SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de prever uma melhora do PIB (Produto Interno Bruto) de 2023, com a volta do Brasil ao nono lugar entre as maiores economias do mundo em valores correntes, o FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que o país ficará estagnado em oitavo lugar na comparação de paridade do poder de compra.
Ao divulgar seu relatório Perspectiva Econômica Global, o FMI apontou “uma agricultura dinâmica e serviços resilientes no primeiro semestre de 2023” como os principais motivos para elevar a projeção de expansão do Produto Interno Bruto do Brasil neste ano a 3,1%, vindo de 2,1% em julho e de 0,9% em abril.
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB é um indicador que mostra a soma de todos os bens, serviços finais e serviços produzidos no período de um ano.
Na lista que mostra o Brasil subindo para a nona colocação, a comparação dos PIBs nacionais é em dólares correntes. Quando o dólar se valoriza na moeda local (como o real, no caso do Brasil), o PIB em dólares cai e vice-versa.
Já o ranking dos países em dólares ajustados pela PPC (Paridade do Poder de Compra, ou PPP, na sigla em inglês) consegue refletir as diferenças no custo de vida dos países e costuma ser considerada uma comparação mais justa.
Pela primeira métrica, os Estados Unidos são a maior economia mundial e devem terminar 2023 com um PIB de US$ 26,95 trilhões, seguido pela China (US$ 17,7 trilhões) e pela Alemanha (US$ 4,43 trilhões), segundo as projeções do FMI de outubro.
O Brasil está na nona posição em outubro, assumindo o posto ocupado pelo Canadá no relatório do FMI de abril.
Já pela PPC, a China é a primeira da lista, seguida por Estados Unidos, Índia e Japão, segundo os dados do FMI compilados pela consultoria Austin Rating.
O Brasil, por sua vez aparece na oitava posição, à frente da França e do Reino Unido. Mas a colocação é a mesma do ano passado e as projeções mais recentes do Fundo são de estagnação, com o Brasil devendo continuar ocupando o oitavo lugar do ranking pelo menos até 2028.
Apesar de mostrarem cenários diferentes, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, ressalta que ambos os indicadores são importantes. “O PIB em dólar corrente é amplamente utilizado para comparações financeiras. Quando uma multinacional ou um investidor do mercado financeiro vai alocar seus recursos em um determinado país, ele avalia esse indicador.”
“É uma forma de saber qual é o potencial de retorno dos recursos investidos naquela economia e que consegue medir, de forma indireta, como a política monetária interfere na política comercial externa.”
Segundo o Banco Mundial, que também faz rankings de paridade, o PPC permite comparar os tamanhos relativos das economias e a renda e o consumo da população, controlando as diferenças dos níveis de preços entre os países.
Para Agostini, o PIB pela paridade de compra é útil para mostrar o potencial de crescimento e desenvolvimento dos países com menos distorções.
“O Brasil recebe muito capital estrangeiro, tem uma moeda volátil. Quando olhamos pela PPC, ela mostra mais o potencial de crescimento do que a realidade econômica.”
Para o economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), Fabio Bentes, entre as principais explicações para a estagnação do Brasil na lista está o longo período de baixo crescimento nos últimos dez anos.
“Se fizermos um apanhado da última década, a partir de 2014 e considerando a expectativa que se tinha na década anterior, a economia brasileira cresceu muito pouco, estamos falando de 0,5% ao ano, em média”, diz.
Segundo Bentes, o crescimento surpreendeu depois da pandemia, mas o período anterior, de 2017 a 2019, foi de uma média de crescimento de 1,5% ao ano. “Na década anterior (2004-2013), a média de crescimento tinha sido de 4%.”
DOUGLAS GAVRAS / Folhapress