SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia após um ataque de Israel matar 50 pessoas, as forças de Tel Aviv voltaram a alvejar nesta quarta-feira (1º) Jabalia, o maior campo de refugiados da Faixa de Gaza.
Como na véspera, as IDF (Forças de Defesa de Israel) disseram ter usado caças para atacar uma importante unidade militar do Hamas, o grupo terrorista palestino que comanda o território e que disparou a atual guerra com a mega-ação do dia 7 de outubro.
Em comunicado, os militares afirmaram ter matado o comandante da força de mísseis antitanque do Hamas, Muhammad Asar. Essas armas foram responsáveis por 11 das 16 mortes de soldados israelenses em Gaza na terça (31), quando um blindado de Tel Aviv foi alvejado.
As IDF novamente acusaram o Hamas de usar a população civil como escudo humano, centrando suas células militares entre prédios residenciais. O grupo terrorista disse ter ocorrido “um massacre”, mas afirmou que ainda não tinha um levantamento de vítimas.
Acerca do ataque da véspera, o Hamas havia contou a mesma cifra de vítimas divulgada por Israel, mas se referiu a elas apenas como “mártires”, jargão para quem morre lutando contra os adversários no islamismo.
O grupo também afirmou, nesta quarta, que a ação matou sete reféns sequestrados na ação que detonou a atual guerra, o mega-ataque terrorista dos palestinos em 7 de outubro, que deixou mais de 1.300 mortos. O Hamas diz que chegou a ter 250 pessoas em suas mãos, mas já falou na morte de 57 delas. Israel conta hoje 240 desaparecidos.
Apuração independente dos fatos é muito difícil, até porque a Faixa de Gaza, onde fica Jabalia, está com blecaute parcial de telefonia e internet devido a ataques à rede das operadoras Jawwal e Paltel.
A rede qatari Al Jazeera, cujo noticiário tem viés pró-palestino, foi das poucas com acesso a imagens do local. O chefe da sucursal da TV em Gaza, Wael Dahdouh, relatou ter visto vários prédios em uma região residencial irem ao chão. O jornalista, que perdeu sua família em um bombardeio na semana passada, afirmou que foram empregadas bombas e mísseis.
A retaliação israelense ao ataque virou uma guerra para destruir o Hamas, nas palavras do premiê Binyamin Netanyahu. Após quase três semanas de bombardeios, a ação passou para uma fase terrestre gradual, com incursão de colunas blindadas e de infantaria pelo norte e sul da área norte da Faixa de Gaza, que inclui a capital homônima.
Israel já perdeu 16 soldados desde a sexta (27), quando passou a entrar por terra. Não há números fechados por parte do Hamas, mas estima-se que as mortes estejam na casa das centenas de seus talvez 25 mil integrantes. O grupo só divulga números gerais, e afirma que 8.796 palestinos já morreram na ação em Gaza.
Jabalia é 1 dos 8 campos de refugiados na região, e tinha antes da guerra 116 mil moradores, diz a ONU. A definição do local é algo imprecisa, por ser decorrente da origem das primeiras famílias que o habitaram. Gaza fazia parte da antiga Palestina britânica, e foi ocupada de 1948 a 1967 pelo Egito, sendo então tomada por Israel.
Nessas guerras em torno da discordância sobre a partilha proposta pela ONU do território entre judeus e árabes, milhares de palestinos foram expulsos de suas terras acabando em campos de refugiados clássicos, com tendas. No caso de Jabalia e outros, o fato de a situação ter se eternizado transformou a ocupação em bairros e cidades urbanizadas, ainda que de forma bastante precária em termos de infraestrutura.
A Autoridade Nacional Palestina, que controla parcialmente a Cisjordânia e foi expulsa de Gaza pelo Hamas em 2007, calcula que 60% dos 2,3 milhões de moradores da faixa sejam de famílias de refugiados.
ISRAEL REFORÇA MAR VERMELHO
Também nesta quarta, Israel enviou um navio-patrulha equipado com mísseis para a costa de Eilat, no sul do país. Na véspera, a região havia sido alvo do terceiro ataque promovido por rebeldes houthis do Iêmen, que lançaram um míssil balístico e dois drones contra o balneário.
Os houthis são apoiados pelo Irã, que banca o Hamas e o Hezbollah libanês, além de outros grupos contrários a Israel e a Síria, todos dentro do que Teerã chama de Eixo da Resistência. Nesta quarta, o grupo afirmou ter lançado drones contra o Estado judeu, algo sem confirmação ainda por Israel, e prometeu apoiar os palestinos.
Na terça, o sistema de defesa de longa distância israelense Arrow (flecha) foi usado pela primeira vez nesta guerra, interceptando o míssil. Já os drones foram derrubados por caças. Segundo as IDF (Forças de Defesa de Israel), houve um quarto incidente aéreo nesta noite, mas não foi detalhado o que ocorreu.
O mar Vermelho se une ao norte de Israel como frente secundária da guerra em Gaza. A região tem dois destróieres americanos, integrantes do grupo de porta-aviões liderado pelo maior navio de guerra do mundo, o USS Gerald Ford, que está no Mediterrâneo.
Um deles, o USS Carney, abateu há duas semanas uma salva de mísseis e drones lançadas pelos houthis a partir da costa que dominam no norte do Iêmen, país em guerra civil desde 2014. Ruma para a região um segundo grupo de porta-aviões, esse encabeçado pelo USS Dwight Eisenhower.
Todo esse poder de fogo, aliado ao reforço em bases americanas na região, visa dissuadir o Irã seus aliados regionais a escalarem a guerra. Tem dado relativamente certo: no norte de Israel, o Hezbollah tem intensificado suas ações contra as IDF, mas nada parecido com uma entrada total no conflito.
Isso se dá por considerações domésticas também, dado que o Líbano passa por uma grave crise econômica, e uma nova guerra, como a de 2006, poderia ser fatal para o prestígio político do Hezbollah, que é também um partido. Mas a ameaça fica no ar, e o grupo é bem mais forte que o Hamas em termos militares.
Enquanto isso, o Irã segue pedindo que o mundo islâmico reaja aos ataques de Israel a Gaza, tendo sugerido nesta quarta um boicote a produtos do Estado judeu.
IGOR GIELOW / Folhapress