Ao lado da Cracolândia, Santa Ifigênia vive Black Friday parada

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na região da Santa Ifigênia, conhecido polo da capital paulista de venda de eletrônicos, os descontos da Black Friday não levaram aglomerações de consumidores, como se vê em outros lugares do país e do mundo. À venda no endereço, computadores e smartphones estão entre os itens mais procurados da Black Friday.

O movimento de compradores nos entornos da rua homônima tem diminuído desde que o fluxo de dependentes químicos da Cracolândia ocupa endereços próximos. Representante dos lojistas locais, a União Santa Ifigênia diz que a queda nas vendas fica na casa dos 60%.

Atualmente, os usuários se concentram na rua dos Protestantes, uma das vias paralelas à rua Santa Ifigênia, a três quadras.

Poucos lojistas, sobretudo nos maiores estabelecimentos, tentaram promover descontos nesta sexta-feira (24) de Black Friday.

A loja de produtos de informática usados Transformer anunciava descontos de até 50% para a data, o que não bastou para atrair clientes. Quando a reportagem entrou no local, que fica em uma das travessas da Santa Ifigênia, não havia nenhum comprador.

O vendedor Lucas Miranda afirma que a situação é essa durante todo o ano. A presença dos dependentes químicos teria afastado os clientes.

A Transformer consegue manter receitas investindo no ecommerce, segundo Miranda. “Estamos em todos os grandes: Amazon, Magazine Luiza, Casas Bahia etc. Na internet, também conseguimos vender mais barato, por não precisar gastar com o ponto físico.”

Miranda afirma que o aluguel da loja na rua Aurora, uma das travessas da Santa Ifigênia, custa cerca de R$ 30 mil mensais. “A única queda de gasto que tivemos foi uma isenção no IPTU de um depósito aqui na região.” Ele se refere à lei municipal sancionada em outubro, que beneficia endereços nos entornos da Cracolândia.

Pesquisa da Associação Comercial de São Paulo, conduzida em parceria com o Instituto Gastão Vidigal, aponta que os paulistanos preferem comprar em grandes redes de varejo (58,2%) e de forma remota (57,5%).

O vendedor Eduardo Ferreira, da loja de produtos de segurança Tallis Soluções, afirma que as vendas do “movimento de rua” morreram. Segundo Ferreira, o estabelecimento mantém-se procurado em função do ramo de atuação e por já ter uma vasta carteira de clientes.

Do lado dos compradores, o coordenador de T.I. Daniel Custódio afirma que continua a frequentar a região da Santa Ifigênia pela proximidade do trabalho e pelo hábito. “Nem lembrei da Black Friday, mas já tenho os fornecedores que confio aqui na região.”

Nos quiosques, é como se a data não existisse. Um dos poucos com decoração da Black Friday, o Cris Eletrônicos, que vende acessórios e peças para computador e smartphone, vai oferecer descontos apenas no sábado. “É quando o movimento é maior”, diz o vendedor Maycon Ferreira.

Ferreira afirma que, durante o dia, o policiamento garante tranquilidade nos entornos da rua Santa Ifigênia, o que viabiliza o funcionamento do comércio.

A reportagem viu uma viatura da Polícia Militar em uma das travessas da via principal.

Exceção no cenário da Santa Ifigênia, uma pessoa fantasiada de homem-aranha convidava os pedestres a conhecer a loja de informática InPower, uma das maiores da região. Esse comércio vende eletrônicos em geral: das últimas tendências de computadores gamers a panelas elétricas.

A sede da Santa Ifigênia, porém, tem foco claro nos aficionados em videogames. O espaço conta com ambientes para testes de jogos, mostruário de simuladores e até um “quarto-gamer.” O cliente que procura o endereço presencial busca a experiência, segundo o gerente do estabelecimento, Richard Fonseca.

“O diferencial desse endereço é o showroom, o cliente pode experimentar o produto antes da compra”, diz Fonseca. A empresa também aposta no ecommerce como principal fonte de vendas. Ele diz que, no presencial e no online, os preços ficam na mesma faixa.

De acordo com o dono da InPower e presidente da União Santa Igiênia, Fábio Zorzo, a Black Friday no comércio de rua ainda está em processo de amadurecimento. “O consumidor aqui não tem o hábito de procurar ofertas na rua. A gente precisa comunicar isso melhor.”

No Brasil, a realização da data promocional começou em 2010 por iniciativas dos principais ecommerces atuantes no país.

Procurada por email e telefone, a Secretaria de Segurança Pública não respondeu ao pedido de informação da reportagem. Em setembro, a pasta havia afirmado à Folha, que ampliou o policiamento e monitora a movimentação dos usuários para garantir a segurança de moradores, comerciantes e de quem frequenta a região. Segundo a pasta, roubos e furtos na área apresentavam a 20ª semana consecutiva de queda em 16 de setembro.

A prefeitura, por sua vez, disse que articula ações de segurança com o governo estadual, de Tarcísio de Freitas (Republicanos), e que intensificou o patrulhamento da GCM (Guarda Civil Metropolitana), que conta hoje com 1.600 agentes na região.

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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