”.

Otimismo um tanto incomum para banda e que chega a causar certo estranhamento. Ele se dissipa, porém, já no começo de “Dance With Me”, quando Mark canta “quando eu ensino sobre masturbação, eu sempre digo: se divirta”, resgatando o humor que acompanha a banda desde os primórdios. O clipe da faixa, inclusive, faz homenagem aos Ramones e ao próprio Blink, com easter eggs dos clipes mais icônicos da banda.

Mas a diversão autêntica do álbum parece parar por aí. Logo depois há “Fell in Love”, com uma melodia que parece ter saído de uma propaganda do Youtube e com uma letra genérica sobre um ex-amor. Percebe-se nela que a banda parou no tempo.

É evidente que, em mais de trinta anos de existência, o Blink-182 nunca cantou sobre as profundezas da psique humana, mas suas letras eram sinceras quando tratavam do nervosismo de um primeiro encontro, de ser julgado aos 23 anos ou de ter uma namorada mais interessante do que você.

Hoje, a banda canta sobre nada. Se havia toda uma angústia de crescer nos anos 1990, com certeza há uma angústia de envelhecer nos anos 2020. Vemos, porém, muito pouco disso neste álbum novo.

A exceção é faixa que dá título ao disco. Mais pessoal, “One More Time” resgata, com uma saudade genuína, a história de três décadas da banda. Há referências às —várias— saídas tumultuadas do guitarrista Tom Delonge do grupo, ao diagnóstico de câncer do baixista Mark Hoppus e até ao acidente de avião envolvendo o baterista Travis Barker em 2008.

A homenagem mais sensível da faixa, porém, está na melodia —um quase sample de um dos seus singles mais conhecidos, “I Miss You”, do álbum “Blink-182”, de 2005. Um vislumbre de renovação também existe nos interlúdios, com letras engraçadas e musicalidade que vai de Dead Kennedys até Box Car Racer, outra banda de Tom Delonge.

O pastiche, porém, retorna em “Edging”. Lançada como single há mais de um ano, a música chiclete serviu como aquecimento para a apresentação do Blink-182 no Lollapalooza deste ano, que não aconteceu por conta de uma lesão na mão de Travis Barker.

Aos brasileiros, restou um pedido de desculpas de Tom Delonge, prometendo que voltariam ao país em 2024, e vídeos da socialite Kourtney Kardashian anunciando estar grávida de Travis.

Os membros do Blink-182 têm entre 47 e 51 anos, idade dos pais dos adolescentes que sempre foram seu público. Ao tentar preservar a mesma atitude de 1999, o trio parece não ressoar nem com as endurecidas gerações mais jovens nem com a sua própria geração. Trazer o pop punk de volta sem saudosismo barato ou anacronismo não é algo simples, mas tampouco inédito.

O Paramore, por exemplo, se reinventou. Fundada mais de dez anos depois de Blink-182, a banda de pop rock aprimorou letras e musicalidade ao longo dos anos, atingindo seu ápice justamente este ano, com o álbum “This is Why”, que entrega um rock alternativo de ótima qualidade com referências como NEU! e Kraftwerk.

Atualmente, a principal referência de Blink-182 é Blink-182. O que resta, portanto, é viver de nostalgia, de “Keeping Up with the Kardashians” e de fotos da mão dilacerada do baterista Travis Barker —que já deve ter se machucado de novo, assim que você acabar de ler este texto.

ONE MORE TIME

Avaliação Regular

Onde Nas plataformas digitais

Autoria Blink-182

ISABELLA FARIA / Folhapress

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