Hoje é dia de celebrar um dos maiores e mais importantes artistas da história do nosso país: o cantor, compositor, produtor, instrumentista, artista plástico e professor cearense Belchior. Bel completaria 77 anos. Confira uma matéria especial para celebrar sua música e existência:
Belchior
Antônio Carlos Belchior era um estudioso da palavra, um poeta. Suas composições inteligentíssimas e cheias de personalidade traduzem a urgência e a inquietude do jovem brasileiro de sua época. Cantava temas filosóficos, geracionais e humanos, em uma obra de forte caráter crítico, político e poético.
Dono de uma voz inconfundível e interpretação intensa, Belchior foi gravado por muitos outros grandes nomes da música brasileira. Seu legado e sua contribuição notória para o cancioneiro popular brasileiro são gigantescos.
Aliás, ele brincava – adicionando os sobrenomes do pai e da mãe – que seu nome completo era Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o maior nome da música popular brasileira. Mas ele não precisava disso: apenas como Belchior, já era um dos maiores nomes da nossa MPB.
Do Ceará para o mundo
Belchior nasceu em Sobral, no Ceará, em 1946. Durante sua infância, foi cantador de feira e poeta repentista. Estudou música coral e piano – sua mãe cantava no coral da igreja.
Ainda criança, foi muito influenciado por cantores do rádio como Ângela Maria, Cauby Peixoto e Nora Ney. Trabalhou também como programador de rádio em Sobral e teve grande influência dos Beatles, o que depois traduziu-se em sua obra.
Em 1962, mudou-se para Fortaleza, onde estudou Filosofia e completou seus estudos no colégio de padres. Em seguida, Belchior viveu um período de disciplina religiosa, em comunidade com frades italianos no mosteiro Guaramiranga, onde aprimorou seu latim, italiano e canto gregoriano.
Mais tarde, o artista incluiu muitos idiomas em suas canções – além do português: inglês, espanhol, italiano, francês e latim.
Sobre esta época, ele contou certa vez em entrevista:
“Nesse tempo do colégio de padres, a música era uma disciplina normal no currículo. Essas coisas me encaminharam para o fazer artístico”.
Depois, Bel voltou para Fortaleza, onde trabalhou como professor e também no programa Porque Hoje é Sábado, da TV Ceará, que apresentava a nova geração da música local.
Ele chegou a estudar Medicina na Universidade Federal do Ceará (passou em primeiro lugar!), mas abandonou o curso no quarto ano, em 1971, para dedicar-se à carreira artística.
O Pessoal do Ceará e o reconhecimento nacional
De 1967 a 1970, Belchior participou de diversos festivais de música do nordeste. Logo, juntou-se a um grupo de jovens compositores e músicos cearenses – como Fagner, Amelinha e Fausto Nilo – que se autointitulavam o Pessoal do Ceará.
Em 1971, mudou-se para o Rio de Janeiro, junto com outros artistas do Pessoal do Ceará, para tentar a vida como artista.
O reconhecimento começou a chegar neste mesmo ano, quando Belchior venceu o IV Festival Universitário da Música Popular Brasileira – promovido pela TV Tupi – com sua música Na Hora do Almoço, interpretada por Jorginho Telles e Jorge Neri.
Com essa música, Belchior estreou como cantor em disco, com um compacto da etiqueta Copacabana. Em 1972, mudou-se para São Paulo, onde compôs algumas trilhas sonoras para curta-metragens.
No mesmo ano, sua canção em parceria com Fagner – Mucuripe – foi gravada por Elis Regina, em seu disco Elis, contribuindo mais um tanto para a sua projeção nacional. A canção já tinha entrado, no mesmo ano, para o disco de bolso do jornal O Pasquim, interpretada por Sérgio Ricardo.
Em 1974, Belchior lançou o seu primeiro LP, A Palo Seco, cuja música título tornou-se imediatamente um sucesso nacional. O disco também conta com a canção Na Hora do Almoço e mais nove composições solo de Belchior.
Em 1975, Mucuripe também foi gravada por Roberto Carlos. No mesmo ano, outra canção de muito sucesso de Belchior foi lançada pela cantora Vanusa, em seu álbum Amigos Novos & Antigos: Paralelas. No ano seguinte, Erasmo Carlos também gravou o sucesso em seu disco Banda dos Contentes.
Alucinação
Em 1976, Belchior lançou o seu segundo álbum, Alucinação, considerado um dos mais importantes e revolucionários discos da história da música brasileira, uma verdadeira obra prima, que lançou o poeta cearense ao estrelato e o transformou em um dos maiores nomes da nossa história.
Entre os imensos sucessos do disco, além da faixa-título, estão os clássicos:
- Apenas Um Rapaz Latino-americano;
- Velha Roupa Colorida;
- Sujeito de Sorte;
- Como Nossos Pais;
- e mais cinco composições solo de Belchior.
Sobre o título Alucinação, Belchior explicava: “Viver é mais importante que pensar sobre a vida. É uma forma de delírio absoluto, entende?“.
O disco foi produzido por Marco Mazzola, que dizia considerar Belchior o Bob Dylan brasileiro.
“Esse disco resume o sentimento de toda uma geração brasileira…”
Josely Teixeira Carlos, radialista, professora e pesquisadora da USP, diz que “esse disco resume o sentimento de toda uma geração brasileira, interiorana no meio da cidade grande.”. Em 2016, ela idealizou o Projeto Belchior 70, em que analisou – em uma série de programas radiofônicos – toda a discografia autoral de Belchior.
Ela ressalta várias referências que o poeta imprimia em suas composições, como conflitos geracionais e ideológicos, filosofia, a relação entre o regional e o nacional no Brasil, as questões migratórias entre o campo e a cidade, a relação do homem com a religião e o papel do jovem e do povo brasileiro em um cenário mais amplo da América Latina.
O álbum realmente contém canções que exprimem a urgência do jovem brasileiro da época, entre a violência do estado e o fim dos sonhos de liberdade, com a Ditadura Militar em pleno vapor.
A sólida base sonora do álbum transita entre o blues, o country, o baião e o rock. O disco vendeu 30 mil cópias em apenas um mês e mais de 500 mil cópias no total, consagrando Belchior como um ídolo de massa.
Mesmo após vários anos de seu lançamento, Alucinação ainda ecoa várias canções por rádios, TVs, shows e regravações em todas as partes do Brasil.
Somado a isso, o fato de duas de suas composições terem sido gravadas por Elis Regina no LP Falso Brilhante, do mesmo ano: Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais, tornando-se verdadeiros hinos brasileiros.
Elis Regina foi uma das colaboradoras a lançar Belchior ao sucesso, mas – com certeza – Belchior também foi um dos responsáveis por abrilhantar ainda mais a carreira da já consagrada cantora, uma das maiores do Brasil.
Uma obra em primeira pessoa
Em 1977, Belchior lançou o seu terceiro disco: Coração Selvagem. Entre as nove canções – todas de autoria solo do artista – estão grandes sucessos como a música título, Paralelas e Galos Noites e Quintais. Essa última tinha sido gravada por Jair Rodrigues no ano anterior e feito imenso sucesso.
Em 1978, foi a vez do disco Todos os Sentidos, que traz o grande sucesso Divina Comédia Humana, além de outras canções como Bel-prazer e Brincando com a Vida.
Belchior é conhecido por ser um compositor de poucas parcerias (mas muitos encontros musicais maravilhosos) e isso fica muito claro nos seus três primeiros álbuns. No quarto disco, das 10 canções, apenas uma é uma parceria com Tuca: a canção Sensual. Todas as outras são somente de Bel.
Esse caminho quase solitário de composição se traduz em uma obra impregnada da personalidade do autor, que escreve sobre suas memórias, seus sentimentos e suas impressões de mundo. Não por acaso, boa parte da sua obra é escrita em primeira pessoa.
Já em 1979, Belchior lançou o disco Era Uma Vez Um Homem e o Seu Tempo, que conta com a música Medo de Avião, além de uma homenagem a John Lennon: Comentário a Respeito de John, em parceria com José Luís Penna. Outros destaques do disco são as canções:
- Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum (parceria com Toquinho);
- e Medo de Avião II (parceria com Gilberto Gil).
Em 1980, o artista lançou o disco Objeto Direto, que conta com sua primeira gravação de Mucuripe e canções como:
- Peças e Sinais;
- Jóia de Jade (parceria com Dominguinhos);
- e Nada Como Viver (parceria com Fausto Nilo).
- Fagner participou do disco na faixa Aguapé (Epígrafe de Castro Alves).
Em 1982, lançou o LP Paraíso, no qual abriu espaço para os então jovens artistas:
- Guilherme Arantes (autor de A Cor do Cacau);
- Ednardo Nunes (autor de Rima da Prosa);
- Jorge Mautner (com quem faz parceria na canção E Que Tudo o Mais Vá Para o Céu);
- e Arnaldo Antunes (autor de Estranhaleza).
Em 1983, Belchior fundou a sua própria gravadora e produtora: a Paraíso Discos. No ano seguinte, lançou o disco Cenas do Próximo Capítulo, que conta com canções em parceria com Jorge Mello, e as regravações dos nordestinos Raul Seixas (Ouro de Tolo) e Luiz Gonzaga (Forró No Escuro).
10 anos de sucesso
Em 86, foi a vez do disco Um Show – Dez Anos de Sucesso, que traz regravações dos grandes clássicos dos seus dez anos de carreira e, em 87, o álbum Melodrama, que conta com a parceria com Moraes Moreira, Os Derradeiros Moicanos, e também com as canções De Primeira Grandeza e Em Resposta à Carta de Um Fã.
Em 1988, o LP O Elogio da Loucura, foi lançado no Teatro João Caetano, em São Paulo, com recordes de público. E, em 1990, Bel lança o disco gravado ao vivo, Trilhas Sonoras, com vários sucessos de sua carreira.
Em 1992, o disco Divina Comédia Humana, também traz regravações de seus grandes sucessos já consagrados e, em 1993, Belchior lançou o álbum Baihuno, que conta com várias canções inéditas como:
- Se Você Tivesse Aparecido (parceria com Gracco);
- e Num País Mais Feliz (com Jorge Mello);
- além da canção Senhoras do Amazonas (parceria com João Bosco).
Em 1995, o artista lançou o disco ao vivo Um Concerto Bárbaro – com regravações de seus sucessos – e, em 1996, o álbum Vício Elegante, que traz uma sonoridade pop contemporânea para regravações de sucessos de outros compositores, como:
- Chico Buarque (Almanaque);
- Adriana Calcanhotto (Esquadros);
- Djavan (Aliás;
- e Caetano Veloso (O Nome da Cidade).
Em 1997, Belchior tornou-se sócio da gravadora Cameratti e, em 1999, lançou o álbum duplo Auto-Retrato, no qual 25 de suas composições recebem novo tratamento e arranjos feitos por nomes como Rogério Duprat e André Abujamra.
No ano 2000, o cearense lançou – de forma independente – o disco De Primeira Grandeza e, em 2002, gravou com Amelinha e Ednardo, o CD Pessoal do Ceará, que conta com duas músicas inéditas: o coco-repente Mote, Tom e Radar (de Ednardo) e Bossa em Palavrões, de sua autoria. O restante do disco é composto por obras antigas compostas por ele e por Ednardo.
Em 2004, Bel musicou poemas de Carlos Drummond de Andrade para um projeto idealizado pela Revista Caras. O disco duplo, chamado As Várias Caras de Drummond, vinha acompanhado de um livro com o mesmo nome.
Em 2005, foi a vez do seu último disco em vida, Belchior Acústico, com Gilvan de Oliveira no violão, tocando os seus maiores clássicos.
O autoexílio de Belchior
A partir deste ano, Belchior encarou o autoexílio e, distante do público e da mídia, transformou-se em ícone pop e figura cult. Muitas foram as especulações em torno do seu sumiço e ele chegou até a ser tido como desaparecido em 2009, depois de ser visto pela última vez participando de um show do baiano Tom Zé.
Ele também chegou a participar de um show com a banda Los Hermanos, em 2006, que havia feito uma releitura da canção A Palo Seco poucos anos antes e afirmado serem grandes fãs do cearense.
Belchior foi encontrado vivendo no Uruguai e concedeu uma entrevista à TV Globo, dizendo que não havia desaparecido e estava preparando, além de um disco de canções inéditas, o lançamento de todas as suas canções também em espanhol. Em 2012, ele novamente desapareceu da grande mídia.
Pessoas muito próximas ao artista disseram que ele começou a mudar bastante de comportamento, se isolar e ter menos comprometimento com seus compromissos profissionais, amigos e família quando começou a se relacionar com a produtora cultural Edna Prometheu, que tornou-se sua assessora pessoal. A partir daí, passou a ter problemas também com a justiça.
Outras pessoas acreditam que Belchior era inteligente demais para ser obrigado por alguém a se isolar e se distanciar da carreira e dos amigos e familiares. Que pode ter sido uma escolha dele, algo que se passava em sua mente, ou mesmo uma depressão e necessidade de reclusão.
O jornalista e crítico musical Dalwton Moura declarou o seguinte, em uma reportagem especial sobre os 70 anos de Belchior, em 2016, sobre o sumiço do artista naquela época:
“Impossível saber. Mas bem se pode supor que, na vertigem do Brasil do retrocesso, hoje ‘nosso herói’ apenas conheça seu lugar. E esteja rindo de tudo isso, gargalhando mais e mais ao sabor de cada hipótese sobre seu paradeiro, cada tentativa de explicação, da mesa de bar à rede de TV. Entre uma obra e um destino humano, a opção por ser dono de seus dias e de seus 70 anos.”.
Em 2016, foi lançado o livro Para Belchior com Amor, organizado pelo escritor Ricardo Kelmer, e que reúne textos de catorze autores cearenses inspirados em canções de Belchior.
Despedida e homenagens
O cearense nos deixou em abril de 2017, aos 70 anos, quando vivia na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. A causa da morte foi a ruptura de um aneurisma da artéria aorta. Na ocasião, o governo do Ceará decretou luto oficial de três dias, providenciando o traslado do corpo, garantindo assim, o desejo do cantor de ser enterrado no seu estado, velado na sua cidade natal, Sobral, e sepultado em Fortaleza.
Em 2017, após a sua morte, a cantora Lúcia Menezes, sua amiga pessoal, que chegou a defender a música, Espacial, aos 12 anos, no IV Festival da Música Popular do Ceará (em 1968), apresentou ao jornal O Globo cinco músicas inéditas do compositor: Cateretê, Caravele, Pindorama, Espacial e uma sem título, além de Rosa dos Ventos, feita para a própria cantora e não gravada.
Em 2019, o musical Belchior: Ano Passado Eu Morri, Mas Esse Ano Eu Não Morro estreou no Teatro João Caetano na cidade do Rio de Janeiro. O roteiro do espetáculo se baseou em uma retrospectiva de sua vida e obra, com textos retirados de entrevistas de Belchior e banda tocando seus maiores clássicos ao vivo.
No mesmo ano, foi lançado o livro Belchior – Abraços e Canções – Entrevista Inédita, organizado por sua irmã mais nova Ângela Belchior, e Estêvão Zizzi, sobre uma entrevista que Bel teria concedido em 2005.
Ainda em 2019, o rapper Emicida lançou o grande sucesso AmarElo (faixa que dá nome também ao seu já antológico disco e espetáculo lançados no mesmo ano, e ao documentário, no ano seguinte). A canção conta com um sample com a clássica Sujeito de Sorte, clássico do de Belchior, vindo para coroar a poesia da obra, que uma lição de vida do início ao fim, em cada verso:
“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”.
A música e o clipe trazem uma forte e emocionante reflexão sobre o destino de quem luta contra a opressão, seja ela racista, classista ou de gênero e sobre força, luta e resistência, reforçando a busca por igualdade, por meio da superação, cantando sobre acreditar em um amanhã melhor: “A ideia é que as pessoas se enxerguem maiores do que os seus problemas”, conta Emicida. Tudo a ver com a obra de Belchior.
Em 2021, a cantora Sandra Pêra lançou um disco inteiro de tributo ao poeta cearense: Sandra Pêra em Belchior, com participações de:
- Zeca Baleiro (na faixa Na Hora do Almoço, mas que também já gravou Mucuripe, em 2004);
- e Ney Matogrosso (na faixa Velha Roupa Colorida, mas que também já gravou a canção Sensual, em 1978).
Também em 2021, Ana Cañas – uma das grandes cantoras da MPB contemporânea, lançou um disco totalmente dedicado à obra de Belchior: Ana Cañas canta Belchior, trazendo releituras emocionantes para grandes clássicos do artista cearense, que diz ser uma de suas maiores influências.
Ana conta que gravar a música de Belchior foi a coisa mais difícil que já fez na vida, musical e artisticamente:
“Primeiro porque a idiossincrasia belchiorana atravessa diversas camadas. Entre elas, o sentimento profundo e existencial presente em todas as canções. As letras que são, em sua maioria, gigantes e os versos, bastante assimétricos – alguns pronunciados em velocidade máxima”.
Em 2022, foi lançado – com direção de Camilo Cavalcanti – o documentário Belchior – Apenas um Coração Selvagem Livre.
Músicas inéditas de Belchior
Ainda em 2021, o jornalista e pesquisador musical, Renato Vieira, encontrou – no Arquivo Nacional – sete músicas inéditas de Belchior, sobre o qual já é pesquisador da obra desde 2013 e de quem já reeditou 11 discos.
As letras são das canções Adivinha e Outras Constelações (somente de Belchior), e das parcerias com seus conterrâneos cearenses:
- Fim do Mundo (com Augusto Pontes);
- Baião de Dois Vinte e Dois (com Fausto Nilo);
- Bip… Bip… (com Ednardo);
- Posto em Sossego e Alazão (ambas com Fagner e Fausto Nilo).
Todas as canções constavam em arquivos da ditadura militar por terem sido enviadas – entre 1971 e 1979 – para a Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão criado pela ditadura para analisar produções artísticas.
Nenhuma delas foi censurada, como aconteceu com outras letras de Belchior que o pesquisador também encontrou, mas também nenhuma foi gravada pelo cearense.
Renato Vieira não encontrou as canções em registros fonográficos, o que significa que as músicas podem ter sido musicadas ou até gravadas de maneira caseira, mas nunca foram lançadas oficialmente, O pesquisador conta que, como essas letras foram enviadas para a avaliação da censura, Belchior provavelmente considerava lançá-las em algum momento, na sua própria voz ou na de outros intérpretes.
Fagner e Belchior
Quando soube do fato, Fagner – que mudou-se do Ceará para o Rio de Janeiro na mesma época que Belchior, em 1970, junto com o Pessoal do Ceará – disse que já tinha, há algum tempo, planos de gravar um disco em homenagem ao amigo, mas que ainda não tinha conseguido encaixar o projeto na agenda. A descoberta das duas letras em parceria reavivou os planos de Fagner.
Os dois artistas cearenses possuem várias outras canções lançadas em parceria – como Mucuripe e Noves Fora, mas acabaram se desentendendo ao longo da vida e seguiram suas carreiras sem manter a amizade.
Os achados de Renato Vieira nos possibilitam presenciar novamente esse encontro. Fagner – que diz sempre ter mantido uma grande admiração pelo amigo, apesar dos desentendimentos – contou que relembrou da melodia das canções em parceria, assim que bateu o olho nas letras.
42 anos de carreira
Em 42 anos de carreira, Belchior não foi para nós apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Ele quis que seu canto torto, feito faca, cortasse a nossa carne e entrasse em nossas almas.
Nos mostrou que no presente, a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais. E que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.
Por meio de sua música, Belchior nos ensinou que viver é melhor que sonhar. Que o que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer. Sempre! E ele rejuvenesce todos os dias, atravessando gerações com a sua obra necessária e imortal.
Viva, Belchior!
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