SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Hospital Sírio-Libanês inaugura nesta terça (28) a sua faculdade de ciências da saúde com um modelo inovador de currículo que prioriza um conjunto de conhecimento e não disciplinas isoladas, laboratórios com tecnologia de ponta e aulas práticas em comunidades com diferentes contextos sociais.
Com investimentos de R$ 60 milhões, a faculdade vai oferecer cursos nas áreas de enfermagem (mensalidades de R$ 2.460), fisioterapia (R$ 2.270) e psicologia (R$ 3.995), cada um com 50 vagas iniciais. As aulas começam no final de fevereiro de 2024.
A instituição planeja oferecer futuramente curso de medicina, mas não há prazo previsto. Uma portaria do Ministério da Educação restringiu a criação de cursos de medicina no país e levou ao cancelamento de mais de 60 avaliações de cursos na área que estavam em andamento.
Um quinto das vagas dos três cursos de graduação do Sírio está destinado a jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Entre os critérios de seleção estão renda familiar até dois salários mínimos e sempre ter estudado em escola pública ou com bolsa integral em alguma privada.
Metade (10%) das bolsas sociais é bancada pela faculdade e a outra metade por meio de um fundo de bolsas com captação de recursos de doadores.
“Às vezes, só a bolsa de estudo não resolve. Ele precisa ser amparado com alimentação, transporte”, diz Denise Jafet, presidente da Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês, um outro fundo de bolsas será criado com o objetivo de ajudar esses alunos a continuarem estudando.
Instalada em um prédio de 11 andares na Bela Vista, na região da avenida Paulista, em São Paulo, a faculdade tem 14 salas de aula, nove laboratórios, 11 salas para atividades em grupo e uma biblioteca que abriga um acervo inteiramente digital com mais de 10,5 mil títulos. No local, há uma área em que os alunos poderão estudar o corpo humano por meio da realidade virtual.
De acordo com Paulo Nigro, CEO do Hospital Sírio-Libanês, toda a estrutura foi planejada para ofertar uma série de cursos de graduação na área da saúde a médio e longo prazo. Em cinco anos, a previsão que 5.000 alunos estejam circulando pelo local.
“Temos um projeto de expansão. Ensino é uma das nossas verticais de negócios que, agora, a graduação vem reforçar.” O Sírio já oferece cursos de pós-graduação, residência médica, mestrado e doutorado há mais de duas décadas em seu centro de ensino e pesquisa.
Fernando Ganem, diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, diz que uma das metas dos cursos de graduação é a formação de profissionais mais bem preparados para o mercado de trabalho. “A gente não cria uma faculdade para formar profissionais para o Sírio, mas para melhorar a saúde do país. Profissionais que sejam tecnicamente competentes mas socialmente comprometidos com uma vida plena e justa.”
Os alunos terão aulas práticas tanto no Sírio quanto em outros serviços públicos que são geridos pela instituição, como o Hospital Geral do Grajaú (zona sul) e o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na região central da capital.
“Levar os alunos para as comunidades para que, com suas práticas, mudem indicadores de saúde, faz parte de todo o projeto pedagógico”, diz Ganem.
Segundo Luiz Reis, diretor de pesquisas do Sírio, o modelo da faculdade foge do padrão tradicional de ensino em que o docente é o detentor do conhecimento e o aluno um mero ouvinte. “O papel do docente hoje é muito mais ajudar o aluno a aprender do que ensinar. O aluno passa menos tempo em sala de aula e mais tempo praticando para que melhore o conhecimento.”
O currículo, explica Reis, é integrado e orientado por competências, e não por disciplinas. Por exemplo: em vez de estudar o sistema muscoesquelético, o aluno vai aprender sobre o movimento.
“Para que o movimento aconteça eu preciso da junção de três funções: que o osso, os ligamentos e o músculo funcionem. O aluno estuda isso de forma integrada. Tanto em situações normais como em situação críticas, como um trauma de medula”, diz.
Desde o primeiro ano, os estudantes terão aulas em centros de simulação. Há um centro clínico hiperrealístico que simula, por exemplo, uma enfermaria real. É ali que os alunos vão aprender uma série de procedimentos, desde a aferição da pressão arterial até uma intubação ou punção lombar.
Esses espaços contam com bonecos-robôs que simulam sinais vitais, como respiração e batimentos cardíacos. A proposta é que o aluno seja capacitado para tomar decisões rápidas em situações emergenciais. “Eu posso programar o boneco para que, durante uma prática, ele tenha uma parada cardíaca”, afirma Reis.
Os centros de simulação são adaptáveis às necessidades de cada curso. Por exemplo, em uma aula sobre comunicação difícil, um aluno de psicologia poderá ser exposto a uma situação em que uma mãe desmaia ao saber que o filho tem um câncer avançado. No caso, mãe e filho representados por atores.
“É diferente de o aluno estar sentado e o professor dizendo: ‘em uma situação difícil, é importante que você faça isso ou aquilo’. Você traz o conceito para dentro da prática”, afirma Reis.
O estudante também terá a oportunidade de personalizar a sua jornada acadêmica com temas atuais. Entre eles, conhecimentos sobre cirurgia robótica, mindfullness e cuidados paliativos, que passam a fazer parte da grade curricular da graduação.
Assuntos que conversam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, como direitos reprodutivos, determinantes sociais e ambientais da saúde e da doença, violências e seus efeitos, entre outros, também estão na programação.
A faculdade conta ainda com um hub de carreiras por meio do qual o aluno receberá informações sobre oportunidades profissionais, cursos internacionais e ideias de novos negócios.
Para Paulo Nigro, o maior diferencial da faculdade é a possibilidade de fazer a interação entre um ensino de qualidade, que utiliza conceitos modernos e atualizados, com todo o arsenal de excelência e filantropia que a instituição Sírio-Libanês aporta.
“Nosso maior desafio é formar cidadão, além de um bom profissional. O nosso segundo desafio foi montar um projeto pedagógico que estimule o desenvolvimento do cidadão”, afirma Fernando Ganem.
CLÁUDIA COLLUCCI / Folhapress