Angélica faz 50, volta à Globo e diz por que fala mais de sexo, política e feminismo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Angélica vem preparando, ao longo da última década, corpo, mente e espírito para fazer 50 anos. Foi um período que ela diz ter usado para refletir sobre carreira, família, matrimônio e saúde, além de decidir qual seria a prioridade nessa nova fase.

As sessões de autoanálise foram materializadas no programa “Angélica: 50 & Tanto”, que estreia no Globoplay neste domingo, quatro dias antes de seu aniversário. Na atração, ela recebe mulheres que marcaram a cultura brasileira, como Anitta, Ivete Sangalo, Susana Vieira, Eliana e Xuxa, para um papo em sua mansão, no Rio de Janeiro.

As convidadas são divididas em grupos, ao longo de cinco episódios, para debater com Angélica algum tema em comum de suas vidas. No primeiro capítulo, por exemplo, a aniversariante se junta a Fernanda Souza, Maisa Silva e Sandy para discutir carreiras iniciadas na infância.

“Vivi momentos de vulnerabilidade e de aprendizado dos 40 para os 50”, diz Angélica, por videoconferência, do quarto onde dorme. “É uma fase que toda mulher passa. Os filhos entram na adolescência, você começa a questionar o trabalho e o casamento, e entra na menopausa. Os 50 anos vêm agora com mais tranquilidade, leveza e maturidade.”

A apresentadora diz ter sido difícil não cair na tentação de fazer de “50 & Tanto” um documentário, dado o tamanho do acervo de imagens que possui. “Mas queria que tivesse a ver com o momento que estou vivendo, de falar, conversar, ouvir e trocar. Queria mostrar o passado, mas com a Angélica do presente.”

O início do primeiro capítulo retrata bem tal vontade. Angélica diz “oi”, se apresenta e conta a história de como quase teve outro nome artístico. Ela tinha 12 anos quando começou na televisão. Ouviu de um homem poderoso que deveria se chamar Lolita, nome do polêmico livro de Vladimir Nabokov que narra o interesse obsessivo de um professor universitário por uma garota da mesma idade que tinha.

A apresentadora emenda uma lembrança na outra e conta que um homem dos bastidores da TV pedia para ela sentar em seu colo. São momentos sobre os quais ela nunca falou, diz, porque se sentia insegura. Mas não mais.

No ano passado, disse em conversa com a professora Luciana Temer, filha do ex-presidente Michel Temer, que homens franceses passaram a mão em seu corpo enquanto ela, então com 15 anos, fazia um ensaio em Paris.

Na mesma época, quando virou um rosto marcante da televisão à frente de vários programas infantis, com passagens pela TV Manchete, SBT e Globo, Angélica aparecia nas telas vestindo shorts curtos e tops que deixavam a barriga de fora.

Não era incomum fotos sensuais na adolescência. Em 1988, aos 15, foi fotografada abrindo a jaqueta, com o sutiã à mostra, para uma capa da revista Manchete. Três anos depois, apareceu de novo na capa da mesma publicação usando um maiô cavado.

Mas Angélica não considera que tenha sido explorada no início da carreira. “Usava shortinho ou uma blusinha com 13 anos e achava bonito. Não me sentia sexualizada. Mas com certeza havia um olhar malicioso de diretores ou do público”, diz. “Não aconteceria hoje e, se ocorresse, a gente levantaria a mão e falaria ‘não’.”

Hoje Angélica se sente à vontade para debater temas como sexo. No início do ano, ela se viu no centro de uma polêmica ao fazer propaganda de vibradores femininos para uma marca da qual é cofundadora.

“Achei ótimo falar de assuntos que eram tabu por uma sociedade machista. Mesmo sendo criticada, porque é muito mais fácil deixar a mulher sem saber dos direitos, deveres e prazeres dela. A gente está vivendo uma revolução feminina.”

Quem vem fazendo um movimento semelhante são as ex-apresentadoras infantis Eliana e Xuxa, antes tidas pelo público como rivais de Angélica, mas que hoje são amigas dela. As duas, com 51 e 60 anos, respectivamente, também viram assunto quando tocam em temas que subvertem a imagem ingênua do início de suas carreiras.

O trio esteve junto no Criança Esperança, em agosto, onde Angélica apresentou seu hit “Vou de Táxi” ladeada de bailarinos vestidos de taxistas. “Foi um exemplo legal para as meninas que cresceram com a gente. Mostramos que não podemos deixar nos jogarem umas contra as outras”, afirma.

Dias antes do Criança Esperança, Mara Maravilha, outra ex-apresentadora infantil, afirmou que se sentia excluída do trio das loiras. “Não preciso [fazer parte do grupo], porque respeito a etnia, a diferença social. Se você está em uma escola com um monte de loirinhas e é rejeitada, isso não é racismo?”

“Foi um entendimento errado. Não tenho nada contra Mara, e as meninas também não”, diz Angélica. “A gente faz parte de uma mesma geração. Mas, neste momento, nós três temos uma relação. Não tem como a gente forçar a barra e colocar uma quarta pessoa, porque não seria de verdade.”

A apresentadora esteve na crista da onda que levou meninas ao comando de programas infantis nas décadas de 1980 e 1990, motivo pelo qual ela se recorda de se policiar sobre tudo o que dizia e fazia. Resquícios dessa autocensura perduraram.

Exemplo disso, diz Angélica, é que ela nunca quis falar sobre política. Isso até as eleições do ano passado, quando declarou apoio ao presidente Lula, do PT, à época adversário de Jair Bolsonaro, do PL.

“Nunca tinha falado de voto. Fui treinada, por mim mesma, para não expor o que poderia impactar e influenciar demais as pessoas. Mas naquele momento me senti segura porque tinha certeza de que, para mim, era o melhor a ser feito. As pessoas estavam esperando que eu me posicionasse”, diz.

Geninho Simonetti, diretor do programa “Estrelas”, comandado por Angélica entre 2006 e 2018, diz que parte da consciência política e social dela pode ter sido fortalecida durante a temporada final do programa. O “Estrelas Solidárias”, exibido a partir de 2017, levou a apresentadora a ONGs do país todo.

Foi também quando a carreira perdeu espaço em sua agenda. Desde que sofreu um acidente de avião com o marido, o apresentador Luciano Huck, e os filhos, em 2015, ela passou a ter crises de pânico com frequência. O jeito, ela conta, foi frear os trabalhos para priorizar a família e a saúde mental.

No “50 & Tanto”, Angélica afirma ter encontrado um jeito de mesclar trabalho e família —o que gerou um desafio para Isabel Silva, a diretora do programa, que diz ter achado difícil criar um ambiente profissional no meio da casa da apresentadora.

Angélica saiu da Globo em 2020, após 24 anos, numa decisão que ela diz ter sido tomada em conjunto com a emissora, para quem trabalha em projetos pontuas e garante ter portas abertas. “Diziam ‘Angélica está na geladeira, Angélica brigou, Angélica foi demitida’. Mas a Globo não tinha nenhum programa que me fizesse crescer os olhos. Eu também não tinha nada para apresentar a eles. A gente estava em um casamento morno”, conta.

Olhar para o passado parece ter um sabor agridoce para Angélica. Ela é saudosista e reverencia a própria trajetória, mas sente que poderia ter desfrutado ainda mais de sua vida. “Eu estava tão excitada, trabalhando tanto, sendo tão nova, que não aproveitei a fama. Mas, se pudesse fazer tudo de novo, faria exatamente igual.”

50 & TANTO

Quando Neste domingo, dia 26, no Globoplay; toda quinta-feira, às 22h15, no GNT, a partir de 30/11

Autoria Chico Felitti

Elenco Angélica, Anitta e Sandy

Produção Brasil, 2023

Direção Isabel Silva

GUILHERME LUIS / Folhapress

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