SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de uma série de ataques contra escolas no país durante o primeiro semestre, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) contratou 550 psicólogos para atuar nas mais de 3.600 unidades escolares da rede estadual paulista, que conta com mais de 3,5 milhões de alunos.
Em média, a contratação faz com que esses profissionais sejam responsáveis pelo atendimento de mais de 6.300 estudantes.
A contratação de psicólogos foi uma das promessas do governador após o ataque à escola Thomazia Montoro, na zona sul da cidade de São Paulo, em abril deste ano. Tarcísio anunciou que contrataria esses profissionais e vigilantes particulares para atuar nas unidades.
Antes da chegada desses 550 profissionais, a rede estadual não tinha psicólogos que atendiam às escolas de forma presencial.
Mesmo com a mudança de contratação, especialistas e educadores reclamam do baixo número de profissionais que atuam nas escolas e falta de coordenação com os equipamentos de saúde para atender casos identificados como de maior gravidade.
Nesta segunda-feira (23), após mais um ataque a tiros contra uma escola estadual paulista, Tarcísio reconheceu que o governo falhou em promover ações de prevenção. Ele mais uma vez prometeu contratar mais psicólogos para atuar nas redes de ensino, sem informar quantos profissionais seriam contratados nem em quanto tempo.
A Secretaria de Educação não respondeu sobre o número de psicólogos disponibilizados para as escolas.
“É impossível para qualquer profissional, por mais qualificado que seja, conseguir fazer um bom trabalho com esse número excessivo de alunos. São muitas demandas, muitas situações dentro da escola para essa quantidade de psicólogos dar conta”, diz Valéria Campinas Braunstein, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Para ela, os profissionais deveriam atender, no máximo, quatro escolas -para que pudessem trabalhar em apenas uma unidade por semana durante o mês. “O psicólogo precisa entender a dinâmica e necessidade de cada escola. Ele não vai chegar e propor soluções imediatas, ele precisa identificar como atuar em cada local para fazer um trabalho efetivo”, Valéria.
Estudos nacionais e internacionais apontam que a medida mais efetiva é que os educadores recebam formação para consegui promover um ambiente escolar mais saudável. Com a capacitação adequada, eles podem identificar de forma mais ágil situações de bullying ou casos de estudantes com transtornos ou sofrimento mental.
“Não adianta contratar psicólogos para atender essa quantidade de alunos. Eles não vão dar conta de identificar problemas, situações de conflito e muito menos dar um encaminhamento que possa reduzir a violência. Isso é uma resposta política para o problema, não é uma resposta efetiva”, diz a pesquisadora Cleo Garcia, que estuda ataques no ambiente escolar.
Escolas particulares costumam ter psicólogos no quadro de funcionários, mas eles atuam em parceria com a equipe docente para ajudar a dar encaminhamento a situações de conflito. Para Valéria, esses profissionais deveriam atuar nas escolas junto com um assistente social para dar direcionar os estudantes e professores a cuidados especializados.
“Os problemas de convivência escolar são fruto de uma série de problema. Assim como só a escola não dá conta de resolver todos eles, o psicólogo também não dá. O trabalho em conjunto com a assistência social é muito mais efetivo para dar encaminhamento, por exemplo, para situações de violência doméstica, sexual, abandono”, diz a conselheira.
No fim de setembro, o governador estadual vetou um projeto aprovado na Assembleia Legislativa que autorizava a contratação de psicólogos e assistentes sociais para as escolas públicas da rede estadual.
Na justificativa do veto, a gestão Tarcísio afirmou já está desenvolvendo o programa “Psicólogos nas Escolas” -exatamente o responsável pela contratação dos 550 profissionais.
As especialistas também lembram que o trabalho do psicólogo na escola não é clínico, ou seja, ele não vai fazer atendimento individualizado aos alunos. “Se há um caso mais grave, o papel desse profissional é encaminhar o aluno para um atendimento especializado na rede de saúde”, diz Cleo.
A Folha de S.Paulo mostrou que o Brasil possui graves lacunas no atendimento à saúde mental de crianças e adolescentes. Em São Paulo, que conta com 10 milhões de pessoas de até 17 anos, são apenas 79 Caps infantojuvenis habilitados.
ISABELA PALHARES / Folhapress