Libertadores deixa de ser amor proibido para o Fluminense, campeão da América

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fez-se a alegria para o torcedor do Fluminense .O clube tricolor enfim é campeão da Copa Libertadores, troféu obtido com vitória por 2 a 1 sobre o Boca Juniors, na tarde de sábado (4), no estádio Mario Filho, no Rio de Janeiro.

Cano e John Kennedy fizeram os gols do título, que jamais havia sido alcançado pela formação das Laranjeiras.

De frente para o morro de Mangueira, vizinho ao Maracanã, o time de Cartola obteve aquela que pode ser considerada a sua maior glória. A equipe tricolor, que homenageou em verde e rosa o compositor de “Amor Proibido” no uniforme lançado mais recentemente, deixou olhos rasos d’água na arquibancada, mas os corações feridos eram os argentinos.

Argentino Cano abre o placar para o Fluminense contra o Boca Ricardo Moraes/Reuters **** Diante de um adversário com seis taças da competição, o Fluminense contou com o talento de Cano para abrir o placar aos 35 minutos do primeiro tempo. Depois de uma tabela de Keno e Arias, Cano recebeu na grande área e emendou de primeira, no canto direito do goleiro Sergio Romero.

Na etapa final, o Fluminense teve chances de ampliar o placar, mas não conseguiu e ainda viu o Boca empatar aos 26 minutos, com Advíncula. Ele recebeu a bola na direita, cortou para o meio e acertou o canto direito de Fábio.

Após o gol de empate, o técnico Fernando Diniz colocou John Kennedy no lugar de Ganso. O técnico disse, conforme imagens da transmissão, que Kennedy faria o gol do título.

O jogo foi ficando dramático e, a partir dos 35 minutos, a torcida começou a cantar “a bênção João de Deus”, música que os tricolores tradicionalmente cantam quando o time está em dificuldades.

Na prorrogação, aos oito do primeiro tempo, Kennedy cumpriu a profecia de Diniz. Recebeu a bola de Keno na entrada da área e encheu o pé. Ao ir para torcida comemorar o gol, o atacante, que já tinha amarelo, foi expulso. Diniz tirou Keno e colocou David Braz para fechar a casa e festejar o título.

O triunfo coroa o trabalho de Diniz, que tinha no Campeonato Carioca sua grande conquista como treinador e cicatriza feridas da agremiação das Laranjeiras, que acumulou fracassos em suas oito participações anteriores na Libertadores, alguns deles extremamente dolorosos.

O troféu esteve ao alcance em 2008 -centenário de Cartola. Derrotada pela LDU por 4 a 2 no jogo de ida da final, no Equador, a equipe buscou no Rio uma vitória de virada por 3 a 1, mas levou a pior nos pênaltis. No ano seguinte, contra a mesma LDU, deixou escapar outro título internacional: com a derrota por 5 a 1 em Quito, o 3 a 0 em casa não foi suficiente na Copa Sul-Americana.

Desta vez, como passou a ocorrer na edição de 2019, a decisão foi disputada em partida única. O duelo derradeiro estava marcado para o Maracanã desde o começo do campeonato, independentemente dos clubes na briga, e o Fluminense trabalhou por mais uma chance de triunfar no local.

A campanha, é verdade, teve sobressaltos. A classificação às oitavas de final só foi obtida na última rodada da fase de grupos, em um tenso empate com o peruano Sporting Cristal, seguido de vaias pela má atuação. A sequência teve triunfos tranquilos sobre o Argentinos Juniors e o paraguaio Olimpia antes de um confronto dramático com o Internacional nas semifinais.

No jogo de ida, no Rio, o Fluminense saiu na frente, teve um jogador expulso, levou a virada e buscou o empate por 2 a 2 com um a menos. Em Porto Alegre, o Inter marcou em falha do goleiro Fábio e teve duas oportunidades claras para selar a vaga na decisão. Enner Valencia falhou. John Kennedy, aos 36 minutos do segundo tempo, e Cano, aos 42, não.

A vitória de virada por 2 a 1 levou a formação tricolor à final contra o tradicional Boca, que teve também um caminho acidentado até o Maracanã. Após uma passagem sem sustos em uma chave frágil, apostou no goleiro Romero e avançou à decisão sem nenhuma vitória no mata-mata. Com seis empates, derrubou nos pênaltis o uruguaio Nacional, o argentino Racing e o Palmeiras.

No embate derradeiro, o time carioca teve uma atuação até que tranquila contra o poderoso Boca. O time de Diniz foi pouco pressionado e depois que abriu o placar com Cano, aos 35, dominou todas as ações.

Com o título inédito, o time carioca vai ao Mundial entre os dias 12 e 22 de dezembro. A competição irá reunir os campeões da Liga dos Campeões da Asia, Liga dos Campeões da África, Concacaf Champions League, OFC Champions League, Saudi Pro League e UEFA Champions League –entre eles, o inglês Manchester City.

O campeão da Libertadores também irá competir pela Copa Interamericana, com o Inter Miami, de Lionel Messi.

Valeu a aposta do Fluminense em Diniz. E a aposta de Diniz no Fluminense. Em abril de 2022, quando o clube ficou sem técnico, o mineiro mandou mensagem para o presidente Mário Bittencourt, oferecendo-se para o cargo vago. Segundo ele, “algo do além, espiritual”, motivou a atitude.

O treinador já havia dirigido a formação tricolor em 2019, sem títulos na segunda passagem, manteve seu estilo particular, baseado na profusão de opções para passes curtos, porém conseguiu minimizar os riscos e alcançar resultados mais expressivos –que o levaram à seleção brasileira, onde também trabalha, desde julho.

Com os gols do artilheiro Cano e a chegada do craque Marcelo, campeão de tudo no Real Madrid, o time conquistou o Campeonato Carioca fazendo 4 a 1 no rival Flamengo. Foi um momento considerado importante para equipe e comandante, que ganharam confiança e construíram a campanha do título da Libertadores.

O triunfo continental rendeu US$ 27,15 milhões em prêmios (R$ 136,3 milhões). O valor é considerado importante pela diretoria do clube, que fechou o ano passado com a dívida perto dos R$ 800 milhões. Nada disso parece importar agora para o torcedor do Fluminense, que chora. Disfarça e chora. Ou, ao menos por um momento, leva a vida a sorrir.

Fez-se a alegria.

FICHA TÉCNICA

FLUMINENSE 2 x 1 BOCA JUNIORS (ARG)

Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)

Data: 4 de novembro de 2023 (sábado)

Horário: 17h (de Brasília)

Árbitro: Wilmar Roldan (COL)

Assistentes: Alexander Guzman (COL) e Dionísio Ruiz (COL)

VAR: Juan Lara (CHI)

Cartões amarelos: Keno, John Kennedy, Nino e Cano (Fluminense) e Cavani, Figal, Langoni e Fabra (Boca Juniors)

Cartões vermelhos: John Kennedy (Fluminense) e Fabra (Boca Juniors)

Público: 69.232

Renda: 31.702.250,00

Gols: Fluminense: Cano, aos 36 minutos do 1T, e John Kennedy, aos 10 minutos da prorrogação; Boca Juniors: Advincula, aos 27 minutos do 2T

Fluminense: Fábio, Samuel Xavier (Guga), Nino, Felipe Melo (Marlon) e Marcelo (Diogo Barbosa); André, Martinelli (Lima) e Ganso (John Kennedy); Arias, Keno (David Braz) e Cano. Técnico: Fernando Diniz.

Boca Juniors: Sergio Romero; Advíncula, Figal (Valdez), Valentini, Fabra; Pol Fernández, Ezequiel Fernández (Saracchi), Medina (Taborda) e Barco (Langoni); Merentiel (Janson) e Cavani (Benedetto). Técnico: Jorge Almirón.

Redação / Folhapress

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