Ação de PM que matou genro de Abdelmassih foi desqualificada e infeliz, diz ouvidor da polícia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ação de um policial militar de folga na tarde de domingo (26) que deixou três pessoas mortas no Morumbi, zona oeste de São Paulo, simboliza erros comuns cometidos por agentes de segurança, afirma o ouvidor da polícia paulista, Claudio Aparecido.

“É um caso bem emblemático da abordagem policial desqualificada. Em contraponto com toda a literatura internacional e nacional, que, ao contrário de proteger a vida, ela ceifa a vida”, disse ele à reportagem nesta terça (28).

Entre os mortos na ação do PM estava o empresário Denis Roberto Picolli Ramos, 53, genro do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por crimes sexuais contra pacientes.

O agente estava passando pela rua Américo Alves Pereira Filho, no Morumbi, quando viu três homens tentarem roubar a moto na qual estavam Ramos e sua mulher, filha de Abdelmassih. Ele então disparou contra o grupo, matando o empresário e dois dos suspeitos.

O policial foi autuado por homicídio culposo pela Polícia Civil, que confirmou ter partido dele o tiro que atingiu Ramos, e foi liberado.

“Essa é mais uma das incontáveis abordagens policiais que terminam com morte. Neste caso uma tragédia ainda maior, que envolvem três mortes e uma pessoa hospitalizada, porque o policial abordou de forma muito infeliz. Tão infeliz que ceifou a vida da vítima”, disse o ouvidor sobre o caso.

Aparecido disse que pediu para a Secretaria da Segurança Pública do estado e para o Ministério da Justiça uma discussão para melhorar as técnicas usadas em abordagens policiais. “Elas [pessoas suspeitas de crime] precisam ter suas vidas protegidas, para que possam responder por seus atos”.

A Ouvidoria afirmou ter aberto um procedimento sobre o caso e feito um pedido para o PM afastado e encaminhado para um serviço de saúde mental para cuidados preventivos.

O CRIME

Imagens de câmeras de segurança mostram quando Ramos chegou ao prédio onde mora, por volta das 16h40 de domingo. Ele estava em uma motocicleta BMW F 850 GS A, avaliada em cerca de R$ 80 mil, com Soraya Ghilardi Abdelmassih, 55, na garupa.

Três homens em duas motocicletas seguiam o casal. As vítimas pararam no primeiro portão do prédio, uma espécie de gaiola, e a motocicleta com dois suspeitos parou no mesmo espaço. O terceiro homem, que estava sozinho em outra motocicleta, ficou mais próximo da rua.

O policial militar de folga passava de moto pela via no momento do crime. Ele parou e, ainda em cima da motocicleta, atirou contra os suspeitos, que revidaram.

Uma outra câmera mostrou que já dentro do condomínio, um dos suspeitos se aproximou do casal, o que fez Ramos reagir com um chute. Na sequência, ele cai com a motocicleta.

Logo depois, outro dos suspeitos vai até o colega para ajudar e quando o portão eletrônico começa a fechar, os dois passam por baixo e voltam para a rua. É neste momento que o PM começa a atirar.

Ramos então se levanta, vai até um dos suspeitos, que havia voltado para a parte interna do portão, e o atinge duas vezes com seu capacete, quando o PM, de frente, faz novo disparo. O empresário então cai no chão.

A suspeita da polícia é que o PM achou que Ramos era um dos possíveis assaltantes, não a vítima.

O vídeo ainda mostra o policial indo até ao local no qual ele ficou caído.

Segundo o boletim de ocorrência, Ramos foi atingido por um tiro no peito. Ele foi levado por familiares ao Hospital São Luiz, no Morumbi, mas morreu ainda no caminho.

Os três suspeitos foram atingidos por disparos. Um morreu ainda no local, e os outros dois foram levados para o Hospital do Campo Limpo. Um deles morreu na unidade e o outro permanece internado.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que a arma do policial e um revólver calibre 38 que estava em posse do suspeito morto foram apreendidos e encaminhados para a perícia.

PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress

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