BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do Palácio do Planalto veem como uma surpresa boa o resultado do primeiro turno na Argentina, em que o candidato governista, atual ministro da Economia, Sergio Massa, superou o ultraliberal Javier Milei, nas urnas em votação neste domingo (22).
Nas redes sociais, ministros de Lula comemoraram a largada de Massa. Mas, nos bastidores, integrantes do governo adotam cautela ao tratar sobre Milei, por temer uma virada do candidato.
Eles acreditam que o peronismo demonstrou ainda ter fôlego, com Massa com 36,4% dos votos válidos, contra 30,1% do ultraliberal. Citam ainda o fato que Milei cresceu pouco das prévias até o primeiro turno, enquanto Massa dobrou o número de votos nominais.
A avaliação é de que os votos da macrista Patricia Bullrich e de Juan Schiaretti, com 23,8% e 7%, respectivamente, serão essenciais neste segundo turno.
Diante da possibilidade de que Bullrich possa declarar apoio em Milei, governistas minimizam sua capacidade de transferência de voto. A leitura é de que ela, apesar de ter ficado em terceiro lugar, saiu enfraquecida e desidratada nas urnas.
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) parabenizou Massa pela liderança no primeiro turno, nas redes sociais. “Na torcida para que aqueles que desprezam a vida e a democracia sejam derrotados, presidente Alberto Fernandez”, disse no X, novo Twitter.
Paulo Pimenta (Secom), por sua vez, publicou uma foto com Fernandez e Massa e disse: “Viva o povo argentino”.
A titular de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, chamou o resultado de “boas notícias”.
“Daqui, vibramos com a decisão deste país irmão de seguir lutando por democracia, desenvolvimento soberano com justiça social e na busca por equidade e pela superação das desigualdades sociais”, afirmou.
Fernando Haddad (Fazenda), por sua vez, evitou emitir opinião sobre o resultado, mas disse estar acompanhando o pleito “com interesse” devido ao Mercosul.
“Não dá para comentar resultado de eleição até porque tem um segundo turno agora. Nós estamos acompanhando com interesse por causa do Mercosul. Para nós, é importante consolidar uma integração na região. A integração regional é muito importante para o Brasil”, disse.
Sem fazer referência direta à declaração de Milei sobre retirar a Argentina do bloco comercial caso seja eleito presidente, o chefe da equipe econômica defendeu a integração regional.
“Estou acompanhando com interesse porque sou integracionista. Eu gosto de pensar em uma América do Sul mais integrada, negociando com a União Europeia de forma mais forte”, completou.
Entre integrantes do governo e palacianos, há uma avaliação de que uma eventual vitória do ultraliberal seria sobretudo negativa para a política externa de Lula, que busca alinhamento maior entre os países da região.
Mas, do ponto de vista econômico, a leitura é de que discurso de Milei tem muito de retórica eleitoral.
A Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil e, apesar de dizer que não faria negócios com o país, Milei não conseguiria romper os laços comerciais entre as nações.
Citam, como exemplo, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Crítico a Alberto Fernandéz, ele disse que os argentinos escolheram mal e teve uma postura dura contra o país vizinho.
Ainda assim, Brasil e Argentina continuaram sendo relevantes um para o outro, do ponto de vista político, ainda mais no setor de automotivos e montadoras. Portanto, a leitura é de que Milei ameaçaria uma melhora na relação, mas não conseguiria representar, necessariamente, uma regressão.
A eleição no domingo na Argentina registrou a segunda participação mais baixa em 40 anos.
Entre os mais de 35 milhões de eleitores habilitados a votar, 77,7% compareceram às urnas, contra 80% no pleito de 2019. O número, porém, foi mais alto do que nas primárias de agosto, quando o índice ficou em 70%.
Desde a redemocratização na Argentina, somente a eleição presidencial de 2007 teve participação inferior no primeiro turno, com presença de 76,2% dos eleitores.
Mais de 35 milhões de eleitores escolheram o peronista Sergio Massa e o ultraliberal Javier Milei, para disputarem o segundo turno, marcado para 19 de novembro.
Para vencer no primeiro turno, um candidato precisava receber mais de 45% dos votos válidos ou 40% desse contingente e uma distância de dez pontos percentuais em relação a quem estivesse em segundo. Com 98,51% urnas apuradas, Massa marcava 36,68%, e Milei, 29,98%.
MARIANNA HOLANDA, NATHALIA GARCIA E RENATO MACHADO / Folhapress