SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o uso de inteligência artificial, controle de estoques e um exército de influenciadores sociais, a Wake planeja acabar de vez com a percepção de que as promoções da Black Friday não são para valer. Ou que a data, na verdade, é uma “Black Fraude”, termo que se tornou popular quando o dia de preços baixos, criado nos Estados Unidos, chegou ao Brasil.
A empresa, criada pela Locaweb para atender negócios de médio e grande porte, realizou levantamento em associação a plataforma de pesquisa online Opinion Box. Os resultados mostram que a desconfiança persiste. Embora 75,1% dos entrevistados afirmem pretender comprar na Black Friday, em 24 de novembro, 36,4% concordam pelo menos parcialmente que a data, no Brasil, “é uma fraude.”
Os descontos valem menos a pena a cada ano que passa para 54,2% dos pesquisados.
“Havia essa brincadeira no passado, de que as ofertas eram a metade do dobro. Agora a Black Friday tem se diluído ao longo do mês. Os varejistas atuam como se fosse um Black November [novembro negro]”, afirma Alessandro Gil, vice-presidente da Wake.
Por causa disso, parte do comércio vê esta ocasião como a mais movimentada do ano, segundo Gil. Mais lucrativa do que o Natal. Os consumidores também querem usar a Black Friday para comprar artigos que não são exatamente presentes a familiares e amigos. No total, 23,9% pretendem adquirir produtos de supermercado.
“O consumidor está preocupado porque já teve experiências ruins em anos anteriores. Está mais atento a preços falsos, a taxas altas de entrega. As táticas de algumas empresas já são conhecidas. Black Friday é uma oportunidade. É a chance de reposicionamento e consolidação da marca”, afirma Fernando Coelho, professor de marketing estratégico da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
A Wake realiza campanhas, em parte por causa disso, em que combina os dados de sua plataforma de ecommerce com 800 clientes, das duas mil empresas em seu marketplace e inteligência artificial para atrair a confiança de consumidores.
Por meio do Squidit, sua plataforma que tem mais de 200 mil influenciadores digitais integrados ao sistema, consegue produzir anúncios customizados para clientes que visualizaram produtos em algum site, mas não os compararam. Ou que colocaram um artigo no carrinho e saíram sem fechar negócio.
Coletando dados, a empresa sabe quais os influenciadores que o cliente mais interage. Envia e-mails ou vídeos por WhatsApp com material deste produtor de conteúdo exaltando o produto que não foi adquirido.
“Usamos inteligência artificial para analisar quem são os melhores influenciadores. Montamos campanhas com mais de 100 variáveis possíveis. Uma mulher é produtora de conteúdo sobre maternidade, mas pode ser que ela também comente sobre cerveja. E se a Heineken quiser fazer uma campanha de Dia das Mães? Isso vale também para Black Friday. A gente consegue cruzar os dados e a inteligência artificial nos faz entender conteúdo, eufemismos, idiossincrasias…”, diz Alessandro Gil.
Na pesquisa da Wake, 65,2% concordam que as redes sociais são ótimas ferramentas para acompanhar as ofertas e 40,5% disseram interagir com anúncios que veem nesses aplicativos.
“Se eu me identifico com um influenciador, se já me alimento da informação dele, o poder de conversão é ainda maior. Ele pode me gerar abertura para conhecer um produto que não conheço. Eu confio naquele influenciador. As marcas estão percebendo também a importância da regionalização. Saber qual região que aquele influenciador conversa. Um produtor de conteúdo regional com 20 mil ou 30 mil seguidores pode conseguir algo que outro, de alcance nacional, com milhões de seguidores, não consegue. Isso na Black Friday é muito relevante”, ressalta Douglas Domingues, professor de relacionamento com o cliente da Fundação Vanzolini.
Com o consentimento dos influenciadores, a Wake coleta dados de comentários feitos em suas contas nas redes sociais, quem curtiu qual tipo de postagens e até os emojis mais utilizados pelos seguidores, assim como o que eles significam.
Em outra plataforma, a empresa também gerencia o estoque de outros marketplaces. No primeiro Black Friday após o colapso das Lojas Americanas, atualmente em recuperação judicial, a preocupação dos varejistas é saber de antemão que produtos serão mais procurados e alocá-los também para lojas físicas com maior número de vendas.
“Existe uma série de [recursos de inteligência artificial] rodando atrás de um pedido. Há uma conexão de software, gestão de impostos, controle de estoque e giro de produto para ter resultados melhores nas operações. Se uma loja vende mais um produto, não vou desabastecê-la por causa de uma segunda loja. O volume [de vendas] vai continuar porque outras empresas foram assumindo o volume que a Americanas pode ter deixado. Existe o movimento de indústrias para fortalecer seus próprios sites e a relação com o consumidor”, completa Gil.
ALEX SABINO / Folhapress