Veja como a nova Selic afeta seus investimentos e o que fazer com eles

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Como previsto, o Banco Central brasileiro cortou a Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano nesta quarta-feira (1º), o que reduz a rentabilidade da renda fixa. Segundo analistas, porém, a taxa básica de juro neste patamar ainda deixa atrativos a maioria dos investimentos desta modalidade.

Por trás disso, está a desaceleração da inflação. A perspectiva é que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), encerre 2023 com uma alta de 4,63%, e que some 3,90% em 2024, segundo a pesquisa Focus.

Um juro anual de 12,25% equivale a um juro mensal de 0,97%, mais de três vezes o IPCA esperado para novembro (0,3%).

Segundo economistas, a Selic deve sofrer mais uma redução de 0,5 ponto percentual em dezembro, indo a 11,75%, o equivalente a um juro mensal de 0,93%, quase duas vezes maior que o índice previsto para dezembro (0,5%).

“Tivemos o benefício de ser um dos primeiros países a subir juros e, agora, a cortar juros. É bem claro que o ritmo de cortes de 0,5 p.p. deve continuar, a menos que surja algo fora do radar, como uma escalada na guerra entre Israel e Hamas”, diz Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio da Principal Claritas.

Outros riscos à redução de juros são a piora no risco fiscal do Brasil e uma alta nos juros americanos, que estão na faixa de 5,25% e 5,50%, o maior patamar desde 2021.

O cenário levou economistas a aumentarem de 9% para 9,25% a projeção para a Selic em 2024. “A renda fixa nesse patamar continua atrativa”, diz Cabraitz.

QUANTO RENDE A RENDA FIXA?

De acordo com especialistas, os cortes na taxa básica de juros reduzem a rentabilidade da renda fixa, mas não a aniquilam. Assim, esses investimentos seguem vantajosos, especialmente os isentos de Imposto de Renda, como LCI (Letra de Crédito Imobiliário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e debêntures incentivadas.

“Para quem ainda não investiu, dá tempo de pegar juros altos”, diz Gabriel Redivo, diretor de gestão na Aware Investments.

Outro grupo de investimentos que saltam aos olhos de gestores são os atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+. No momento, o título do tesouro IPCA+ com vencimento em 2029 está com uma remuneração anual de IPCA mais 5,84%. Já o para 2035, rende IPCA mais 5,79%.

“Em ciclos de cortes de juros, vamos reduzindo o investimento em ativos pós-fixados e aumentando os IPCA+”, afirma Rodrigo Sgavioli, diretor de alocação e fundos da XP.

Os títulos prefixados, cuja remuneração não muda ao longo do período de investimento entram na cesta de forma “tática”. “Gostamos dos prefixados de curto prazo porque a abertura da curva de juros americana adicionou prêmio [de risco] neles, os deixando interessante novamente”, diz Sgaviol.

O título do Tesouro prefixado com vencimento em 2026 está com uma taxa anual de 10,94%, maior que a taxa de juros prevista para o ano que vem (9,25%). Já o para 2029 rende 11,56%.

RENDA VARIÁVEL

Apesar dos juros seguirem atrativos, os especialistas aconselham que os investidores cujo perfil acomode produtos mais arriscados, vale ter uma fatia de renda variável na carteira.

“A queda de juros alivia empresas endividadas, o que pode valorizar o mercado de ações. Em termos de preço em relação a lucro (P/L), a Bolsa de Valores ainda está barata”, diz Redivo, da Aware Investments.

O Ibovespa negocia a um P/L de 6,5 vezes, ante a média histórica de 11. Isso significa que, atualmente, o índice está em um patamar equivalente a 6,5 vezes o lucro dos últimos 12 meses das empresas que o compõem.

Sgavioli, da XP, recomenda as ações de empresas grandes e sólidas que não estejam muito endividadas. Além disso, o gestor recomenda FIIs (fundos de investimento imobiliário) de shoppings e galpões logísticos. “Eles têm o componente brasileiro mais forte do que ações e oscilam menos de acordo com mercado americano. Fora que o setor sente oscilação de juros na veia.”

Outros investimentos citados por especialista são os títulos do Tesouro americano, os treasuries. “É a oportunidade da década, não os vemos tão atrativos assim há 15 anos”, afirma Sgavioli.

Os treasuries de curto prazo, com vencimento em um ano ou menos estão com uma rentabilidade anual, em dólares, acima de 5%. Atualmente o título mais rentável é o de vencimento em quatro meses, com juro de 5,61%.

Para brasileiros investirem nesses produtos, é preciso comprar BDRs (recibos de ativos estrangeiros) de ETFs (fundos de índice) de treasuries negociados na B3, como o BSGO e o BSHV, ou abrir uma conta internacional e comprar diretamente no mercado de Nova York.

JÚLIA MOURA / Folhapress

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