Calor bate recorde em São Paulo e faz até Freddy Krueger beber suco

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Esse calor é o verdadeiro pesadelo”, conta o ator sob a máscara de silicone que cobre da cabeça ao peito e da blusa de lã com listras verdes e vermelhas. Perto do termômetro de rua que marcava 39ºC às 14h deste domingo (12) na praça da Liberdade, no centro de São Paulo, Leandro Toguro, 41, posava para fotos fantasiado de Freddy Krueger, o personagem que invade sonhos para aterrorizar suas vítimas.

Poucas vezes o trabalho exigiu tanto, conta Toguro. “Estou com a roupa encharcada de suor e já tomei três litros de suco e um de água”, diz. “Se não for desse jeito, eu vou desmair.”

Enfrentando a onda de calor, paulistanos e turistas lotaram as ruas do bairro. Roupas leves e curtas -menos para Krueger- eram parte da estratégia para suportar a temperatura que chegou a 36,7ºC nesta tarde, segundo medição automática prévia da estação meteorológica no Mirante de Santana, na zona norte da cidade. O boletim oficial deverá ser divulgado após as 21h.

Já o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas) da Prefeitura de São Paulo informou que a média da temperatura máxima alcançou 36,9°C neste domingo, superando os 36,5°C registrados em 24 de setembro. Este é o dia mais quente de novembro de todo o histórico do CGE, que possui dados desde 2004. Até então o dia mais quente para um mês de novembro havia sido anotado em 2019, com a temperatura máxima média de 35,3°C.

Sombras das barracas de comida e nos toldos de loja eram quase tão disputadas quanto as garrafinhas plásticas de água gelada, que desapareceram rapidamente das caixas de isopor dos ambulantes.

Na metade do dia, o estoque da vendedora Eliana Jesus Santos, 53, só tinha uma das 60 garrafas que ela havia acondicionado sob o bloco de gelo com cerca de 20 kg. Outras duas barras iguais também já tinham derretido. “Só gelo em barra resiste a este calor insuportável”, conta “O saco com pedras pequenas derrete em cinco minutos.”

Até quem está acostumado a temperaturas mais altas sofreu o clima atípico na cidade. Moradora de Recife, a funcionária pública Flávia Paloma Borba, 37, afirma que, na capital pernambucana, o calor é sempre amenizado pela brisa do mar.

“Aqui em São Paulo é mais difícil porque é muito seco. Eu já passei mal duas vezes”, conta a turista recifense. “Eu até tentei comprar um umidificador de ar, mas estavam esgotados.”

Borba sugere que comerciantes e prefeitura instalem ventiladores que borrifam água sobre o público. “Fazem isso em Recife, durante o Carnaval”, comenta.

Já a artesã Rosane Russi, 58, que vende as cerâmicas numa banca na praça da Liberdade, diz que gostaria de um caminhão-pipa distribuindo e jogando água sobre as pessoas. “A água da minha garrafa já está quente”, reclama. “A gente fica estranha nesse calor, a minha pressão já baixou, é impossível se acostumar.”

Especialista em adaptação das cidades à mudança climática, a engenheira-civil Denise Duarte afirma que o poder público e o setor privado precisarão desenvolver estratégias para proteger o público em dias de calor extremo, que tendem se tornar mais frequentes.

“Em ondas de calor recentes, cidades como Paris, por exemplo, precisaram abrir cinemas e outros espaços com ar-condicionado para que as pessoas pudessem buscar refúgio”, compara.

Ela também cita a ampliação e aperfeiçoamento da operação Altas Temperaturas da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) como medidas necessárias, além da instalação de bebedouros públicos.

Nas ruas de São Paulo, comerciantes improvisam para dar conforto ao público que enfrenta o calorão. Com fila na porta, a unidade do bairro da Liberdade da cafeteria We Coffe distribuía sombrinhas para os clientes que esperavam para entrar. “Nós sempre oferecemos, a diferença é que hoje todo mundo aceitou”, conta o diretor de marketing da rede, Junior Vieira.

Ainda mais quente estava o interior do carro do eletricista José Salvino, 41, cuja família ocupava todos os assentos do veículo que, sem ar-condicionado, circulava com janelas abertas e bem devagar pela rua Galvão Bueno. O asfalto tomado por pedestres tornava o trânsito lento. “Entrei desavisado aqui, não sabia que tinha essa multidão”, conta. “Tinham que ter fechado a rua lá na ponta”, reclama.

A via normalmente fica fechada para carros aos domingos, mas permaneceu com tráfego liberado nesta data devido à realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em escolas nos arredores.

CLAYTON CASTELANI / Folhapress

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