CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – As fortes chuvas que voltaram a atingir o Rio de Grande do Sul já provocaram a morte de quatro pessoas e mais de 10 mil precisaram deixar suas casas desde a última quarta-feira (15).
A Defesa Civil estadual registra 3.235 desabrigados (dependem de abrigos públicos) e 7.527 desalojadas (podem ir para a casa de conhecidos).
Além disso, dezenas de estradas seguem interditadas nesta segunda-feira (20).
A maior parte das pessoas afetadas (2.819) vive no Vale do Taquari, a mesma região severamente atingida pelas chuvas em setembro deste ano.
No Vale do Taquari, as pessoas desabrigadas estão sendo atendidas em 35 abrigos públicos em dez municípios (Arroio do Meio, Colinas, Cruzeiro do Sul, Encantado, Estrela, Lajeado, Muçum, Roca Sales, Santa Tereza e Taquari).
Já as quatro mortes associadas às chuvas no Rio Grande do Sul ocorreram nas cidades de Guriá, Gramado e Vila Flores, entre quarta (15) e sábado (18). Ao menos 63 pessoas ficaram feridas.
Na manhã desta segunda, as autoridades também apontaram preocupação com os efeitos do volume de água dos rios no Lago Guaíba, da capital Porto Alegre. Todos que desembocam no Guaíba como o rio Taquari, por exemplo apresentam cheia.
O nível do Guaíba atingiu 3,04 metros no começo da manhã, acima da cota de inundação, de 3,00 metros, e a Prefeitura de Porto Alegre iniciou o processo de fechamento das comportas do sistema de proteção contra as cheias. No início da tarde, a medição já apontava para 3,19 metros.
Por causa da cheia do Guaíba, a Defesa Civil de Porto Alegre diz que já está atuando nas regiões ribeirinhas desde domingo. O bairro mais afetado até o momento na cidade é o bairro Arquipélago, composto de algumas ilhas, sendo cinco delas povoadas.
As remoções de moradores, segundo a Defesa Civil, tiveram início na noite de domingo e ainda seguem nesta segunda. Ao menos 102 pessoas, incluindo 32 crianças, devem ser removidas no total, em uma primeira estimativa. Elas estão sendo levadas para abrigos ou para casa de parentes e amigos.
A Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre também precisou suspender a circulação de trens em três estações Mercado, Rodoviária e São Pedro devido a alagamento de vias.
De acordo com a MetSul Meteorologia, a marca de 3,19 metros no início da tarde desta segunda no nível do Guaíba já representa a maior cheia desde 1941.
A marca supera duas grandes cheias: a de setembro último (3,18 metros) e a de setembro de 1967 (3,13 metros). A maior cheia continua sendo a de 1941, com 4,76 metros.
A MetSul Meteorologia chama atenção para o fato de as duas maiores cheias desde 1941 terem ocorrido em 2023 com intervalo de apenas 55 dias.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), sobrevoa as regiões mais atingidas ao longo da tarde além do Vale d Taquari, o Vale do Caí e a Serra.
“Sobrevoei São Sebastião do Caí com o prefeito Júlio Campani. Os estragos da maior enchente em 148 anos foram muitos, mas não houve perda de vidas no município. Não faltará apoio à reconstrução da cidade”, disse Leite.
Algumas prefeituras, como a de Cruzeiro do Sul, estão pedindo doações, como materiais de limpeza, por exemplo. Outras cidades buscam ajuda de voluntários, como Arroio do Meio, Muçum, Roca Sales.
Moradores de municípios como Roca Sales ainda se recuperavam da devastação provocada pelas fortes chuvas de setembro, quando o Rio Grande do Sul registrou 51 mortes.
Naquele mês, cadeiras, roupas e eletrodomésticos ficaram pendurados em árvores e cabos de luz de Roca Sales, em meio a casas e carros totalmente destruídos.
De acordo com a Defesa Civil estadual, a diferença entre setembro e agora tem a relação com a velocidade das cheias, menos abrupta desta vez.
Em setembro, houve chuvas volumosas em um curto espaço de tempo, gerando enxurrada forte, com os rios transbordando e arrastando o que estivesse pela frente. Agora, em novembro, houve uma elevação gradual do nível do rio. O volume total de água, contudo, é semelhante.
O governo estadual calcula que, desde quarta, mais de 194 mil pessoas foram afetadas, direta ou indiretamente. Ao menos 133 municípios comunicaram danos à Defesa Civil estadual.
Além disso, 41 estradas estaduais seguem com bloqueios totais ou parciais devido a deslizamentos de terra ou inundações.
Depois do final de semana chuvoso, cai menos água no Rio Grande do Sul nesta segunda e terça. Na quarta, contudo, nova mudança de tempo. De acordo com a MetSul, uma frente fria leva chuva desde cedo para partes do oeste e sul gaúcho. No decorrer do dia, a frente se desloca pelo estado levando chuva para todas as regiões.
Ainda segundo a previsão da MetSul, a chuva pode ser forte em diversos municípios. Haverá cidades com acumulados de 50 mm a 100 mm apenas na quarta.
EM SC, DEFESA CIVIL REGISTRA TORNADO
No estado vizinho, em Santa Catarina, as chuvas também têm provocado estragos. De terça (14) a domingo (19), 67 municípios entraram em situação de emergência, sendo nove em estado de calamidade pública: Rio do Sul, Rio do Oeste, Vidal Ramos, Pouso Redondo, Trombudo Central, Agrolândia, Botuverá, São João Batista e Braço do Trombudo.
No sábado (18), por volta das 9h, a Defesa Civil estadual identificou a passagem de um tornado na comunidade de Cedro, em Urupema, na região do Planalto Sul.
Houve a destruição parcial de uma residência, com destroços arremessados para longe, além de árvores de grande porte que foram torcidas e tombadas.
A velocidade do vento na região superou os 100 km/h, mas deve ter sido ainda mais intenso na localidade afetada, segundo a Defesa Civil.
As chuvas dos últimos dias já provocaram a morte de três pessoas em Santa Catarina. Nesta segunda (20), o Corpo de Bombeiros segue nas buscas por um homem de 70 anos, que teve a casa arrastada pelas chuvas, em Praia Grande.
De acordo com o EPAGRI/CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina), a combinação de calor e umidade favorecem o retorno dos temporais isolados em Santa Catarina nesta terça-feira (21), especialmente nas regiões de divisa com o Rio Grande do Sul. Mas o risco para ocorrências associadas é baixo.
Isso muda entre quarta (22) e quinta (23), quando a formação e passagem de uma frente fria pelo estado pode provocar temporais intensos e volumosos, principalmente no oeste.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress