RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – “Anota meu Whatsapp aí que eu levo na sua casa”. Esta foi a frase mais proferida por cambistas na última quarta-feira (19), nos arredores do Maracanã, antes do jogo entre Fluminense e Corinthians, quando a reportagem do UOL se passou por torcedor em busca de ingressos para a final da Copa Libertadores, dia 4 de novembro, entre o time tricolor e o Boca Juniors. Os preços atingem até R$ 5 mil.
A abordagem por dezenas de cambistas começou pouquíssimos minutos depois de chegar na rua Professor Eurico Rabelo, onde há o acesso do Setor Sul do estádio e que concentra a maior parte dos torcedores do Fluminense.
A aproximação ocorreu sem o menor pudor e preocupação com o policiamento. Alguns deles ofereceram ingressos a menos de cinco metros de policiais e guardas municipais, que em nenhum momento interviram.
Inicialmente, os bilhetes oferecidos eram os do jogo de nesta quinta-feira (19), mas em todos os diálogos a busca era por entradas para a final da Libertadores. Dos cerca de dez em que houve uma “negociação”, apenas um disse que não estava vendendo. Os demais garantiam não só possuir como adotavam o mesmo modus operandi:
Os preços variavam entre R$ 3 mil e R$ 3,5 mil para a categoria 3 (setores Norte e Sul) e até R$ 5 mil para as categorias 1 e 2 (setores Oeste e Leste), valores bem inflacionados em relação aos estabelecidos oficialmente pela Conmebol.
Eles não tinham o ingresso físico no momento e não davam qualquer garantia de segurança, mas afirmavam que bastava anotar seus telefones que um serviço “delivery” entregaria o bilhete na própria residência.
“Você anota meu Whatsapp, a gente combina e eu levo o ingresso na sua casa. Mas resolve logo porque a procura está grande”, disse um deles, que pediu para ter seu nome salvo no telefone como “Cristiano Eventos”.
Quando perguntado se havia alguma segurança de que os ingressos eram verdadeiros, um dos cambistas ofereceu uma espécie de “taxa de serviço”, com o restante sendo pago somente após a entrada do Maracanã.
“Eu entrego o ingresso para você, tu me paga R$ 700 e só me dá o restante depois de entrar no estádio. Aí você me faz um pix. Outros clientes já fazem isso comigo, olha só”, disse o cambista Guilherme, mostrando conversas e fotos de Whatsapp em seu celular com supostos torcedores que utilizaram seus “serviços”.
Já o único cambista abordado pela reportagem que garantiu não ter ingressos para a final da Libertadores alertou sobre golpes:
“Fica esperto pois tem muito cara aí dizendo que tem, mas é tudo falso. Vão imprimir um igualzinho, tu vai pagar e perder um dinheiro. Só compra com quem for de sua confiança”, disse ele, que comercializava apenas bilhetes para o Flu e Corinthians.
Questionado se conseguiria ingressos para a decisão posteriormente, ele revelou um suposto comércio paralelo.
“Só se eu conseguir das agências”, declarou, se referindo às agências de viagem que costumam oferecer pacotes com hospedagem, translado e ingresso.
A grande maioria dos cambistas se concentrou próxima às bilheterias 1,2 e 4 do Maracanã. E em todas elas haviam policiais e guardas municipais.
OS VALORES OFICIAIS DA VENDA DA CONMEBOL
A Conmebol iniciou as vendas para a final da Libertadores no dia 12 de setembro, primeiramente somente para as categorias 1 (cadeiras inferiores dos setores Leste e Oeste) e 2 (cadeiras superiores do setor Leste).
A categoria 3 (setores Norte e Sul) começou a ser vendida após a definição dos finalistas, uma vez que ela é exclusiva aos torcedores de Fluminense e Boca Juniores. Os tricolores ficarão no Sul e os argentinos na Norte, com uma capacidade de cerca de 20 mil para cada.
Categoria 1 (cadeiras centrais inferiores): R$ 1.300,00
Categoria 2 (cadeiras centrais superiores): R$ 800,00
Categoria 3 (atrás dos gols): R$ 260,00
No site oficial oferecido pela Conmebol, cada usuário cadastrado poderia comprar até cinco ingressos todos nominais e intransferíveis.
VENDAS E NEGOCIAÇÕES NA INTERNET
Nas redes sociais, as negociações clandestinas também estão a todo vapor. No Whatsapp, contatos de cambistas têm sido compartilhados e grupos no Facebook foram criados para os mais variados tipos de negócio, caso do que foi nomeado de “Final da Copa Libertadores 2023 (Maracanã-Rio/BRA) Ingressos/Entradas/News”, que conta com mais de 1,2 mil membros.
Por lá, há subgrupos para negociações de cada categoria de entrada, e há tanto oferta de ingressos como também propostas de trocas de setores. Há outras postagens oferecendo transfers ao Maracanã e serviços de hospedagem.
Os mesmos administradores da página também criaram um grupo de Whatsapp com o mesmo objetivo.
BRUNO BRAZ / Folhapress