SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O Afropunk, um dos maiores festival de cultura negra do mundo, reuniu em dois dias a cantora do ano pelo Prêmio Multishow, Iza, a vencedora do Grammy Latino, Gaby Amarantos, e a imortal da Academia Brasileira de Cultura, Alcione.
O evento, que aconteceu neste final de semana, atraiu cerca de 50 mil pessoas ao Parque de Exposições, em Salvador. Em sua terceira edição, o Afropunk se consolida como um dos mais importantes no calendário de festivais do país ao celebrar o protagonismo negro na música.
Gaby Amarantos foi uma das primeiras atrações do sábado e usou o palco do festival para comemorar sua vitória no Grammy Latino. A cantora paraense ganhou na categoria melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa com o disco “TecnoShow”, seu trabalho mais recente, e levou o primeiro prêmio à Amazônia.
“Sou uma artista independente e essa conquista demonstra a outros artistas que não têm gravadora que dá sim para fazer arte, ser premiado, lotar show sem necessariamente fazer parte dessa indústria maluca, que segrega tanto”, disse Amarantos.
Logo depois de a paraense se apresentar no Gira, foi a vez de a baiana Majur assumir o Agô com seus maiores sucessos, incluindo canções do seu mais recente álbum, “Arrisca”. Entre elas, “Pimenta de Cheiro”, “Clima” e Andarilho”.
“Estar aqui é extremamente gratificante. É ver meu trabalho e esforço, da minha equipe, do meu balé, valer a pena”, afirmou a cantora, que em 2024 deve lançar um trabalho dedicado às origens africanas.
Na mesma noite, o Afropunk trouxe ainda Carlinhos Brown com seu “Alfagametizado”, de 1996. “Quando fiz esse álbum, eu clamava para que existisse festivais assim, para que a cultura negra agisse, para que a nossa sofisticação fosse compreendida”, disse.
O cantor recebeu as filhas Nina e Cecília no palco para um dos melhores shows da noite. Um dos pontos altos foi a performance da bailarina Ingrid Silva, que dançou ao som da música “Quixabeira”.
A programação se estendeu com o show da americana Victoria Monét, em sua primeira passagem pelo Brasil. Em seguida, foi a vez das gêmeas Tasha e Tracie, da região norte de São Paulo, apresentarem seu rap ao lado da funkeira Tati Quebra Barraco.
Uma das últimas atrações da noite foi o rapper mineiro Djonga, que levou sua avó ao palco. Quem também levou a avó e a mãe foi o cantor O’Kanalha, fenômeno do pagodão baiano que fechou o primeiro dia de festival.
O segundo dia atraiu um público maior, com cerca de 30 mil pessoas, 10 mil a mais que o de sábado.
O Olodum, um dos primeiros do dia, levou grandes sucessos como “Faraó”, “Várias Queixas” e “Protesto Olodum”. Alcione, a quinta a se apresentar na noite, foi responsável por um dos momentos mais catárticos do festival, com o show que celebra seus 50 anos de carreira em uma parceria com a escola de samba da Mangueira. A plateia berrava emocionada sucessos como “A Loba”, “Sufoco” e “Você me Vira a Cabeça”.
“Eu fico com meu queixo caído com tanta juventude que vem ao meu show. Eu acho uma graça conseguir também agradar esse público. A juventude brasileira é exigente”, disse a cantora.
Alcione foi imortalizada recentemente na Academia Brasileira de Cultura e será a grande homenageada pela Mangueira no Carnaval 2024. “A minha ficha ainda não caiu. Imagina ser enredo de uma escola como essa. Será que eu mereço isso?”, disse.
O Afropunk é um movimento cultural que valoriza várias expressões artísticas, incluindo a moda. Para todos os lados no evento, era possível encontrar penteados feitos de tranças nagô, dreads e variações de black power.
Já nos looks, muitas estampas africanas, cores vibrantes e acessórios com búzios. Em seu show, a cantora Iza reforçou esse aspecto do festival. “Olhe para o lado. Se cair uma bomba aqui hoje, toda a beleza do país acabou”.
Seu show foi interrompido por um susto. Um foco de incêndio começou na entrada do Parque de Exposições por volta das 22h40. Segundo a organização, o fogo começou em um ponto de alimentação. A área foi rapidamente isolada pela equipe de brigadistas do festival e ninguém se feriu.
A banda BaianaSystem encerrou o festival com protestos contra o racismo. “Às vezes, as pessoas falam das nossas letras políticas como se fossem uma coisa de outro mundo, de outro lugar, é do nosso mundo, é do nosso lugar, falam do nosso lutar”, afirmou o vocalista Russo Passapusso.
NADINE NASCIMENTO / Folhapress