Primeira mesa de quinta na Flip tem mediação tortuosa e debate que não decola

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O primeiro debate da Flip nesta quinta-feira (23) foi marcado por uma tenda esvaziada, com cerca de cem pessoas, e uma conversa com dificuldade de decolar, diante de perguntas confusas da mediadora.

O encontro reuniu a crítica cultural Flora Süssekind e a dramaturga francesa Marion Aubert, com mediação da professora da Universidade de Berkeley Natalia Brizuela.

Aubert chegou a comentar pelo menos duas vezes não ter certeza de que entendeu os questionamentos.

“Marion, queria continuar um pouquinho com o que você falou, pedindo para você falar nesse eu, que nunca é só um eu, são muitas vozes na verdade, muitos eus”, iniciou Brizuela em certo momento.

“No teatro, o texto teatral tem a singularidade de estar lá para de corporalizar, para cobrar um corpo, para entrar num corpo, para ter uma voz, ou muitas na verdade, porque a encenação não é feita só para uma voz. Essa questão das múltiplas vozes, múltiplos corpos que transformam o texto teatral… O que você pensa?”

A mediação foi marcada por diversas perguntas com o mesmo perfil, com discursos abstratos, pouco claros e que ou terminaram em perguntas triviais ou num pedido para que as convidadas comentassem.

Em anos anteriores, a Flip já chegou a divulgar em seu site um decálogo de dicas para uma boa mediação, escrito pelo jornalista Ángel Gurría-Quintana, tido como um dos melhores entrevistadores da festa literária. Entre os conselhos, estão o de ser breve e saber a hora de parar.

A conversa ensaiou esquentar no momento de perguntas do público, quando alguém enviou um questionamento sobre o espaço da crítica no debate público brasileiro —o que mereceu um comentário contundente de Süssekind, uma das principais críticas em atividade no país.

“Estamos vivendo uma cultura em que as pessoas [os artistas] se contentam em ser celebridades toscas”, afirmou ela, que lança no evento o livro “Coros, Contrários, Massa”, pela Cepe Editora.

“Não é só a crítica teatral. Só lemos ‘releases’ toscos que as pessoas recebem das editoras. É como se bastasse para as pessoas dizerem que sua peça é maravilhosa no Instagram”, afirmou ela, que dá aulas de teoria do teatro. “Os próprios alunos se contentam com o comentário de qualquer um.”

Desde o ano passado, a Flip acontece nesta época do ano —antes da pandemia, o evento acontecia em julho.

A mudança de data tem feito o evento ser marcado pelo calor. Na tenda principal, onde os ingressos custam R$ 130, o ar condicionado não parecia dar conta da temperatura, mesmo com o espaço longe da lotação. O público assistiu boa parte da conversa entre Süssekind e Aubert se abanando com leques.

MAURÍCIO MEIRELES / Folhapress

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