SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A artista plástica Anna Maria Maiolino ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza pelo conjunto de sua obra nesta sexta-feira (3). A cerimônia de premiação deve ser realizada no dia 20 de abril, em Ca’ Giustinian, palácio em Veneza onde a Bienal tem sua sede.
À Folha de S.Paulo Maiolino diz que ficou emocionada ao saber que havia vencido o prêmio. “O artista sempre quer que o trabalho seja compreendido pelo público, porque o objetivo é se relacionar poeticamente com o outro. Então, fiquei muito comovida”, diz a artista, de 81 anos. “Esse prêmio foi um aconchego. É como se tivessem me pegado no colo.”
Maiolino estreará na Bienal de Veneza com um trabalho em grande escala como parte de sua série de esculturas e instalações feitas com argila. Embora seja uma obra nova, ela diz que a linguagem não é inédita.
“Seria muito pretensioso dizer que ele é totalmente inédito, porque a linguagem do artista é como um código ao qual ele sempre vai recorrer, fortificando-se naquilo que já foi testado.” A artista diz que a obra é um desafio, mesmo para alguém que tem mais de seis décadas de carreira, como é seu caso.
“O artista, em geral, é sempre um transgressor de si mesmo. Ele vai se modificando a cada trabalho e é nisso que consiste a alegria de fazer arte. Você tem a possibilidade de se questionar por meio da obra.”
Nascida na Itália e tendo vivido na Venezuela, Maiolino desenvolveu no Brasil a maior parte de sua carreira. Quando tinha 12 anos, deixou o país de origem junto com a mãe e a irmã Rosalba.
Elas viajaram de navio para Caracas, onde o pai e outros irmãos as aguardavam, também emigrados depois da Segunda Guerra Mundial.
Seis anos mais tarde, em 1960, a família se mudou para o Rio de Janeiro, onde Maiolino se estabeleceu e fortaleceu seu percurso pela arte, que nas décadas seguintes a levaria para coleções privadas e museus internacionais.
Quando chegou ao país, a artista passou a fazer parte da nova figuração, movimento artístico que refletia o clima político do país durante os primeiros anos da ditadura militar.
Em 1964, realizou sua primeira exposição individual na Galeria G, em Caracas. Em 1967, participou da exposição “Nova Objetividade Brasileira”, no Rio de Janeiro. Suas pinturas e gravuras da década de 1960 são permeadas por personagens e narrativas políticas, além de referências pessoais, corporais e familiares.
Entre as décadas de 1970 e 1980, Maiolino começou a se dedicar à arte performática e, nos anos 1990, passou a fazer trabalhos com argila.
Além de Maiolino, a artista turca Nil Yalte foi laureada com o Leão de Ouro pelo conjunto da obra, que vai da pintura ao desenho, passando por esculturas e instalações.
Curador da bienal, Adriano Pedrosa disse, em nota, que homenagear as duas artistas dialoga com a proposta da mostra.
“Esta decisão é especialmente significativa dada o título (Foreigners Everywhere, ou estrangeiros em todos os lugares) e estrutura da minha exposição, focada em artistas que viajaram e migraram entre o Norte e o Sul, Europa e além, e vice-versa”, afirmou ele, que é diretor artístico do Masp.
Redação / Folhapress