SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto perpetuam calçadas irregulares, fiações emaranhadas e muros praticamente sufocando os indivíduos da flora paulistana, toda chuva na cidade é um risco para queda das árvores, como a tempestade que atingiu a capital na última sexta (3).
De acordo com o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, ocorreram, só da meia-noite deste sábado (4) até às 12h35, 528 chamados para quedas de árvores. E, segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, o município registrou, por meio da Defesa Civil, 44 atendimentos, sendo 38 quedas, entre as 7h da sexta (3) e 7h de sábado (4). Os estragos estão espalhados por toda parte.
Mas por que as árvores caem com tanta frequência em São Paulo? Como tudo que ocorre na cidade, os fatores são múltiplos.
Segundo Andressa Rhein, engenheira agrônoma e coordenadora da Divisão de Arborização Urbana da SVMA (Secretaria do Verde e Meio Ambiente) de São Paulo, é preciso lembrar que as árvores são organismos vivos, que apresentam interações, elas próprias, com o meio.
“As interferências [que elas sofrem] nas cidades são constantes, desde ações antrópicas, como podas mal feitas, afastamento de fiações, até colisões com veículos, que podem levar ao deterioramento das árvores devido a fungos e outras pragas”, disse, lembrando também que um bom espaço para crescimento é fundamental.
Muitas vezes, porém, a situação vista na cidade é outra: árvores enormes com raízes que ocupam as vias, quebrando calçadas e até mesmo obstruindo a passagem de pedestres. “Em geral, o manejo e plantio das árvores em um contexto urbano precisa levar em consideração essas características, para que a árvore cresça tanto na copa quanto nas raízes em um canteiro adequado, sem o sufocamento”, explica.
Com o asfalto recobrindo a parte subterrânea das árvores, as trocas tanto de gases e nutrientes quanto com a água da chuva são afetadas. “Isso acaba fazendo com que elas procurem um espaço adequado para se desenvolver, levantando calçadas, porque são organismos vivos. As raízes também servem para dar sustentação, então quando elas não conseguem crescer adequadamente, em uma situação de chuva forte com ventos, elas podem ser arrancadas”, afirma Rhein.
Em relação aos muros e prédios, não há uma associação direta de que toda árvore próxima a um muro pode indicar um risco maior de queda. Porém, há um problema crônico de falta de profissionais para fazer a poda e o diagnóstico das árvores em risco, serviço ligado à Defesa Civil. Na última sexta (3), pelo menos seis pessoas morreram no estado de São Paulo, atingidas por muros ou árvores.
“É por isso que é importante que haja o monitoramento, a poda seja realizada corretamente, mas muitas vezes algumas dessas árvores maiores são plantadas até de maneira espontânea, são espécies exóticas que têm sucesso em um contexto urbano”, explica a engenheira, reforçando que a SVMA só faz o monitoramento daquelas que estão em parques e áreas verdes, sendo o serviço de casas e ruas delegação da Secretaria de Segurança Urbana pelo número 156.
As principais destruidoras –e que são também campeãs de reclamações após temporais em SP– são as tipuanas (Tipuana tipu) e as figueiras (Ficus sp.) -algumas destas, centenárias, podem também apresentar riscos devido ao processo natural de envelhecimento da planta.
Rhein explica, ainda, que o Plano Municipal de Arborização Urbana prevê algumas ações como, por exemplo, elaborar um protocolo de avaliação de risco de queda e um plano emergencial de manejo arbóreo, inclusive com os procedimentos a serem adotados em situações de emergência como a registrada neste sábado, quando dezenas de vias ainda continuavam bloqueadas devido à queda de árvores. Porém, quem faz o monitoramento das ocorrências é a Defesa Civil.
Um adendo, aliás, é que, além de ser importante para garantir uma boa qualidade do ar e regulação da temperatura, o plano de arborização urbana é também fundamental em uma cidade com 11 milhões de habitantes. A manutenção de espaços verdes pode evitar, anualmente, cerca de 11 mil mortes associadas a danos à saúde.
E, por fim, vale ressaltar que se não fosse pelo aumento da temperatura global nos últimos anos, a ocorrência de eventos climáticos extremos, como o temporal da última sexta (3), seriam muito menos frequentes. Embora as chuvas sejam esperadas para o período de primavera e verão no Brasil, uma massa de ar frio vinda do Sul se encontrou com a massa de ar quente na capital paulista, provocando instabilidade climática, ao mesmo tempo que um ciclone extratropical era formado na região do Rio Grande do Sul.
E, as árvores, assim como todos os outros seres vivos, também são vítimas do aquecimento global. E nesse caso não haverá ents para nos salvar.
ANA BOTTALLO / Folhapress