SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As mortes maternas por overdose não intencional (o que exclui mortes por suicídio) triplicaram nos Estados Unidos de 2018 a 2021, de acordo com um estudo do sistema de saúde americano.
A análise considerou as mortes de mulheres de 10 a 44 anos com pelo menos uma gestação bem-sucedida (com nascimento do bebê). De janeiro de 2018 a dezembro de 2021, a taxa de mortalidade por overdose em mulheres de 35 a 44 anos passou de 4,9 mortes a cada cem mil indivíduos para 15,8 (aumento de 15,9% a cada semestre).
Para uma morte ser considerada materna, o óbito precisa ocorrer durante a gravidez, no parto ou em até 42 dias após o parto. Outro ponto é que a causa da morte precisa ter alguma relação ou ter sido agravada pela gestação.
Considerando apenas as vítimas que estavam no chamado pós-parto tardio (de 42 dias a um ano após o parto), o número dobrou no mesmo período, passando de 3,1 mortes a cada cem mil mulheres no primeiro semestre de 2018 para 6,1 mortes a cada cem mil no último semestre de 2021. O período coincide com o início e a fase mais dura da pandemia da Covid, que viu também explodir o consumo abusivo de substâncias lícitas e ilícitas.
O levantamento é do Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA, na sigla em inglês), ligado ao NIH, o equivalente do Ministério da Saúde americano. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira (22) na revista especializada Jama Psychiatry.
Para comparar as mortes maternas por overdose com aquelas de outros grupos populacionais, os pesquisadores usaram dados de três sistemas diferentes: óbitos registrados no sistema de Dados de Mortes por Causas Múltiplas (que não possuem informações pessoais) de 2018 a 2021; informações do Arquivos e Recursos na Área da Saúde, que equivale ao registro de óbito nos diferentes estados; e as informações de Ranqueamento de Saúde de Condados, que agregam as informações a nível condado (aglomerado de cidades dentro de uma área administrativa comum).
Com isso, eles conseguiram chegar a alguns indicadores, como por exemplo índice socioeconômico, a disponibilidade na região de centros de atenção à saúde ginecológica e obstétrica, centros cirúrgicos e quantidade de psiquiatras disponíveis para atendimento à população por condado, dentre outros.
Foram analisadas também as mortes por overdose em mulheres que não estavam grávidas ou não eram mães no momento do óbito para avaliar o risco relativo da gestação na morte por abuso de substâncias.
De acordo com a análise, o risco de morrer por overdose era maior em adolescentes e mulheres jovens, mulheres sem ensino superior, solteiras, e para aquelas cujo óbito foi declarado fora de casa ou de centros hospitalares qualificados.
A taxa de mortalidade materna por overdose em mulheres de 10 a 44 anos cresceu cerca de 12,7% a cada seis meses, um número superior ao verificado no público geral, que cresceram 15% ao ano de 2021 para 2022, segundo relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).
O período em que foi verificado o maior aumento foi de janeiro a junho de 2020 em relação ao mesmo período de 2021, coincidente com o primeiro ano da pandemia. Como conclusão, os autores do estudo afirmam que, assim como a mortalidade na população em geral por overdose, as mortes maternas pela mesma causa cresceram em todos os grupos étnicos, escolaridade e estado civil, em especial nas mulheres de 35 a 44 anos, que tiveram o maior aumento.
De acordo com eles, as mortes por overdose diferem das mortes por fatores obstétricos, como intercorrências do parto e outras condições de saúde prévias.
A epidemia de overdose de drogas nos Estados Unidos é, portanto, um problema que afeta em grande parte a saúde também das populações de risco, como gestantes, populações minorizadas, grupos étnicos em situação de vulnerabilidade e pessoas de baixa escolaridade.
ANA BOTTALLO / Folhapress