MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O crescimento da economia brasileira em 2023 é surpreendente, afirma Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander. “Temos uma recuperação importante desde a pandemia e em 2023, um crescimento surpreendente. Todos nós, o mercado e nós do banco, fomos surpreendidos”, disse na Santander Internacional Banking Conference, em Madri, nesta terça-feira (31).
A estimativa do Santander era de alta de 2,5% do PIB (produto Interno Bruto) deste ano, mas o banco agora considera 3%. “Isso porque tivemos uma supersafra de soja, 25% maior que no ano passado, com avanços tecnológicos e clima favorável na última colheita. Já o milho cresceu 10%. O PIB agrícola deve ser de 13,5% este ano”, diz Ana Paula.
Além disso, os altos níveis de preços de commodities favorecem o Brasil. “O superávit comercial vai superar US$ 85 bilhões e o déficit de transações correntes deve ser de 2% do PIB, um número muito baixo historicamente.”
Segundo a economista, a previsão é que a safra de 2024 siga no mesmo nível deste ano. Para o ano que vem, o banco espera um crescimento de 1% do PIB.
Outro fator para a melhora na atividade, de acordo com Ana Paula, é a resiliência do mercado de trabalho puxada pelo setor de serviço, algo que também é visto a nível mundial, especialmente nos EUA. “A reforma trabalhista também é importante, tivemos queda de 50% do litígio associado a questões trabalhistas.”
Com isso, ela espera uma alta de 4% na renda das famílias, o que deve reduzir a inadimplência junto à menor oferta de crédito. Mesmo assim, a economista diz que há um processo desinflacionário no país, puxado pela queda no preço dos alimentos.
O banco projeta um IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,6% em 2023 e de 3,8% em 2024 e uma Selic de 9,5% ao fim do ano que vem. Mas, a taxa básica de juros terminal no Brasil vai depender do juro americana, diz Ana Paula.
O juro dos Estados Unidos está na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, o maio de 2021.
RISCO FISCAL
Entre os riscos à economia brasileira, Ana Paula citou a “fragilidade fiscal”. “Estimamos um déficit de 1% do PIB. Precisamos alcançar um superávit acima de 1% do PIB para divida se estabilizar ao longo do tempo”, afirmou.
“País tem desafio macroeconômico, mas está muito bem posicionado. Em termos de transição energética, temos o melhor custo-benefício de descarbonização hoje e vamos quase dobrar a nossa produção de petróleo nos próximos anos, com a cessão onerosa do pré-sal. Temos dever de casa a fazer, mas no médio e longo prazo, o Brasil tem grandes oportunidades”, completou a economista.
A jornalista viajou a convite do Santander Brasil
JÚLIA MOURA / Folhapress