SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Joe Biden afirmou nesta terça-feira (7) que a Rússia tem patrocinado uma campanha de desinformação em toda a América Latina, incluindo o Brasil, para propagar notícias falsas que minem o apoio à Ucrânia, com quem está em guerra, e inspirem sentimento antiamericano e anti-Otan (aliança militar ocidental).
A acusação foi feita, em nota, pelo Departamento de Estado. O texto afirma que Moscou financia um processo de “lavagem de informação” com a ajuda de meios de comunicação locais, além de influenciadores digitais. A base para a propagação da rede estaria no Chile.
Washington chama atenção para quatro indivíduos sobre os quais escala as acusações. São eles: Ilia Gambachidze, diretor da agência de relações públicas Social Design; Andrei Perla, diretor de projetos da mesma empresa; Niklai Tupikin, CEO da empresa Structura, e o jornalista Oleg Iasinski –que, segundo consta em seu perfil no X, antigo Twitter, vive em Santiago, no Chile.
“Moscou semeia desinformação e amplifica discursos usando uma rede de veículos e mídias sociais e intensifica esse conteúdo para penetrar ainda mais no ambiente de informação do Ocidente”, diz a nota.
“Isso envolve disseminação de conteúdo falso e propagação de informações e teorias da conspiração que Moscou acha benéficas.”
O Brasil é apenas brevemente mencionado na nota, ao lado de outras nações da vizinhança, como Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba e Peru. A reportagem procurou a embaixada russa em Brasília no final da tarde desta terça-feira, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
O governo americano afirma que a rede de desinformação tem como objetivos centrais “convencer o público latino-americano de que a guerra da Rússia contra a Ucrânia é justa e que as sociedades da região devem se unir a Moscou para derrotar o neocolonialismo”.
“São temas que se alinham a uma falsa narrativa da Rússia de que é peça-chave contra o neocolonialismo, quando na verdade está envolvida no novo imperialismo, tanto na vizinha Ucrânia quanto em sua extração de recursos em países da África”, segue o texto.
A diplomacia americana afirma ainda que estaria no Chile uma espécie de base para a disseminação e tradução dos conteúdos para o espanhol e o português e sua consequente disseminação para canais dos países vizinhos. A nota menciona ainda o nativo digital El Ciudadano, chileno, e a agência de notícias Pressenza, que em seu site detalha ter surgido na Itália e hoje ser registrada em Quito, no Equador.
Essa não é a primeira vez que Washington, principal aliada de Kiev na guerra do Leste Europeu, acusa Moscou de liderar redes de desinformação –acusação semelhante já foi feita em relação à atuação russa na África, por exemplo. O país de Vladimir Putin tem crescido sua influência no continente, tanto na agenda econômica quanto na presença de mercenários do grupo paramilitar Wagner, há anos.
Desta vez, a acusação que envolve nações da América Latina já vinha sendo objeto de trabalho do Centro de Engajamento Global do Departamento de Estado americano há meses.
Ao New York Times, em outubro passado, James Rubin, coordenador do centro, afirmou que a operação ainda era inicial, mas visava a “expor a mão oculta da Rússia” na produção de textos que parecem ter origem em organizações de comunicação locais, não no governo russo.
Um dos episódios que teriam catalisado a investigação foi a divulgação, em agosto, de um texto no Pressenza que retomava uma informação falsa de que o Ocidente saquearia relíquias religiosas de um mosteiro na capital Kiev que seria um local sagrado para a Igreja Ortodoxa russa.
Também em outubro, o mesmo centro do Departamento de Estado publicou comunicado no qual afirmava que a organização Nova Resistência, filial brasileira da New Resistance, seria parte de uma rede de desinformação pró-Kremlin para “apoiar regimes autoritários, tanto à esquerda quanto à direita”.
No X, a organização refutou as alegações americanas e disse que não recebe “financiamento de nenhuma espécie de qualquer governo estrangeiro”.
Redação / Folhapress