Sob pressão por mortes civis, Israel vai atrás do Hamas em hospitais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A operação terrestre de Israel na Faixa de Gaza entrou em uma de suas fases mais críticas, com as forças de Tel Aviv caçando centros de comando do Hamas em instalações hospitalares da capital homônima da região.

Isso ocorre no momento em que mesmo os Estados Unidos, mais importante aliado de Israel na guerra, iniciada quando o grupo terrorista palestino lançou um ataque inédito contra seu território em 7 de outubro, colocam em dúvida a proporcionalidade da retaliação do Estado judeu.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas mas cujos dados são considerados usualmente confiáveis pela ONU e ONGs que atuam na região, o maior hospital de Gaza, o Al Shifa, foi bombardeado e está cercado. A Organização Mundial da Saúde confirmou que há combates intensos na área.

O grupo diz que ao menos 13 pessoas morreram, e não há confirmação independente disso. Outros quatro complexos hospitalares no centro de Gaza também estão na mira de tanques, segundo relatos da imprensa árabe. Um deles, o Indonésio, onde Israel diz haver grande concentração de combatentes do Hamas, sofreu danos segundo sua direção.

A ação é parte do movimento em pinça que está asfixiando militarmente o Hamas na sua capital. Ele começou com a efetiva divisão da faixa ao sul da capital, tornando todo o norte uma zona de destruição. Blindados e infantaria, apoiados por ataques aéreos maciços, entraram pelo norte e agora operam no centro da cidade.

Israel ainda não fez comentários, mas seu porta-voz militar, almirante Daniel Hagari, já disse que o país iria procurar centros de comando e depósitos de armas do Hamas em hospitais, o que os tornam alvos legítimos segundo o direito internacional.

Não é segredo que o grupo terrorista se imiscui na infraestrutura civil para se proteger, ainda que negue fazer isso. Há anos isso é prática, e nesta guerra vídeos gravados por soldados israelenses já mostraram lançadores de foguetes encontrados ao lado de parques infantis e dentro de um grupo de escoteiros.

O problema para Israel é justamente a proporcionalidade: mesmo que o alvo venha a ser legítimo, qual o dano que será aplicado a civis inocentes? Essas ponderações existem na lei de guerra, regrada pelas quatro convenções de Genebra —o artigo 18 da quarta, de 1949, é explícito acerca de necessidade de proteger hospitais.

As mesmas regras condenam o uso dessas instalações como escudo, o que borra as fronteiras e dificulta muito a tipificação de crimes de guerra, acusação que os enviados da ONU a Gaza têm feito à campanha israelense, que matou segundo o Hamas cerca de 11 mil pessoas. O ataque terrorista vitimou 1.400, e há cerca de 240 reféns com paradeiro desconhecido nas mãos dos palestinos.

Uma tomada militar do Al Shifa será duramente criticada. “Com os ataques e combates perto [do hospital], estamos muito preocupados acerca do bem-estar dos milhares de civis lá, muitos deles crianças, procurando atenção médica e abrigo”, afirmou em nota a ONG Human Rights Watch.

Na quinta (9), Israel concordou com uma pausa diária de quatro horas para que os civis deixassem a região norte de Gaza, mas rejeitou um cessar-fogo.

Subindo o tom após não ter sua proposta de três dias de pausa aprovada por Tel Aviv, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou na Índia que “já morreram palestinos demais” na guerra. Ele disse que respeita os esforços dos aliados em Tel Aviv de reduzir o número de baixas civis na guerra com o Hamas, mas que não estava sendo suficiente.

As batalhas, enquanto isso, seguem violentas. Além disso, o Hamas e seus aliados da Jihad Islâmica seguem disparando foguetes contra cidades israelenses, numa mostra de resiliência após mais de um mês de bombardeios. Duas pessoas ficaram feridas levemente por destroços em Tel Aviv nesta sexta.

Em outra frente, as Forças de Defesa de Israel afirmaram ter atacado bases militares na Síria em retaliação por um incidente ocorrido na quinta (9), quando um drone atingiu a cidade costeira de Eilat, no sul do país, pela primeira vez.

Inicialmente, os militares achavam que o artefato era de rebeldes houthis, que operam a 1.500 km dali, o Iêmen, apoiados pelo Irã. Mas uma análise de trajetória identificou o avião-robô como originário da Síria, onde o governo e diversos grupos são anti-Israel.

No norte israelense, a usual troca de fogo com o Hezbollah libanês, aliado do Irã, do Hamas, da Síria e dos houthis, seguiu seu rumo nesta quinta. Não houve relatos de feridos, e sirenes de ataque com foguetes soaram em diversas cidades da região.

IGOR GIELOW / Folhapress

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