SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças de segurança de Israel prenderam mais de 5.300 palestinos desde os ataques terroristas do Hamas, de acordo com contagem de veículos de imprensa e de organizações de direitos humanos. Se confirmado, o número de detenções efetuadas desde 7 de outubro já supera os cerca de 5.200 palestinos que estavam encarcerados em prisões israelenses antes da guerra.
Entidades veem ilegalidades e apontam que o contingente sob detenção administrativa, em que não há acusação formal ou julgamento, atingiu o maior nível em três décadas.
Procurada desde quinta-feira (26), a Embaixada de Israel no Brasil não respondeu à reportagem até a tarde desta segunda (30).
Cerca de 4.000 residentes de Gaza que estavam em Israel no momento dos ataques são a maior parte dos presos, segundo o canal israelense N12. Muitos deles haviam entrado legalmente no país com autorização de trabalho, mas tiveram os seus vistos suspensos e foram impedidos de retornar ao território palestino sob cerco e bombardeios de Tel Aviv.
Em petição enviada à Suprema Corte, um grupo de ONGs israelenses chamou as detenções de “ilegais e arbitrárias” e pediu a divulgação dos nomes e do paradeiro dos detentos, bem como a libertação daqueles presos ilegalmente.
“Manter milhares de residentes de Gaza incomunicáveis e sem direito a representação legal representa uma contradição flagrante das obrigações de Israel sob as leis internacionais”, diz comunicado assinado pelas entidades HaMoked, Gisha, Comitê Público contra a Tortura, Médicos pelos Direitos Humanos, Adalah e Associação pelos Direitos Humanos em Israel.
O tema ganhou destaque nos últimos dias depois de o Hamas ter condicionado a devolução dos reféns que mantêm desde o dia 7 à libertação dos palestinos em presídios israelenses. Uma parte dos parentes dos capturados pela facção terrorista pediu ao premiê israelense, Binyamin Netanyahu, que considere a proposta. Internamente, o governo discute a ideia, mas não houve ainda manifestação pública.
Também foram registradas prisões em massa na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. A tensão cresceu nas últimas semanas nesses territórios ocupados por Israel, com confrontos entre manifestantes e forças de segurança, incursões noturnas em campos de refugiados e ataques de colonos judeus. As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) afirmam ter prendido mais de 1.000 palestinos na Cisjordânia, incluindo 660 supostos integrantes do Hamas, de acordo com o jornal Times of Israel.
Já a ONG Addameer, com sede em Ramallah, afirma que mais de 1.266 palestinos foram presos na Cisjordânia e em Jerusalém dentre os detidos, há pelo menos 32 mulheres, 18 crianças e 14 jornalistas. Ainda segundo a entidade, as autoridades carcerárias israelenses proibiram visitas de advogados e familiares e impuseram “medidas punitivas e retaliatórias” contra os prisioneiros.
Em 2021, Israel classificou a Addameer e outras cinco ONGs palestinas de organizações terroristas. A decisão foi amplamente criticada à época, vista como um ataque à sociedade civil palestina.
A onda de detenções também atinge palestinos com cidadania israelense. A Adalah, com sede em Haifa, disse que ao menos 100 cidadãos árabes foram presos, a maioria acusados de incitar e apoiar o terrorismo em postagens nas redes sociais.
Dentre as publicações investigadas pela polícia, há vídeos do TikTok de pessoas usando filtros com a bandeira palestina. Enquanto isso, cidadãos judeus e políticos eleitos têm usado as redes sociais para incitar violência contra palestinos sem sofrer punições.
“Cerca de 90% desses casos não têm base legal”, disse Hassan Jabareen, diretor da Adalah, à agência de notícias Reuters. “A conduta da polícia é ilegal. Você não pode prender as pessoas com base nessas coisas.”
Porta-voz da polícia, Eli Levy disse a uma rádio local que 96 pessoas estavam sendo investigadas, das quais 63 haviam sido detidas. “Veja a audácia e a ingratidão. Cidadãos com carteira de identidade israelense […] têm a audácia de pensar que a polícia permitirá que saiam às ruas e apoiem uma organização nazista e terrorista”, afirmou.
PRESOS SEM ACUSAÇÃO
O relatório da ONG Addameer indica ainda que, desde o início do mês, cerca de 295 pessoas foram colocadas sob detenção administrativa, modalidade de prisão praticada por Israel em que não há acusação formal, julgamento nem prazo máximo de custódia. Com isso, o total de pessoas presas nessas circunstâncias chegou a 1.614, o maior em mais de três décadas.
Antes de a guerra começar, o número de pessoas em detenção administrativa estava em patamar semelhante ao registrado durante a Segunda Intifada, revolta popular palestina no início dos anos 2000. O recorde foi registrado durante a Primeira Intifada, no final dos anos 1980, quando o número de detentos administrativos passou de 8.000.
A maioria dos presos nessas condições é formada por palestinos dos territórios ocupados, mas cidadãos de Israel e estrangeiros também estão sujeitos. Organizações de direitos humanos dizem que a prática é arbitrária, coercitiva e punitiva.
DANI AVELAR / Folhapress