Lula usa repatriação como palanque e tenta afastar tese bolsonarista sobre Gaza

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Lula (PT) trabalha para ampliar os ganhos políticos com a repatriação dos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza e também em Israel. O próprio mandatário compareceu na noite desta segunda-feira (13) na Base Aérea de Brasília para recepcionar os repatriados de Gaza, em um evento com vários aspectos midiáticos, presença de ministros e discursos.

O saldo dos dez voos para trazer mais de 1.400 brasileiros e familiares de volta ao país teve amplo destaque na imprensa e, no geral, recepção positiva nas redes sociais.

Um dos objetivos do governo foi reforçar a imagem de que foi a gestão Lula a responsável pela liberação do grupo de 32 pessoas em Gaza. A preocupação se justifica por causa de uma campanha de aliados de Jair Bolsonaro (PL) que busca difundir nas redes a versão de que o ex-presidente teria sido responsável pelo êxito da repatriação.

Os 32 brasileiros e familiares que estavam na Faixa de Gaza, que sofre bombardeios de Israel, chegaram na noite de segunda-feira (13) a Brasília, após mais de um mês e negociação intensa por parte do governo brasileiro.

Os brasileiros e familiares palestinos atravessaram a fronteira com o Egito no domingo (12). Depois seguiram para o Cairo, onde um avião da Presidência da República os aguardava.

Lula, a primeira-dama Janja e diversos ministros compareceram à Base Aérea de Brasília para recepcionar o grupo, um evento que foi amplamente divulgado pela equipe de comunicação do governo.

Estavam no local os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Márcio Macêdo (Secretária-Geral), Flávio Dino (Justiça), Nísia Trindade (Saúde) e Silvio Almeida (Direitos Humanos).

A chegada dos brasileiros que vieram da Faixa de Gaza foi o momento mais aguardado da operação Voltando em Paz, executada pela Força Aérea Brasileira em conjunto com o corpo diplomático.

A repercussão positiva da operação ajudou o Planalto a contornar alguns desgastes, em particular as cobranças pelo Brasil não considerar o Hamas como uma organização terrorista. O próprio Lula chegou a afirmar que a ação do grupo ao atacar o território israelense foi um “ato terrorista”, mas que a classificação da organização deveria ser decidida pelo Conselho de Segurança da ONU —o Brasil historicamente segue a orientação organização.

Bolsonaristas buscaram explorar politicamente declarações de Lula críticas a Israel e a proximidade de petistas e aliados com a causa palestina. Nos últimos dias, espalharam a narrativa de que a articulação de Bolsonaro com israelenses teria resultado na liberação dos brasileiros.

Bolsonaro se encontrou na semana passada com o embaixador Daniel Zonshine, num evento na Câmara dos Deputados para exibição de vídeos dos ataques terroristas do Hamas. O episódio foi um dos exemplos usados por bolsonaristas para difundir a tese.

“Parabéns presidente Bolsonaro! Na mesma semana em que se envolveu diretamente para a solução do drama dos brasileiros em Gaza, após semanas de erros da ‘diplomacia’ radical do PT, nossos irmãos estão livres. O Brasil voltou é isso!”, escreveu em sua rede social o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro.

Na chegada dos brasileiros de Gaza, Lula deu sequência à escalada retórica em relação a Israel.

O mandatário havia afirmado nas horas anteriores que a reação de Israel era “tão grave” quanto o ataque terrorista do Hamas. Lula depois também passou a descrever como terrorismo o bombardeio israelense contra a Faixa de Gaza.

“Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que fez, o Estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra; ao não levar em conta que as mulheres não estão em guerra; ao não levar em conta que eles não estão matando soldados, estão matando junto crianças”, declarou o presidente ao receber os repatriados.

Lula depois repetiu a dose em sua transmissão na internet, o Conversa com o Presidente. Ele disse que o ato de Israel era terrorismo por vitimar mulheres e crianças inocentes.

O presidente ainda acrescentou ter a impressão de que Israel busca expulsar os palestinos da Faixa de Gaza para ocupar a região.

“É preciso que a ONU convoque alguma coisa especial porque essa guerra, do jeito que vai, ela não tem fim. Estou percebendo que Israel parece que quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos de lá. Isso não é correto, não é justo. Nós temos que garantir a criação do Estado palestino para que eles possam viver em paz junto com o povo judeu”, afirmou o presidente.

As declarações vieram numa crescente, considerando que o presidente brasileiro vinha criticando a reação de Israel, mas evitando termos mais fortes, como terrorismo.

No fim de outubro, o presidente chegou a afirmar que a guerra era um “genocídio”, mas sem deixar claro se era apenas um lado que promovia essa ação.

“O problema é que não é uma guerra, é genocídio que já matou quase 2.000 crianças que não têm nada a ver com esta guerra, são vítimas desta guerra. Não sei como um ser humano é capaz de guerrear sabendo que o resultado desta guerra é a morte de inocentes”, afirmou.

RENATO MACHADO / Folhapress

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