Danilo Miranda é único, eu sou apenas diretor, diz Luiz Galina, novo chefe do Sesc

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 1968, o Sesc-SP fez algumas contratações depois da realização de um concurso. Entre os novos funcionários, estavam dois jovens que se tornaram amigos próximos. Um deles, o sociólogo Danilo Santos de Miranda, assumiu cargos relevantes na entidade até se tornar diretor regional em 1984, função que exerceu até sua morte no último dia 29 de outubro, aos 80 anos.

O outro, o economista Luiz Galina, começou como orientador social e também ocupou postos estratégicos na entidade privada sem fins lucrativos, que se tornou uma potência da cultura e do lazer no estado de São Paulo, com 42 unidades.

Com a morte de Miranda, Galina foi escolhido, aos 79 anos, para comandar o braço paulista do Sesc.

Apesar das semelhanças nas trajetórias, ele rejeita comparações com o antecessor. “Deixo muito claro que não estou substituindo o Danilo porque ele é único. É um Niemeyer, um Villa-Lobos, um Darcy Ribeiro, sabe? São pessoas únicas. Eu sou apenas diretor regional”, diz à Folha de S.Paulo.

A escolha coube, como manda o regulamento, apenas ao presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo, a FecomercioSP, entidade que gere o Sesc e o Senac no estado. No caso, Abram Szajman. O diretor regional não tem um período de mandato, ou seja, fica no cargo enquanto contar com a confiança do presidente.

Apesar da proximidade, Galina não acredita que Danilo pensasse nele como o sucessor. “Ele estava preparando outras pessoas para assumir esse cargo”, afirma, sem citar colegas. Nos bastidores, a superintendente Rosana Paulo da Cunha estava entre os nomes cotados.

Nesta entrevista, fala sobre a intenção de manter o plano de ampliação definido na gestão de Danilo, que prevê dez inaugurações nos próximos dez anos, uma conta que já desconsidera as recém-abertas unidades da Casa Verde, na zona norte de São Paulo, e 14 Bis, na região central.

Afirma ainda que, embora o governo federal tenha vetado a proposta de destinar para a Embratur parte da contribuição das empresas que vai para o Sesc e o Senac, a preocupação se mantém. “Nunca estamos tranquilos. Existem projetos na Câmara e no Senado que interferem na nossa arrecadação.”

PERGUNTA – Houve recentemente essa proposta que previa que uma parte da contribuição recebida pelo Sesc e pelo Senac iria para a Embratur. O governo federal acabou vetando. Ainda há uma preocupação da diretoria do Sesc em relação a isso?

LUIZ GALINA – Sim, esse é um tema que vira e mexe volta à tona. Entidades como o Sesc recebem uma contribuição compulsória, mas sua gestão é privada, o que incomoda setores do governo. Dizem: “por que não é do governo então de uma vez?” Nesse sentido, nunca estamos tranquilos. Existem projetos na Câmara e no Senado que interferem na nossa arrecadação.

Em 2019, Raquel Dodge, então procuradora-geral da República, disse que faltava transparência ao Sistema S em relação ao uso do dinheiro que era repassado às entidades. Houve alguma mudança desde então?

L. G. – Não sei se foi em decorrência dessa declaração, mas o TCU (Tribunal de Contas da União) tem nos fiscalizado e dado orientações em relação à transparência. Toda a nossa contabilidade, o nosso orçamento e as nossas despesas ficam no chamado Portal da Transparência. Qualquer cidadão pode consultar esses dados.

O TCU acompanha os nossos processos de compra e contratação, tem acesso a tudo de forma online. Somos fiscalizadíssimos. As compras de material e serviços são precedidas por licitação, a não ser em alguns casos previstos no nosso regulamento. Além disso, somos acompanhados por um conselho fiscal, formado, em sua maioria, por representantes nomeados pelo governo.

O sr. vinha se preparando para assumir a diretoria do Sesc?

L. G. – Desde que o Danilo se tornou diretor, eu ocupei cargos importantes, nomeado por ele. Gerência de finanças, superintendência de administração. O Sesc tem quatro superintendências ligadas ao diretor regional: administração, técnico-social, que cuida da programação, comunicação social e planejamento.

Como se fossem ministros?

L. G. – Sim. No ano passado, o Danilo mudou essas superintendências. Três colegas meus foram aposentados porque já tinham condições para isso, e novos superintendentes foram nomeados.

Nessa ocasião, o Danilo falou que eu, até então superintendente de administração, seria uma espécie de consultor técnico ligado diretamente a ele, para compartilhar as ideias sobre a gestão do Sesc. Não existia esse posto, foi ele quem inventou. Dizia que eu era alter ego dele [risos].

Nos 20 anos em que fiquei como superintendente, todas as vezes que o Danilo tirava férias ou viajava, ele me nomeava diretor regional interino. Então eu tenho uns dois anos, se acumular tudo isso, como interino.

Acredita que, quando o Danilo o nomeou para um cargo tão próximo, ele pensava no sr. como o sucessor?

L. G. – Não, ele nunca pensava em me nomear diretor regional, não estava me preparando para isso. Estava preparando outras pessoas para assumir esse cargo. Aliás, nós temos vários colegas e várias colegas preparados para isso. É um cargo de confiança, a nomeação é uma incumbência do presidente [da FecomercioSP].

O conselho regional não precisa endossar a escolha do presidente?

L. G. – Não, é uma decisão do presidente, como está no nosso regulamento. O conselho, vamos dizer, é comunicado. Embora a nomeação seja do presidente, todos os conselheiros me cumprimentaram. Sem eles e o presidente, a gente não administra.

Danilo comandou o Sesc-SP por quase 40 anos e tinha, de modo geral, uma imagem positiva entre os frequentadores da entidade, os artistas e outros grupos. O sr. teme ser comparado a ele?

L. G. – Deixo muito claro que não estou substituindo o Danilo porque ele é único. É um Niemeyer, um Villa-Lobos, um Darcy Ribeiro, sabe? São pessoas únicas. Eu sou apenas diretor regional. E, claro, Danilo construiu essa imagem ao longo das décadas. Tive o privilégio de trabalhar com ele, com quem aprendi muito. Mas não passa pela minha cabeça me comparar a ele.

Em maio deste ano, o Sesc anunciou um plano de expansão para os próximos 10 anos, prevendo 12 novas unidades e 8 a serem ampliadas. Falou-se àquela altura de um investimento estimado em R$ 6 bilhões. Tudo isso está mantido?

L. G. – Sim, é um plano aprovado pela presidência e pelo conselho. Neste mês de outubro, iniciamos o funcionamento de duas novas unidades, o Sesc 14 Bis e o Casa Verde, que faziam parte desse plano. Nos dois casos, iniciamos a operação em parte do prédio, vamos ampliar os serviços. Com 45 mil metros quadrados de área construída, o Casa Verde será a maior unidade urbana do Sesc. Atualmente é o Belenzinho.

Quando a unidade da Casa Verde será concluída por completo?

L. G. – No ano que vem, será aberto o restaurante, com capacidade para em torno de mil refeições por dia. Mas ainda não temos esse cronograma totalmente definido porque será um trabalho minucioso.

O Sesc comprou o prédio onde funcionava o Mappin, em frente ao Theatro Municipal. A pouco mais de duas quadras dali, fica a unidade da rua 24 de Maio. Não haverá uma sobreposição?

L. G. – Têm funções diferentes. Não haveria sentido fazer duas unidades operacionais, uma ao lado da outra. Vamos instalar naquele edifício a nossa sede administrativa. Sairemos daqui [um prédio no Belenzinho, onde aconteceu a entrevista], onde estamos há 18 anos, e vamos para lá. E esse prédio aqui será usado para outras funções.

No térreo e no primeiro andar do prédio onde era o Mappin, nós estamos pensando em fazer –não há um nome ainda– uma espécie de “showroom” sobre tudo o que o Sesc faz, com muita tecnologia. É uma ideia do Danilo, aliás.

O Sesc aparece bastante na mídia por meio da sua programação cultural, mas poucos sabem, por exemplo, que temos nas nossas clínicas quase 400 dentistas. Vamos ver se a gente consegue organizar esse espaço de vitrine até o segundo semestre do ano que vem. Os outros pisos dependem de uma adaptação mais profunda.

E os planos para o ano que vem?

L. G. – No segundo semestre, vamos inaugurar o Sesc Franca, um prédio com iluminação e ventilação naturais. Temos buscado construir as novas unidades de maneira mais econômica, com aproveitamento de material, baixo consumo de energia, com aproveitamento de energia solar e reuso de água.

Também no segundo semestre, vamos concluir a ampliação da unidade de Taubaté, que terá teatro e comedoria.

O estado de São Paulo tem 44 milhões de habitantes, segundo o Censo de 2022. Desse total, 20 milhões vivem na Grande São Paulo, que tem 25 unidades do Sesc. A maior parte mora no interior e no litoral, que contam com menos unidades, são 17. Não existe um descompasso?

L. G. – Sem dúvida. Além de Franca e Taubaté, a obra de Limeira está em processo de licitação. Também haverá uma nova unidade em Marília, com inauguração prevista para 2025. A unidade de Ribeirão Preto é uma das mais antigas do interior, está defasada. Nós vamos praticamente construir uma nova. O projeto está na prefeitura aguardando aprovação. A unidade de Presidente Prudente também será ampliada.

E na Grande São Paulo?

L. G. – Nosso plano estratégico define que a gente vá para a periferia. Não podemos abandonar o centro, mas temos que ir para os bairros. Em Pirituba, compramos um terreno que era do Clube Holandês. Só esse espaço não comportaria uma unidade do Sesc porque parte da área é tombada, mas recebemos da prefeitura, por meio de uma cessão de uso, um terreno ao lado. O projeto está pronto, estamos esperando a prefeitura aprovar. É a mesma situação de São Miguel Paulista.

O projeto do Sesc Campo Limpo, onde hoje funciona uma unidade provisória, também aguarda aprovação da prefeitura. Conseguindo a autorização, iniciamos as obras. O projeto arquitetônico foi desenvolvido pela Escola da Cidade. E nós compramos um terreno em Sapopemba, ainda sem projeto.

Como está a situação do TBC?

L. G. – A Funarte cedeu o prédio do TBC ao Sesc por 35 anos, renováveis a cada 35 anos. Além disso, compramos um terreno ao lado, onde era um galpão do Grupo Sílvio Santos. Acabamos de contratar o Alexandre Liba, o arquiteto que havia feito o projeto para a Funarte. A previsão é inaugurar em 2029, quem sabe um pouco antes.

E tem o Sesc no parque Dom Pedro 2º, com um projeto bem interessante do escritório Una, com um pátio arborizado e uma piscina na cobertura. Aquela área em torno do Mercado Municipal é de extrema carência, o Sesc poderá contribuir para a revitalização. A abertura está prevista para 2025.

Raio-X

Luiz Deoclecio Massaro Galina, 79

Nascido em Serra Negra (SP), formou-se em economia e se especializou em educação em saúde pública. Ingressou no Sesc há 55 anos como orientador social e exerceu diversos cargos, como gerente de finanças, superintendente da área administrativa e consultor técnico da diretoria. Com a morte de Danilo Santos de Miranda, tornou-se diretor regional do Sesc-SP no início deste mês.

NAIEF HADDAD / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS