SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O então presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou as comemorações do 7 de Setembro do ano passado em comícios de campanha em Brasília e no Rio de Janeiro, repetindo ameaças golpistas diante de milhares de apoiadores, mas em tom mais ameno do que no mesmo feriado de 2021.
Em cima de carros de som, ele pediu voto, reforçou discurso conservador e deu destaque à então primeira-dama Michelle Bolsonaro, com declarações de tom machista. O mandatário deixou de lado o Bicentenário da Independência nos palanques montados no Rio e em Brasília e adotou discurso parecido.
Nesta terça-feira (31), às 19h, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) retoma o julgamento de Bolsonaro em ações que acusam o ex-presidente de ter usado aquelas comemorações para fazer campanha eleitoral com uso de dinheiro público. O placar atual está em 2 a 1 pela condenação do ex-mandatário.
Relembre, em 3 pontos, o que Bolsonaro fez em 7 de setembro de 2022.
1) TOM GOLPISTA
Apesar da repetição de ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal) e da difusão de mensagens autoritárias nos atos (incluindo faixas e cartazes em diversos lugares do país), Bolsonaro reduziu naquele dia o tom golpista adotado na manifestação de 2021, quando chegou a pregar a desobediência ao Judiciário e xingou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”.
A insistente narrativa de meses anteriores, de questionamento à confiabilidade das eleições, às urnas e ao TSE, ficou de fora das pregações centrais do presidente no 7/9 de 2022.
Em suas declarações, porém, Bolsonaro manteve ameaças veladas ao dizer que vai levar “para dentro das quatro linhas [da Constituição] todos aqueles que ousam ficar fora delas”. Ele costumava usar o termo para criticar ministros do Supremo.
Mais cedo naquele dia, durante café da manhã no Palácio do Alvorada, após ter citado diversos momentos de tensão ou ruptura democrática, entre os quais o golpe militar de 1964, Bolsonaro disse que a “história pode se repetir”.
“Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 65, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode repetir. O bem sempre venceu o mal”, afirmou ele.
Em 2021, também no 7/9, ele havia sido mais direto ao dizer que “ou o chefe desse Poder [Judiciário, ministro Luiz Fux] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”.
2) TOM ELEITORAL
O 7/9 de 2022 ocorreu a menos de um mês do primeiro turno das eleições. Bolsonaro, que aparecia atrás do hoje presidente Lula nas pesquisas, elegia o petista como alvo principal. Ele usou a estratégia de tentar pregar no petista a pecha de corrupto, algo que funcionava, segundo estrategistas da campanha.
Nos palanques do feriado, Bolsonaro defendeu “extirpar” adversários.
“Compare o Brasil com os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e na Nicarágua. O que tem em comum entre esses países? Em todos, os chefes de Estado são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil”, afirmou, em referência ao adversário petista.
“Não é apenas voltar à cena do crime, esse tipo de gente precisa ser extirpada da vida pública.”
3) TOM MACHISTA
Naquele dia, pela manhã em Brasília, Bolsonaro elogiou Michelle e ensaiou fazer uma comparação com outras primeiras-damas mas sem citação direta à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher de Lula.
“A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro, vamos todos votar, vamos convencer aquelas pessoas que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil. Podemos dar várias comparações, até entre as primeiras-damas. Ao meu lado, uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente”, disse.
“Tenho falado com homens que estão solteiros: procurem uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda”, acrescentou.
Além das falas de teor machista, o presidente entoou gritos de “imbrochável” para a plateia, que o seguiu, em tom de celebração.
Michelle era considerada essencial pela campanha para manter a proximidade com o mundo cristão e, especialmente, com as mulheres. O presidente precisava então melhorar o seu desempenho com as eleitoras, que mantinham altos índices de rejeição ao seu governo.
Redação / Folhapress