SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Glicéria Tupinambá e outros artistas ainda não divulgados serão os representantes do Brasil na Bienal de Veneza de 2024. Seus trabalhos vão ocupar o pavilhão do Brasil nos Giardini, que será renomeado para Pavilhão Hãhãwpuá durante a duração da exposição ”hãhãw” significa terra em patxohã, a língua do povo pataxó.
A seleção das obras para o pavilhão ficará a cargo dos também artistas indígenas Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. Intitulada “Ka’a Pûera: Nós Somos Pássaros que Andam”, a mostra vai abordar questões de marginalização e violação dos direitos territoriais, celebrando a resiliência e a memória das comunidades indígenas brasileiras.
“Ka’a Pûera” tem dois significados as antigas florestas desmatadas pelos tupinambá para o cultivo agrícola, que posteriormente se regeneram, e também pode se referir à uma pequena ave que vive em florestas densas e tem o poder de se camuflar no ambiente.
As informações foram divulgadas pela Fundação Bienal de São Paulo nesta quarta-feira (6), a responsável por escolher os nomes que ocupam o pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza, uma das mostras de maior projeção internacional do circuito das artes. Também participaram da seleção os ministérios da Cultura e das Relações Exteriores.
“O pavilhão será imbuído da visão de curadores e artistas de povos originários, que trazem uma perspectiva urgente para o mundo”, diz em comunicado José Olympio da Veiga Pereira, o presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Mais conhecida como Celia Tupinambá, a artista ganhou projeção este ano com um manto de 4.000 penas que confeccionou em 2021 e que itinerou por espaços expositivos da capital paulista. Os indígenas de seu povo tecem mantos há séculos, vestes sagradas usadas em rituais específicos pelo pajé, pelo cacique e pelas sacerdotisas da aldeia.
Em paralelo, o Museu da Dinamarca, o Nationalmuseet, anunciou que devolverá ao Brasil um manto tupinambá do século 17 a peça será recebida pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A tomada indígena do pavilhão em Veneza reflete o movimento de valorização da arte produzida por povos originários nos últimos anos, que tem ocupado as galerias, os museus e a própria Bienal de São Paulo na edição em cartaz até dezembro há obras de indígenas de vários países, e uma das maiores instalações da exposição, uma plantação de milho, é de autoria de Denilson Baniwa.
A 60ª edição da Bienal de Veneza acontece entre 20 de abril e 24 de novembro de 2024 na cidade italiana. Pela primeira vez, a mostra tem um curador brasileiro no comando, Adriano Pedrosa, diretor do Masp, o Museu de Arte de São Paulo.
Intitulada “Foreigners Everywhere”, ou estrangeiros em todos os lugares, a exposição será uma celebração de artistas estrangeiros, outsiders, queer e indígenas, disse Pedrosa na apresentação do tema da bienal, em junho.
JOÃO PERASSOLO / Folhapress