SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Chegará ao fim, após mais de uma década e meia, o reinado do grupo encabeçado por Andrés Sanchez, à frente do Corinthians desde outubro de 2007. Candidato da situação, André Luiz de Oliveira, conhecido como André Negão, perdeu neste sábado (25) a disputa presencial para Augusto Melo, único oposicionista no pleito.
Melo, 59, soube aproveitar o desgaste da chapa “Renovação e Transparência”, como se apresentou a turma de Andrés há 16 anos.
O mote já não parecia apropriado a um agrupamento político que apostava no continuísmo e era criticado pela falta de transparência. O ciclo acabou no mandato de Duilio Monteiro Alves, que deixará sua cadeira, em 4 de janeiro, como o primeiro presidente alvinegro sem um título no futebol profissional masculino desde Roberto Pasqua (1985-1987).
O argumento de que ele trabalhou para melhorar a situação financeira da agremiação – amparada no anúncio, às vésperas da eleição, de um acordo preliminar para quitar a dívida com a Caixa Econômica Federal pela construção do estádio de Itaquera- não foi suficiente.
Nem para a Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians, antes extremamente simpática a Andrés. A uniformizada, que se orgulha de ter nascido para lutar contra a ditadura no clube e no Brasil, manifestou apoio a Augusto Melo -admirador de Ernesto Geisel, um dos presidentes da República durante o regime militar.
O sábado foi de manifestações na porta do clube, onde se concentraram torcedores organizados, sob forte vigilância policial. Os gritos não eram de apoio a Melo -que foi votar com um colete à prova de balas, repetindo que tem recebido ameaças-, mas ataques a Andrés e a André.
“Tem hora em que eu fico pensando: ‘P… que pariu, esse Augusto podia ganhar mesmo, já tirava o meu da reta, e ninguém ia falar que eu mando no Corinthians”, disse Andrés, em março.
Era mais uma bravata de Sanchez, que se empenhou na campanha de André Negão e deixou claro que seria seu diretor de futebol. Os dias que antecederam o pleito foram de intenso boca a boca no Parque São Jorge, com jantares com grupos de associados e presença constante na sede social.
A cartada final foi a divulgação do acerto com a Caixa para o pagamento do estádio, cuja construção foi uma das bandeiras da “Renovação e Transparência”. Houve também numerosos e importantes títulos: cinco do Campeonato Paulista, três do Campeonato Brasileiro, um da Copa Libertadores, um da Recopa Sul-Americana e um do Mundial.
Desta vez, esses troféus não definiram a eleição. Os sócios deram larva vantagem a Augusto Melo sobre André Negão. Agora, Melo terá três anos para mostrar que tem renovação e transparência a oferecer, ainda que já tenha feito parte da “Renovação e Transparência”.
Empresário do setor têxtil, ele teve cargo nas categorias de base no mandato de Roberto de Andrade (2015-2017), com uma série de denúncias de corrupção em sua área. Também tem um histórico considerado problemático no União Barbarense, clube do interior paulista no qual atuou como dirigente -e foi acusado de atuar como empresário de atletas, o que nega.
Há ainda uma condenação por crime contra a ordem tributária, que foi vista por membros da situação como uma oportunidade para impugnar sua candidatura. Mas a candidatura foi aprovada na comissão eleitoral e venceu.
Agora, Augusto Melo tem nas mãos um clube com 12 mil sócios, quase 40 milhões de torcedores e uma dívida estimada em torno de R$ 900 milhões. O empresário -que em 2020 apostava na inauguração de uma roda-gigante no Parque São Jorge e perdeu para Duilio por 142 votos- joga suas fichas no estádio de Itaquera, a Neo Química Arena. Está entre suas propostas ampliar a capacidade das arquibancadas e atrair grandes shows, com administração terceirizada.
O futebol deverá ter o executivo Rodrigo Caetano. Espera-se uma espécie de expurgo dos mais velhos do elenco -que, na véspera da eleição, levou 5 a 1 do Bahia em casa-, mas a ideia é manter o técnico Mano Menezes, que tem contrato até dezembro de 2025.
Acabou, ao menos por ora, a era Andrés, que concedeu entrevista à Folha em julho e apostou: “É a vez do André”.
Não era.
A Fiel agora observa como será a vez do Augusto.
MARCOS GUEDES / Folhapress