SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Não me chame de polêmica, me chame de autêntica”, diz Mara Maravilha quando a entrevista está para começar. Cansada de ver seu seu nome vinculado a controvérsias, ela pede para não falar dos espinhos que atravessam sua vida.
Mara virou notícia nos últimos meses por criticar a amizade de Xuxa, Angélica e Eliana, apresentadoras de programas infantis da sua época que hoje têm uma camaradagem nos bastidores e em frente às câmeras, como se viu no Criança Esperança, em agosto, e no novo programa de Angélica. Mara disse ter sido apagada da história, mencionou preconceito racial, e afirmou que era rejeitada por ser morena, não loira.
“Não preciso [fazer parte do grupo] porque respeito a etnia, a diferença social. Se você está em uma escola com um monte de loirinhas e é rejeitada, isso não é racismo?”, disse ela, em julho, a um programa do SBT. “Também já tive eventos com milhões de pessoas, mesmo sendo morena. E se fosse preta? Resumindo, nunca pedi para fazer parte de grupo.”
Agora Mara faz parecer que são águas passadas. Se nega a explicar seus comentários sobre as apresentadoras e afirma que só quer ficar de bem com a vida, cuidar de si mesma e curtir a companhia do filho de cinco anos.
“Sempre que toco nesse assunto reverbera de uma forma que não é legal. Não sei por quê. Espero que um dia você entreviste uma delas e pergunte”, diz.
Não seja por isso. Naquela mesma semana, este repórter conversou com Eliana e Angélica, e ambas garantiram não ter nada contra Mara. “Neste momento, nós três temos uma relação. Não tem como a gente forçar a barra e colocar uma quarta pessoa, não seria de verdade”, afirmou Angélica. “Diria para ela não se incomodar, não entrar nessa pilha”, disse Eliana.
Antes de mudar de assunto, Mara diz ouvir de muita gente nas ruas que foi a melhor apresentadora infantil. “É muito contraditório o que a mídia pontua e a realidade que vivo. Então, ponto, eu sou Mara Maravilha. Fulana, beltrana, sicrana, cada uma fica no seu quadrado.”
Demitida pelo SBT em janeiro, Mara está curtindo o descanso, mas quer voltar aos holofotes. É o que ela conta da sua cobertura de dois andares num prédio em Alphaville, bairro nobre de Barueri, em São Paulo.
“A vida não é mil maravilhas”, diz. “Ter fama não é fácil. Ser famosa não é para qualquer um. Mas era para ter sido, não importa se eu morasse no Oriente Médio ou na China. Tenho fã com 16 e 15 anos. São fases, né? Da época do programa infantil, depois os anos 1990, a fase gospel, a fase de reality.”
É difícil resumir a carreira de Mara, iniciada há quatro décadas. Seu auge ocorreu nos anos 1980, quando a baiana foi descoberta por Silvio Santos e levada ao SBT. Na emissora, ela apresentou programas como TV Powww!, em 1984, e o bem-sucedido Show Maravilha, para o público infantil, de 1987.
Gravou discos de sucesso e viu seu nome virar marca de brinquedos. Em 1994, Mara deixou o SBT para apresentar um programa infantil na Argentina, o “Show Mara Maravilha”, fronteira cruzada apenas por Xuxa àquela época.
No ano seguinte, em 1995, Mara contou aos fãs que havia se tornado evangélica. Dois anos depois, quando estava à frente de um programa infantil na TV Record, a artista resolveu se dedicar somente à música gospel.
“Não fui eu que decidi me converter, foi Deus. Muitos são chamados, poucos são escolhidos. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”, afirma.
Sete anos antes de virar evangélica, em 1990, Mara posou nua para a revista Playboy. É uma passagem da sua carreira que ela rejeita hoje em dia, pedindo que o assunto não seja pontuado ao ouvir o nome da revista.
Apesar de agora evitar polêmicas, Mara admite que elas permeiam sua carreira. Não à toa, em 2016, aceitou ser apresentadora do programa Fofocalizando, que exibe bafafás das celebridades com um toque de deboche.
“Fiz parte da época áurea do Fofocalizando. Quando dava audiência. Mas fazer o programa foi uma experiência dolorosa”, diz. Mara deixou a atração em 2018, após ter rusgas com outros apresentadores, voltou no ano seguinte e saiu de novo em 2020.
Desde então, ficou trabalhando como jurada no Jogo dos Pontinhos, do Programa Silvio Santos, entre 2017 e o início de 2023.
Em 2015, Mara desapontou a comunidade evangélica ao entrar no reality A Fazenda, da TV Record. Diz ter ficado abalada com as críticas, mas que entrou com a intenção de pregar para quem estivesse lá dentro. Não foi o que aconteceu.
Ela voltaria a participar do reality. “É contraditório eu querer louvar e dizer que retornaria para A Fazenda? Sim, sou ser humano. Gosto de tudo que já vivi na minha vida, até das coisas que me arrependo.”
Mara também já foi acusada de homofobia. Em 2013, no programa Morning Show, da RedeTV!, a cantora afirmou conhecer gays que desejavam “ser curados” e que abominava casais homossexuais que se beijam em público. “Tem muitas pessoas que não concordam com essa aberração. Não acho bonito homem e mulher se atracando em público. Imagina dois homens e duas mulheres?”
Ela rejeita as acusações. “Não gosto de pessoas fazendo atos íntimos em público. Nem bicho. Mas estou longe de ser homofóbica. Independente da escolha da pessoa, não negocio caráter. Eu convivo normalmente [com gays]. Muitos deles ficam aqui [em casa], dormem aqui. Não tenho que me defender porque não sou criminosa.”
A controversa Mara Maravilha pretende voltar à TV no ano que vem com um programa gospel. Até lá, vai se dedicar ao seu podcast “Podmara” e cuidar da saúde.
“Gosto de trabalhar. Tenho familiaridade com a audiência, sou da família da audiência”, afirma. “Quero muito que uma porta se abra para mim. Quem sabe depois dessa entrevista?”
GUILHERME LUIS / Folhapress