SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Fuvest terá pela primeira na história uma lista de leitura obrigatória só com obras escritas por mulheres -a nova lista vale a partir da prova que será aplicada em 2025, para ingresso na universidade em 2026.
Divulgada nesta terça (22), a relação reúne obras como “Opúsculo Humanitário” (1853), da Nísia Floresta, autora feminista do século 19, até títulos contemporâneos como ” A Visão das Plantas” (2019), de Djaimilia Pereira de Almeida.
Estudantes que procurarem pelos livros, no entanto, poderão enfrentar certa dificuldade para encontrá-los. “Espero que novas edições surjam a partir de agora, para que os alunos todos tenham acesso fácil a essas leituras”, afirma Fernando Marcílio, professor de literatura do Curso Anglo.
Ele diz que os alunos já terão o desafio de ler e analisar as obras, por isso não deveriam ter que enfrentar obstáculos extras para ter acesso aos livros. “Espero que as editoras brasileiras atentem para isso e aproveitem a oportunidade comercial que surge com essa lista”, acrescenta.
A Folha questionou a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para saber se há planos de adquirir as obras para abastecer bibliotecas, mas a pasta não respondeu.
Em consulta realizada na tarde desta quarta (22), a reportagem não encontrou exemplares de “Nebulosa” (1872), de Narcisa Amália, disponíveis em bibliotecas, sebos virtuais ou livrarias.
Quanto a “O Cristo Cigano” (1961), de Sophia de Mello Breyner Andresen, não foram localizados exemplares em bibliotecas. Há apenas opções para compra, como na livraria Martins Fontes (R$ 88) ou na Amazon (R$ 126), conforme consulta realizada nesta quarta.
Já o livro “Opúsculo Humanitário” (1853) está em domínio público e pode ser baixado do site do Senado Federal. Há também exemplares à venda na Estante Virtual.
Quanto a “Memórias de Martha” (1899), de Julia Lopes de Almeida, a obra está disponível na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da USP, e em algumas livrarias.
Essa relativa dificuldade para encontrar algumas das obras da nova lista vai ao encontro do que propõe a a própria Fuvest, de resgatar autoras silenciadas na história da literatura.
Outros títulos da lista da Fuvest 2026 têm acesso mais fácil. “As Meninas” (1973), de Lygia Fagundes Telles, e “A Visão das Plantas” (2019), de Djaimilia Pereira de Almeida, estão disponíveis, por exemplo, na BibliON, a biblioteca virtual do governo de São Paulo.
Essas duas obras também fazem parte do acervo de equipamentos públicos como a Biblioteca de São Paulo e a do Parque Villa-Lobos, assim como “Canção de Ninar Menino Grande” (2018), de Conceição Evaristo. Além disso, todas elas são facilmente encontradas em sebos e livrarias.
Quanto ao livro “Balada de Amor ao Vento” (1990), de Paulina Chiziane, a reportagem encontrou apenas exemplares à venda.
Para especialistas, a decisão da Fuvest é importante. “O cuidado da Fuvest com a escolha de escritoras e o contato com textos tão potentes têm potencial formativo para as novas gerações”, afirma Vinicius Teixeira, professor de literatura do Colégio Oficina do Estudante.
Segundo ele, a “oxigenação” das listas de leitura obrigatória possibilita uma experiência literária mais rica e questionadora para os estudantes.
Fernando Marcílio, do Anglo, avalia que as novas obras serão assimiladas sem dificuldades pelos alunos.
“O tema geral de literatura de temática feminina ou escrita por mulheres, ou ainda de temática negra, não é hoje em dia um tema estranho aos alunos”, diz ele, para quem o grau de dificuldade da prova será o mesmo.
LIVROS DA FUVEST
Veja as listas com os livros de leitura obrigatória da Fuvest dos próximos anos
**Fuvest 2026**
“Opúsculo Humanitário” (1853) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“Caminho de Pedras” (1937) – Rachel de Queiroz
“O Cristo Cigano” (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“As Meninas” (1973) – Lygia Fagundes Telles
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
**Fuvest 2027**
“Opúsculo Humanitário” (1853) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida
“Caminho de Pedras” (1937) – Rachel de Queiroz
“A Paixão Segundo G.H. (1964) – Clarice Lispector
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
**Fuvest 2028**
“Conselhos à Minha Filha” (1842) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“João Miguel” (1932) – Rachel de Queiroz
“A Paixão Segundo G.H.” (1964) – Clarice Lispector
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
**Fuvest 2029**
“Conselhos à Minha Filha” (1842) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Dom Casmurro” (1899) – Machado de Assis
“João Miguel” (1932) – Rachel de Queiroz
“Nós Matamos o Cão Tinhoso!” (1964) – Luís Bernardo Honwana
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Incidente em Antares” (1970) – Érico Veríssimo
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
ISABELLA MENON / Folhapress