RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Executiva Nacional do PDT aprovou na tarde desta sexta-feira (27) uma intervenção no diretório do Ceará, em tentativa de resolver a disputa que opõe os irmãos Cid e Ciro Gomes e envolve a estratégia do partido para as eleições municipais de 2024.
Derrotado na reunião tensa, que teve bate-boca e dedo em riste entre aliados dos dois irmãos, Cid ameaçou deixar o partido.
“Avisei que, se fosse cometida qualquer decisão arbitrária, eu entenderia como um convite para deixar o partido”, disse o senador à Folha de S.Paulo, após a reunião. “Para mim, foi uma decisão arbitrária. Como votam uma intervenção sem nem abrir um processo? É um convite para deixar o partido.”
A reunião foi convocada para tentar pacificar o diretório, alvo de reviravoltas no último mês e cujo capítulo mais recente havia sido uma decisão judicial que validou a nova executiva local comandada pelo senador.
O resultado provocou confusão generalizada. O senador Cid Gomes reagiu com irritação e disse que sairá do partido “pela porta da frente”. Presidente licenciado do PDT, o ministro Carlos Lupi respondeu que “já esperava”.
“Entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente, como eu sempre fiz”, afirmou Cid. O senador, no entanto, disse que consultará seu grupo político sobre os próximos passos.
“Não tomo decisões isoladas. No Ceará, somos a maioria. Temos 5 de 6 deputados federais em exercício, 13 de 16 deputados estaduais e 50 de 57 prefeitos”, completou.
“A decisão será tomada coletivamente. Há duas alternativas. Ou recorremos da decisão, ou entendemos que esse é um convite, grosseiro, para sairmos. Você não faz uma intervenção sem obedecer o devido processo legal.”
Cid e seus aliados acusam o atual presidente do partido, deputado André Figueiredo, de romper acordo que havia sido firmado em julho sobre a direção do braço cearense do PDT. Ele havia se licenciado do cargo e cedido a presidência para Cid, com o compromisso de ser reconduzido em dezembro.
No entanto, André Figueiredo decidiu antecipar a volta da licença após a divergência sobre os rumos do diretório, o que desencadeou a briga judicial. Para resolver o impasse, o presidente chamou a reunião da Executiva que decidiu pela intervenção no diretório local.
O motivo da disputa é a divergência sobre o alinhamento com o PT no estado de olho nas eleições de 2024. O grupo de Cid Gomes defende que o partido faça parte de uma aliança ampla, enquanto a ala ligada a Ciro Gomes e a André Figueiredo quer independência do PDT –apesar de o presidente licenciado da legenda, Carlos Lupi, ser ministro da Previdência do governo Lula.
Havia um jantar marcado na casa do deputado federal Mário Heringer (PDT-MG) para esta noite, em mais uma tentativa de acalmar os ânimos dentro do partido. Pedetistas, no entanto, dizem que seria difícil superar as desavenças.
Cid disse que não iria participar e decidiu voltar para Fortaleza. Ele afirma que foi pego de surpresa com a intervenção. Outra possibilidade que ele vai analisar junto a seu grupo é se entra com um processo contra a presidência do partido para reverter a intervenção.
Já aliados de Figueiredo afirmam que a saída de Cid da sigla é dada como certa. Como Cid é senador, ele pode trocar de partido sem ser acusado de infidelidade partidária. No entanto, os deputados federais e estaduais que estão ao seu lado deverão esperar até a próxima janela partidária.
CAMILA ZARUR E ITALO NOGUEIRA / Folhapress