Bolsa cai sob pressão de varejo e com veto a desoneração no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira recuou 0,83% nesta sexta-feira (24), aos 125.517 pontos, puxada por ações do setor de varejo, que registram as maiores baixas da sessão, e pela baixa liquidez por conta do feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.

Os papéis da Magazine Luiza e do Grupo Casas Bahia caíram 8,76% e 8,62%, respectivamente, liderando as perdas do pregão, em plena Black Friday. Projeções de queda nas vendas da data neste ano pressionaram os papéis do setor, fazendo o índice que reúne companhias de consumo do Ibovespa recuar 1,37%.

A Petrobras também foi um dos destaques do dia, registrando uma sessão volátil após a apresentação de seu novo plano de investimentos. A petroleira começou o dia caindo e passou a alternar entre perdas e ganhos, mas garantiu alta de 0,25% na sessão.

Apesar da queda desta sexta, o Ibovespa acumula alta de 0,59%.

Investidores acompanham, ainda, discussões sobre a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia.

Na quinta (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou na íntegra a prorrogação da desoneração, numa vitória do ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Já nesta manhã, Haddad anunciou que o governo apresentará até o fim deste ano uma proposta para substituir a desoneração.

A expectativa, no entanto, é que o Congresso derrube o veto do presidente. Empresários também criticaram a desoneração, dizendo temer pelo aumento do desemprego.

Economistas, contudo, elogiam a decisão do presidente em razão do impacto do benefício fiscal para as contas públicas.

Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o veto era esperado, dada a sua inconstitucionalidade. “O que o mercado está observando é a reação do Congresso a esse veto. A situação fiscal do nosso país é muito frágil, qualquer concessão de benefícios tem que ser estudada de uma maneira muito cautelosa porque os custos podem ser muito elevados.”

Segundo ela, um aumento de gastos pode gerar desvalorização cambial e aumento da inflação, impactando o atual ciclo de cortes na Selic.

“A literatura econômica ao longo dos anos aponta um impacto limitado na empregabilidade vis-a-vis um elevado custo fiscal. É importante que isso seja avaliado não só no contexto de impacto fiscal, que já é grande, mas também num contexto mais amplo de equilíbrio macroeconômico”, diz Natalie.

A analista Bruna Sene, da Nova Futura Investimento, diz que as discussões sobre a desoneração da folha não impactaram as negociações na Bolsa brasileira. Isso porque, apesar de o veto ser positivo do ponto de vista fiscal, a expectativa de uma possível derrubada da medida no Congresso e ruídos políticos entre Executivo e Legislativo podem atrasar as pautas do governo.

Para a analista, a queda do Ibovespa nesta sexta decorreu principalmente de um movimento de realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem ações que se valorizaram rapidamente para efetivar os ganhos com os papéis.

“O Ibovespa vem numa escalada de alta muito forte, é esperada uma realização, ainda mais se aproximando o fim do mês. Essa puxada foi por entrada de capital estrangeiro. Hoje, com menor volume, esse movimento de queda é principalmente de realização”.

Em novembro, o índice acumula alta de 11,87% e atingiu seu maior nível em dois anos, impulsionado principalmente pelas apostas de que a alta de juros nos Estados Unidos chegou ao fim, após dados positivos de inflação no país.

Além do setor de varejo, ações da Vale e do Itaú também caíram e pressionaram o Ibovespa, figurando entre as mais negociadas da sessão com recuos de 0,84% e 0,55%, respectivamente.

No câmbio, o dólar caiu 0,17% e terminou o dia cotado a R$ 4,897, passando mais uma vez por uma sessão de liquidez reduzida por conta do feriado nos EUA. A moeda americana acumula queda de 0,15%.

O movimento no Brasil ocorreu em linha com o exterior: o índice que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes caiu 0,52%.

MARCELO AZEVEDO E JÚLIA MOURA / Folhapress

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