PF apura agressão a jornalista canadense que filmava ação indígena em MS

CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal em Mato Grosso do Sul investiga relatos de agressão por homens armados e encapuzados em fazendas em Iguatemi (412 km de Campo Grande) em meio a mobilização dos indígenas guarani-kaiowá na quarta-feira (22).

Uma equipe de documentaristas, que inclui um fotojornalista canadense, foi alvo de chutes e socos e teve o equipamento de filmagem roubado. Ninguém foi preso.

Segundo o boletim de ocorrência, o fotojornalista canadense Renaud Philippe, a cineasta e antropóloga Ana Carolina Mira Porto, mulher dele, e o engenheiro florestal Renato Farac Galata foram agredidos no entroncamento da rodovia MS-295.

Phillippe, segundo o registro policial, foi o principal alvo e, além das agressões, teve parte do cabelo cortado a faca.

Galata é integrante do PCO (Partido da Causa Operária), baseado em Dourados, e estava acompanhando o casal que faz documentário sobre as ações dos guarani-kaiowá pela posse de terras.

Os três estavam no município de Caarapó quando foram avisados de tentativa de ocupação na cidade vizinha, Iguatemi, nas fazendas Maringá, Cachoeira e Santa Rita.

A área reivindicada tem 41 mil hectares e é denominada pelos indígenas de Pyelito Kuê. Os guarani-kaiowá moram em uma aldeia próxima, de 90 hectares, e já tentaram outras vezes entrar na área, sem sucesso.

Antes de chegar ao local, a equipe foi parada por homens, que, segundo Renato Galata, seriam seguranças e fazendeiros que fecharam a rodovia com cerca de 30 caminhonetes.

Na sequência, de acordo com relato do engenheiro, novamente foram interceptados por homens em uma caminhonete.

Pouco depois, diz o engenheiro, mais homens chegaram e havia “umas 50 pessoas gritando”. “Uns vieram para cima da gente, nervosos”, diz.

A situação saiu de vez do controle quando descobriram que Philippe era canadense, segundo Galata. O fotojornalista foi jogado no chão e agredido. Na tentativa de ajudá-lo, os outros também acabaram sendo feridos.

Galata diz que foi ameaçado por outro segurança, armado com faca, que ordenou que ele se afastasse.

Depois das agressões, que acabaram depois que alguns integrantes do grupo pediram calma, os encapuzados, segundo o engenheiro, começaram a saquear o veículo, levando equipamentos e documentos.

O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública foram acionados. A reportagem tentou contato com os proprietários das fazendas, mas nem o Sindicato Rural de Iguatemi nem a PF informaram os nomes deles.

Philippe disse que há dois anos ele e a cineasta trabalham em projeto independente sobre a situação dos indígenas.

“Nossa intenção é continuar. É triste que seja necessário que um homem branco seja espancado para que a história dos guarani-kaiowá seja ouvida”, afirmou à reportagem.

Segundo o coordenador do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Matias Rempel, o que aconteceu ao grupo é situação recorrente para os indígenas na região.

O nome da etnia guarani-kaiowá ganhou destaque mundial quando uma carta aberta de indígenas sobre a situação foi divulgada em 2012, em uma aldeia no estado.

SILVIA FRIAS / Folhapress

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