SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apenas 18% das 2.000 maiores empresas do mundo adotam ações corretas para zerar suas emissões de gases de efeito estufa até 2050, ano estipulado pelo Acordo de Paris para o cumprimento da meta que pode limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação ao período pré-industrial.
O levantamento é da Accenture, uma das maiores empresas de consultoria do mundo, e foi divulgado no Brasil na sexta-feira (17).
A análise utiliza dados da S&P Global Market e leva em conta as emissões diretas das empresas públicas e privadas com maiores receitas -também são consideradas emissões indiretas, como aquelas causadas pela produção da energia usada na companhia.
Para analisar a linha do tempo das emissões das empresas, a Accenture separou todas aquelas que divulgam dados desde 2016, quando o Acordo de Paris começou a valer. Nesse caso, a lista diminui para 1.396 companhias.
Dessas, metade continua aumentando suas emissões e metade reduz. Mas 33% de todas elas, apesar de reduzirem suas emissões, fazem isso de forma mais lenta do que o necessário.
Para frear o aquecimento global em 1,5°C, as emissões globais de gases de efeito estufa devem atingir seu pico até 2025, diminuir 43% até 2030 e zerar até 2050.
O estudo também detectou que houve um aumento apenas de cinco pontos percentuais se comparada a quantidade de empresas que reduziram suas emissões desde 2016 e aquelas que já vinham reduzindo nos cinco anos anteriores ao Acordo de Paris.
Quando observada, porém, a intensidade dessas emissões (conta que considera as emissões em relação às receitas e aos controles de desempenho dos negócios), 77% das empresas conseguiram diminuir, contra 40% nos cinco anos que antecederam 2016.
“Isso sinaliza uma clara aceleração do progresso”, analisa a Accenture.
Como a lista das 2.000 maiores empresas do mundo varia a cada ano, as comparações englobam diferentes companhias.
Ainda sobre a quantidade de emissões, a pesquisa detectou que os 20% mais poluentes de cada setor industrial representam 70% do total de emissões das empresas. Nesse grupo, 31% das companhias reduziram suas emissões desde 2016, contra 50% no total.
A pesquisa também apontou que 37% das 2.000 empresas têm metas de redução de emissões de carbono (ou GEE) –elas são responsáveis por quase 13% das emissões globais. Em 2022, 34% tinham metas.
Há, porém, grande variações locais entre essas companhias: entre as europeias da lista, 61% têm metas, mas na América do Norte só 28%. No restante do mundo, são 30%. Como parâmetro, as empresas europeias representam 24% das 2.000; as americanas, 32% e as demais, 44%.
A porcentagem de empresas europeias com metas desse tipo aumentou em dez pontos percentuais em comparação com 2022. “Isto parece refutar a ideia de que os atuais desafios macroeconômicos e geopolíticos na região prejudicariam a ambição climática”, analisou a consultora no levantamento.
Na América do Norte, porém, não houve aumento e, no restante do mundo, o acréscimo foi de dois pontos percentuais.
“Pode haver muitas razões para isto, incluindo desenvolvimentos políticos e regulamentares na região. Mas, independentemente das causas subjacentes, as tendências divergentes são claras; a porcentagem de empresas europeias no G2000 [2.000 mil empresas analisadas] com metas é agora mais do que o dobro das americanas”, aponta o estudo.
A pesquisa da Accenture também traçou 20 ações necessárias para alcançar o net zero e checou quantas empresas as adotam. Essas ações incluem, por exemplo, a utilização de energias renováveis e mudança do modelo de negócio.
A grande maioria das 2.000 empresas estão se ajustando para se abastecer de energia renováveis (79%), para implementar a eficiência energética (82%), reduzir os resíduos (80%) e adotar princípios circulares (68%).
A brasileira Braskem é citada como um exemplo de empresa que adota algumas dessas ações, como rastrear suas emissões de carbono.
“Dada a aparente maturidade destas ações, é provável que elas representem o ponto de partida para as empresas que embarcam nas suas jornadas de descarbonização”, analisa o estudo.
Por outro lado, só 11% das empresas adotam práticas para minimizar os efeitos climáticos de sua tecnologia, como evitar desperdícios de recursos com equipamentos, softwares e energia elétrica. E apenas 12% pensam em inserir mudanças diretas em seus negócios.
Um relatório complementar feito pela Accenture em abril com mais de mil executivos de 14 indústrias pesadas de 16 países apontou que quatro em cada cinco líderes esperam precisar de mais de 20 anos para ter eletricidade zero carbono suficiente para descarbonizar a sua indústria.
Além disso, 95% dos líderes da indústria pesada esperam precisar de pelo menos 20 anos para vender produtos ou serviços com net zero pelo mesmo preço daqueles que emitem altas quantidades de carbono.
Por fim, dois em cada cinco líderes em setores pesados afirmaram que não podem suportar mais investimentos na descarbonização no atual clima econômico, com 63% sugerindo que suas medidas prioritárias de descarbonização não serão economicamente atrativas antes de 2030.
PEDRO LOVISI / Folhapress