RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A atuação violenta da Polícia Militar contra torcedores argentinos nesta terça-feira (21) no Maracanã é mais um episódio de uma sequência de falhas na segurança pública que afetaram turistas presentes a eventos no Rio de Janeiro.
A violência no estado atingiu, em menos de dois meses, turistas argentinos na final da Libertadores, um fã da cantora Taylor Swift que veio de Mato Grosso do Sul, e médicos que participavam de um congresso na Barra da Tijuca. Os episódios expuseram a crise na segurança pública, sob responsabilidade do governador Cláudio Castro (PL).
O Governo do Rio de Janeiro disse, em nota, que “em todos os casos citados, medidas foram tomadas por parte das polícias Civil e Militar, desde a instauração de inquérito para apuração dos fatos à prisão dos responsáveis”.
Cenas de violência entre a PM e a torcida argentina atrasaram o início do jogo entre Brasil e Argentina no Maracanã. A confusão começou apos um desentendimento entre brasileiros e os rivais no setor Sul da arquibancada, mas ganhou proporção após a intervenção da polícia.
Os jogadores da Argentina foram até o local para pedir calma. O goleiro Emiliano Martinez chegou a pular para tentar impedir um policial de agredir um torcedor compatriota. A atuação do Bepe (Batalhão Especial de Policiamento de Estádios), no Maracanã, foi alvo de críticas até o atacante Lionel Messi.
“A gente viu como eles estavam batendo nas pessoas. A polícia, como aconteceu na final da Libertadores, mais uma vez reprimindo as pessoas com paus, alguns jogadores tinham família lá”, disse o atleta.
Dias antes da final entre Fluminense e Boca Juniors (no dia 4), os torcedores argentinos foram atacados na praia de Copacabana por tricolores, que avançaram sob observação da PM. A confusão gerou ameaça da Conmebol de realização da decisão com os portões fechados, sem torcida.
A sucessão de casos de violência gerou críticas da imprensa argentina. Em um artigo intitulado “basta de ataques no Brasil”, o jornal esportivo argentino Olé afirmou que “a descontrolada repressão policial brasileira exige sérias reconsiderações”.
“Se as autoridades não conseguirem resolver a organização de uma partida, não é possível mais jogar lá”, escreveu o vice-diretor de Redação do jornal, Diego Macias.
Os episódios de violência, porém, não envolvem apenas eventos esportivos. O estudante Gabriel Mongenot, 25, foi morto a facadas ao ser abordado num assalto quando estava deitado de madrugada na areia da praia de Copacabana. Ele tinha ido de Mato Grosso do Sul ao Rio para assistir ao show da cantora Taylor Swift, no Engenhão.
Até a organização do show, a cargo da empresa T4F, ficou manchada pela morte da também sul matogrossense Ana Clara Benevides, 23. Ela passou mal ao ficar sob forte calor nas grades do Engenhão com acesso limitado a água. No dia seguinte, o governo do estado distribuiu água nas filas da apresentação.
Em outubro, outra tragédia vitimou turistas na orla. Três médicos foram assassinados num quiosque da Barra da Tijuca. Eles estavam no Rio de Janeiro para um congresso de ortopedia num hotel a alguns metros do local do crime.
A polícia suspeita que uma das vítimas foi confundida com um miliciano, real alvo dos criminosos. Os outros dois médicos foram mortos por estarem na mesma mesa. Um ortopedista sobreviveu ao ataque. Os supostos autores do crime foram encontrados mortos um dia depois em carros na zona oeste, assassinados por membros da facção Comando Vermelho, que temiam operações policiais na esteira do ataque no quiosque.
GOVERNO DIZ QUE POLÍCIAS APURARAM FATOS E PRENDEU RESPONSÁVEIS
O governo fluminense disse, em nota, que “em todos os casos citados, medidas foram tomadas por parte das polícias Civil e Militar, desde a instauração de inquérito para apuração dos fatos à prisão dos responsáveis”.
Em relação à confusão no Maracanã, o Palácio Guanabara declarou que a PM “atuou rigorosamente conforme legislação vigente”.
“Em eventos privados, como a partida desta terça-feira, a legislação determina que toda a organização fique a cargo das entidades promotoras envolvidas, no caso, a CBF. Os policiais militares do Bepe atuaram dentro do protocolo operacional da Corporação, adotando a técnica de uso progressivo da força para evitar danos maiores, tendo como objetivo estabilizar o cenário e encaminhar os responsáveis para a Polícia Civil e órgãos competentes do Poder Judiciário.”
O governo disse também ter realizado a prisão do suspeitos do latrocínio contra Gabriel Mongenot em menos de 12 horas após o crime. E, em relação à morte de Benevides, afirmou que a Delegacia do Consumidor instaurou inquérito para apurar o crime de perigo para a vida ou saúde.
“Os organizadores do evento serão chamados para prestar depoimento e outras diligências estão em andamento para apurar os fatos”, afirmou ele.
Em relação à morte dos médicos da Barra, o governo disse que a investigação ainda está em andamento, mas ressaltou ter prendido o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, “o verdadeiro alvo dos traficantes que executaram os três médicos” segundo o Palácio Guanabara.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress