Gerações futuras não têm palavra final sobre música, afirma crítico musical

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Teve clima descontraído a conversa com o crítico musical e escritor Kelefa Sanneh na tarde deste sábado, dia 25, na Flip. Em entrevista à jornalista Adriana Couto, o autor do livro “Na Trilha do Pop” Ele disse isso em resposta a um questionamento da mediadora sobre a relação entre qualidade música e popularidade –e a crença, entre algumas pessoas, de que as duas esferas estejam em campos opostos.

“Em algumas comunidades, como o punk, há um medo da popularidade. No fim, essa é uma discussão sobre gosto”, afirmou, acrescentando que discorda de quem diz que só o futuro pode provar o que de fato é bom ou não em termos musicais.

“Por que achamos que as pessoas do futuro terão um olhar melhor sobre a música hoje? Quem liga para a posteridade? Não gosto da ideia de deixar para as futuras gerações decidirem o que é melhor entre nossas músicas favoritas. Elas não têm direito à última palavra.”

Mais cedo, ao discutir o hip hop contemporâneo, o crítico reclamou que todas as conversas sobre o gênero costumam ter um olhar negativo –e disse que as pessoas têm dificuldade de reconhecer uma era de ouro musical enquanto estão no meio dela.

“Quando olhamos para trás [para os 50 anos de hip hop], é difícil não ficar impressionado. Temos sorte de viver este momento. Imagino uma criança no futuro dizendo: ‘Sério que a poesia era tão popular naquela época?'”

O crítico ainda destacou o fato de o hip hop ser mais do que um gênero musical e ter virado uma cultura mais ampla associada à juventude negra das grandes cidades. Essa cultura, segundo ele, é o que permite que artistas muito distintos possam ter sua filiação ao gênero reconhecida.

“Dá para pensar em nomes como Travis Scott, que quase não faz rap, mas é reconhecido como hip hop”, disse.

Para ele, outro fato interessante na história do gênero é o fato de ele não ter perdido sua conexão com as comunidades negras ou ter sido apropriado pelos brancos.

“O primeiro hit do hip hop foi ‘Rapture’, da Blondie. O rock, no começo, era visto como um gênero negro e depois vira um gênero branco. No caso do hip hop, as pessoas pensavam que ele ia seguir a mesma trajetória. O mais interessante é que isso nunca aconteceu em 50 anos.”

Sanneh e a mediadora também discutiram como os gêneros da música ajudam o público a estabelecer identidades culturais.

“Você falou em como a música cria conexões, mas estou interessado no contrário, em como ela cria desconexões. Algumas vezes, a graça da música é nos separar. Poder dizer que não queremos ser parte de um grupo. Não teríamos tantos gêneros diferentes se não fosse esse nosso desejo de separação.”

Perto do final, Sanneh, vestido de verde e amarelo, ainda foi questionado sobre seus conhecimentos de música brasileira por alguém do público. Ele lembrou um dia, nos anos 1990, quando teve acesso a uma fita cassete de funk carioca.

“Aquilo explodiu minha mente”, afirmou ele, acrescentando que ouve Kevin o Chris, Livinho e Anitta. “Ela não estourou nos EUA, mas acredito que tenha levado mais gente para a música brasileira.”

MAURÍCIO MEIRELES / Folhapress

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